Eu venho acompanhando o desenvolvimento de Fort Solis com muito interesse. Temos aqui o primeiro jogo criado pela desenvolvedora independente Fallen Leaf. A questão é que este estúdio foi formado por veteranos da indústria, e Fort Solis visa contar uma história com valores de produção de um AAA, mas um orçamento bem menor. Não à toa, ele investiu em conseguir alguns atores bem conhecidos. São eles Roger Clark, Troy Baker e Julia Brown. E agora, nesta análise Fort Solis, vamos ver como o jogo final se saiu.
ANÁLISE FORT SOLIS
Fort Solis é um walking simulator. Em outras palavras, não há combate, game over nem nada do tipo. Ele é uma história e, como jogo, foca totalmente na exploração. Ele diz que tem alguns puzzles, mas estes se resumem a apertar botões no timing correto. A não ser que chamem de puzzles você saber para onde ir e como chegar lá. Isso, para mim, é exploração.
Os protagonistas são uma dupla que está fazendo um trabalho em Marte. A instalação de Fort Solis pede ajuda, e nosso herói Jack Leary (Roger Clark, o Arthur Morgan de Red Dead Redemption 2) vai lá ver o que tá pegando. Ele encontra o lugar vazio e em lockdown.
Mais ou menos como a Mansão Spencer de Resident Evil, você vai explorar inicialmente para onde der para ir. Eventualmente, suas ações vão abrindo outros caminhos e portas. Através de cutscenes, textos e logs, você vai montando na sua cabeça o que aconteceu no lugar. É uma pegada meio Dead Space, mas mais realista, sem monstros ou vilões propriamente ditos. Porém, devo dizer que, na tentativa de ser uma narrativa aberta, acredito que Fort Solis falhou em esclarecer realmente qual era seu mistério. Eu terminei o jogo e fiquei com uma boa ideia do que rolou, mas gostaria de ainda mais informações.
EXPLORANDO MARTE
Por causa da temática e da atmosfera da estação de Fort Solis, é difícil não lembrar de Dead Space. Porém, eu diria que Fort Solis é menos parecido com Dead Space do que este é de Doom 3. Afinal, aqui não tem monstros nem combate. As pessoas que você encontra são personagens, com suas motivações, e a ideia é entender o que rolou ali para causar o lockdown.
Admito que a história não é exatamente especial. Ela é totalmente sustentada pela curiosidade em descobrir o que rolou ali, mas tirando isso não acontece nada muito marcante, e mesmo a revelação falha em surpreender ou mesmo em esclarecer. Porém…
A MÁGICA DOS GAMES
Neste momento, em 2023, e nos últimos 10 anos ou até um pouco mais, diria que as melhores histórias estão na televisão. Cinema tem valores de produção, mas não tem criatividade. Os games, convenhamos, raramente contam histórias que são realmente únicas. Porém, eles fornecem algo que nenhuma outra mídia consegue: a imersão possibilitada pela interatividade.
Se fosse um filme ou uma série de TV, é possível que eu não gostasse de Fort Solis, pois daí o único ponto de interesse seria a história. Mas como um game, ele funciona muito bem. Não só por você estar lá, controlando um personagem, mas especialmente por você poder explorar a estação no seu tempo, indo aonde desejar.
“Andar não é gameplay”, dizem os detratores dos walking simulators. Porém, o que falta de gameplay em walking simulators, transborda em turismo virtual. O que, para mim, é uma das coisas mais legais de se jogar um videogame. Eu provavelmente nunca terei oportunidade de explorar uma estação em Marte, mas Fort Solis possibilita que eu brinque de fazer isso. Essa sensação, o turismo virtual de visitar outros planetas e realidades, é o que potencializa mesmo as histórias mais banais dos games.
A CONSTRUÇÃO TÉCNICA DE FORT SOLIS
Fort Solis tem muito de Red Dead Redemption 2, e não me refiro ao ator que faz o protagonista. Assim como no jogo da Rockstar, o que temos aqui é uma recriação visual meticulosa, com um cuidado absurdo com a animação. Cada movimento, cada ação dos personagens, são laboriosamente detalhados, a ponto de que pessoas mais hiperativas podem achar chato.
É aquela coisa de você mandar interagir com algo e o personagem vai lentamente se alinhar com o objetivo para que a animação role direitinho, sem clipping, sabe? O mais incômodo é quão lento o protagonista anda, e isso nem seria tão mal. O próprio herói de Dead Space anda por padrão. Porém, ele anda mais rápido, a ponto que você não vê necessidade de correr quando está simplesmente explorando. Em Fort Solis não há botão de corrida. Aqui eu ficava constantemente apertando o L3 ou um dos gatilhos devido à memória muscular de que estes botões costumam fazer andar mais rápido em games.
Isso fica ainda mais incômodo pelo design de alguns trechos. Algumas áreas são muito largas. Outras são um círculo, mas se você for até o fim dele, a volta completa estará bloqueada, e você precisa andar todo o caminho de volta. Eu gostei da exploração, da atmosfera e do visual, mas esse tipo de coisa atrapalha. Você começa a pensar duas vezes antes de andar na direção daquele longo corredor quando seu objetivo está para o outro lado, só para evitar ter que andar de volta, sabe?
FORT SOLIS E A TERCEIRA PESSOA
Uma coisa que diferencia Fort Solis é que este é um game em terceira pessoa. Acredito que é o primeiro walking simulator com este tipo de câmera que eu vejo, e sei até o motivo. Estes jogos costumam ser feitos por times menores com menos dinheiro. Embora seja relativamente viável criar cenários bonitos e realistas (veja Layers of Fear, por exemplo), dá muito mais trabalho criar e animar seres humanos. Um que fica o tempo todo na frente da câmera, então, é trabalhoso e caro de fazer. E achei legal que a turma aqui não fugiu do desafio. Eles também não cederam à tentação de fazer cutscenes nível B e C. Todas as cutscenes que estão aqui são totalmente faladas e animadas.
Muito do prazer de Fort Solis envolve o que você espera dos seus games. Se você quer combate, desafio ou mesmo histórias elaboradas, não é o que vai encontrar aqui. Porém, se você, como eu, gosta de existir e explorar um novo mundo, saboreando a atmosfera, o design e o trabalho envolvido naquela construção, Fort Solis é muito interessante. Certamente bateu minhas expectativas, e gostei muito de ter vivenciado esta aventura.