Tem vezes que um simples remaster conquista um espaço no nosso coração que ele sinceramente não teria o direito. Foi assim com o objeto desta análise Ninja Gaiden Master Collection. Desde que foi anunciada fez meu coração din-din-din-din-din-don-dom.
Acontece que eu gosto muito dessa série moderna de Ninja Gaiden. Você me conhece, eu adoro jogos de porradinha. E arrisco dizer que Ninja Gaiden tem o melhor combate do gênero. Ele é rápido, técnico e suas animações são absurdamente lindas. Nenhum dos três jogos é perfeito. Na real, todos têm problemas graves. Mas ainda assim, são muito divertidos e merecem ser acessíveis nos consoles modernos (minhas cópias da série estão todas no PS3, console isolado pela falta de retrocompatibilidade).
ANÁLISE NINJA GAIDEN MASTER COLLECTION
Tem dois jeitos de se fazer uma coletânea. O mais tradicional é o estilo seguido por Super Mario 3D All Stars: todos os jogos ficam dentro de um único programa, e há um menu para alternar entre eles. Mas eu também já vi de outro jeito: cada jogo sendo um programa independente, e você clica no que desejar jogar já pela dashboard do console. Ninja Gaiden Master Collection segue um caminho que para mim foi novidade.
Posso falar apenas da versão a que tive acesso – a de PS4, rodando no PS5. Aqui, todos os jogos ficam no mesmo ícone, da Ninja Gaiden Master Collection, e ele salva o último que você jogou. Para jogar os outros, você precisa ir em “versões”. Quem tem PS5 deve estar familiar com essa opção, que normalmente permite alternar entre as versões de PS4 e PS5 quando ambas estão disponíveis. Nesse caso, todas são de PS4, mas cada “versão” é um dos três jogos incluídos. Não é ruim, nem desnecessariamente trabalhoso, mas achei que valia a pena avisar aqui. Afinal, eu mesmo demorei um pouco para descobrir como fazer isso.
A coletânea inclui as versões finais de todos os jogos de PS3: Ninja Gaiden Sigma, Ninja Gaiden Sigma 2 e Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge. Ao contrário da maior parte dos jogos, esta versão Sigma não é o que normalmente chamamos de “definitiva”.
NINJA GAIDEN SIGMA
Quando Ninja Gaiden e Ninja Gaiden 2, originalmente exclusivos de Xbox e de Xbox 360, respectivamente, foram portados para o PS3, eles foram alterados. Há novos chefes, novas fases e novos personagens jogáveis. Porém, houve também conteúdo cortado, ajustes na dificuldade e, em especial, menos violência e inimigos na tela.
Então a verdade é que estes jogos não são unanimemente considerados as melhores versões dos jogos. Isso levou os fãs a reclamarem que as versões originais dos dois primeiros jogos não tenham sido incluídas aqui. Particularmente, se eu fosse escolher entre os originais e os Sigma, escolheria os Sigma. Mas é claro que uma coletânea realmente abrangente precisaria incluir todos para ser completa ou, quem sabe, juntar todo o conteúdo existente em uma única e definitiva versão.
E O RAZOR’S EDGE?
Este já é menos polêmico. Ninja Gaiden 3 foi muito mal recebido no lançamento. Ele tinha apenas uma arma, e tirou a mecânica de desmembramento que era tão marcante no segundo jogo. Parecia uma versão capada do que um Ninja Gaiden poderia e deveria ser.
Razor’s Edge veio para corrigir isso. Colocou os desmembramentos de volta, e acrescentou novas armas e colecionáveis. Ele também excluiu uma cena polêmica em que o “herói” assassina um soldado inimigo implorando por misericórdia. Ao contrário dos Sigma, acredito que qualquer pessoa consideraria Razor’s Edge a melhor versão de Ninja Gaiden 3. Dito isso, ainda é muito inferior e mais repetitivo do que os originais. Em especial, seus combates são longos demais (alguns com centenas de inimigos), se estendendo por muito mais tempo do que seria aceitável.
ANÁLISE NINJA GAIDEN MASTER COLLECTION NO PS5
Os Ninja Gaidens sempre tenderam a rodar a 60 fps. Curiosamente, esta coletânea, mesmo no PS5, não é totalmente travada nisso. É comum cair, especialmente quando você usa o golpe Flying Swallow e acerta vários inimigos de uma vez.
Aliás, devo dizer que os jogos me parecem rodar exatamente da mesma forma que rodavam no PS3. Outro problema comum é o jogo travar e aparecer a mensagem “loading” por alguns segundos. Isso acontece mesmo instalado no SSD do PS5. Essas são duas coisas comuns nas versões originais, mas eu não esperava que ainda acontecesse nessa coletânea.
Apesar disso, devo dizer que o jogo ainda é visualmente muito bonito. Muito disso se deve às animações precisas, mas a resolução é bem alta, e o visual envelheceu muito bem. Como vinho, aliás, pois devo dizer que eu acho Ninja Gaiden 2 mais bonito hoje do que quando escrevi minha resenha.
ANÁLISE NINJA GAIDEN MASTER COLLECTION: POR OUTRO LADO…
Curiosamente, algumas cutscenes (suponho que as que eram pré-renderizadas) estão horríveis. Embaçadas e em baixa resolução, elas destoam do visual cristalino do resto do jogo. E eu sinceramente não me lembro de elas ficarem em qualidade tão baixa lá no PS3. Se liga na imagem.
Isso é realmente uma pena.
JOGANDO NINJA GAIDEN SIGMA EM 2021
Para essa matéria, eu joguei extensivamente o Ninja Gaiden Sigma. E ele tem uma novidade que, pelo que minha pesquisa mostrou, tinha sido acrescentada na versão de PS VITA.
Apesar de ser mostrado como uma dificuldade, o Hero Mode altera as mecânicas. Em especial, quando você está perto de morrer, o personagem defende automaticamente por alguns minutos (o que é quase invencibilidade). Além disso, quando isso está ativo, você pode usar magias à vontade.
Sim, é uma trapaça. Mas eu não diria que ela deixa Ninja Gaiden Sigma trivial. O jogo continua difícil paca, e exige atenção. O Hero Mode é uma rede de segurança, um “modo desespero”, que permite spammar magias para vencer os chefes quando estiver de saco cheio deles. Particularmente, senti que jogar Ninja Gaiden Sigma neste modo tornou minha campanha mais agradável e menos frustrante. Porém, isso é totalmente opcional. É possível inclusive jogar no modo easy (chamado de Ninja Dog) sem ativar este modo (você precisa morrer três vezes para ter a opção de ativar o Ninja Dog).
O ÚNICO METROIDVANIA
Ninja Gaiden Sigma é um jogo bem especial, ainda mais hoje em dia. Ele segue o mesmo estilo dos Devil May Cry 1, 3 e 4. Ou seja, é um metroidvania, mas é também dividido em fases. Em outras palavras, há muito backtracking e você passa várias vezes pelo mesmo cenário (em especial pela área central de Tairon), mas cada capítulo termina quando você chega em determinado ponto do mundo aberto. É o único Ninja Gaiden que é dessa forma (o 2 e o 3 são jogos de ação lineares).
Além de ser extremamente difícil, ele tem provavelmente os inimigos mais agressivos e impiedosos dos games (muito mais, aliás, do que é comum nos soulsbornes). Mas o que o tornava tão frustrante era seus saves. Em especial, terminar uma fase não salva o jogo. Você precisa entrar na fase seguinte, e encontrar um save para parar de jogar. E sim, normalmente tem um save perto do começo, mas em alguns casos você precisa até passar por um grupo de inimigos. Acredito que a desenvolvedora poderia ter programado esta nova versão para que ele criasse um autosave na tela de conclusão de fase.
O fato de ser um metroidvania faz com que Ninja Gaiden Sigma seja o mais próximo de uma aventura que essa série já foi. Não basta andar para frente, você precisa conhecer a cidade, e lembrar o que bloqueava cada passagem para voltar lá quando pegar itens novos. Muitas vezes, uma chave pode exigir que você a use em uma área na qual passou mais de cinco capítulos antes, então é um jogo que exige não apenas habilidade (por ser difícil), mas também atenção, por ser complexo mesmo. Isso ficou bem mais leve nos jogos seguintes, que continuaram com um combate desafiador, mas pegaram mais leve na exploração. Qual você vai preferir, claro, depende só de você.
UM MESTRE NINJA QUE APANHA DE CACHORRINHOS
Seja como for, Ninja Gaiden Master Collection é uma coleção vital para quem gosta de jogos de ação. Temos aqui dois jogos fantásticos e um razoável, mas mesmo que você não jogue o terceiro, os dois primeiros são tão bons que já valem o investimento.