Katana Zero é muito mais do que parece. O que à primeira vista aparenta ser um jogo de ação sem grandes novidades se revela como uma história interativa cheia de surpresas e até um jogo que consegue fazer sua ação visceral funcionar como puzzles. Esta é nossa análise Katana Zero.
ANÁLISE KATANA ZERO
A ação de Katana Zero remete imediatamente a Ninja Gaiden do Nintendinho. Seu visual em pixel art lembra bastante o famoso Celeste, muito por causa de uma animação caprichada, digna de jogos em 3D. Jogá-lo, no entanto, é bastante diferente.
Cada fase é composta de uma boa quantidade de telas, e cada tela funciona quase como um puzzle. Você deve matar todos os inimigos antes de poder avançar, e tem várias habilidades para isso. Dá para atacar, defletir balas, dar cambalhotas… Rola até um bullet time.
O desafio é sacar qual é a melhor ordem para despachar os meliantes, e de qual forma. Quem tem arma ataca de longe. Quem não tem pode rechaçar seus ataques. Há também canhões, drones e outros desafios semelhantes. Uma típica cena de ação pode envolver cair em cima de um carinha com escudo, defletir uma bala, pegar uma garrafa e jogar em um sujeito com escopeta do outro lado da sala antes que ele atire.
Você precisa pensar bem no que fazer, e então executar com perfeição. Qualquer desvio de um plano perfeito pode causar sua morte.
HISTÓRIA INTERATIVA
Mas isso é só um dos pilares de Katana Zero. Metade do seu tempo com o jogo, você vai matar caboclos, mas na outra metade vai tomar decisões que, supostamente, afetam a história.
E a história é o tipo de piração que seria difícil de imaginar em um jogo que não fosse publicado pela Devolver Digital. É até difícil falar sobre ela, mas envolve uma droga que permite ver o futuro e parar o tempo, e os efeitos dela em quem a consumir.
O que torna Katana Zero especial são as suas surpresas. Ele se esforça bastante para criar uma rotina e dar uma sensação de segurança no jogador. E daí vira tudo de ponta-cabeça e faz algo totalmente inesperado.
Um exemplo sem spoilers? Tá bom. Tem uma fase em que cada tela termina com você entrando em um elevador. O elevador é seu ponto seguro. É quando rola checkpoint e uma pausa na ação. Mas daí, depois de vários andares, algo acontece no elevador. Algo inesperado e perigoso. Outro exemplo mais simples é quando o replay, tradicional momento não interativo, vira gameplay.
O mais legal é que, apesar de quão frequentes são estas surpresas, elas nunca falhavam em me surpreender.
GAMEPLAY SATISFATÓRIO
Completando os predicados de Katana Zero, temos quão satisfatório é seu gameplay. A combinação do visual, com sons, com os jatos de sangue pintando as paredes, deixa o ato de jogar muito divertido. A possibilidade de tentar de novo imediatamente ao morrer também contribui para diminuir a frustração de ter que fazer cada tela dezenas de vezes até dar certo.
Sim, Katana Zero é um jogo difícil, mas eu não o colocaria no campo dos jogos masoquistas que estão tão na moda ultimamente. Você precisa planejar e executar seus ataques perfeitamente, mas as telas são curtas e os checkpoints frequentes. O gameplay, além de satisfatório, é simples e intuitivo, tornando fácil de aprender.
Teve, sim, algumas telas em que eu fiquei um tanto de saco cheio, mas eu nunca me vi diante de um desafio que parecia insuperável, como o último chefe do Sekiro, por exemplo. E o jogo parecia mostrar uma novidade ou mudar de gênero (passando da ação para a história e vice-versa) sempre que ele começava a ficar repetitivo.
KATANA ZERO
Apesar do grande foco na história, admito que o final me decepcionou um pouco. Eu achei que ele ia acabar, daí ele continuou por mais um tempo. Então, quando me parecia que ainda tinha vários conflitos e mistérios a serem resolvidos, rolaram os créditos e um to be continued.
A Askiisoft tem motivos para confiar no taco de Katana Zero. É um jogo bem legal, mas interromper uma história na metade na esperança de ter uma continuação nunca é uma boa ideia.
Ainda assim, eu gostei bastante do jogo e fiquei bem curioso para jogá-lo novamente tomando decisões diferentes, e ver se de fato elas afetam a história ou é apenas ilusão. E isso demonstra que eu recomendo Katana Zero para qualquer jogador interessado na combinação de gêneros que ele apresenta.
CURIOSIDADE:
- A venda de Katana Zero foi proibida na Austrália, o que me pareceu um tanto exagerado considerando o conteúdo do game (especialmente em comparação com obras mais mainstream, como God of War). Infelizmente, o Brasil pode estar seguindo o mesmo caminho, já que o excelentíssimo deputado Júnior Bozzella do PSL quer proibir jogos violentos.