Eu esperava gostar muito de El Paso Elsewhere. Não apenas o gênero, um TPS old-school, me apetece, ele está recebendo uma pá de reviews realmente positivos. Depois de terminar sua campanha, uma pergunta vem à minha cabeça. O que diabos aconteceu?
ANÁLISE EL PASO ELSEWHERE
Assim como um monte de soulslikes, El Paso Elsewhere não esconde suas influências. E sua influência é um jogo que eu adoro: Max Payne, o original. O herói James é parecido, as armas são basicamente as mesmas e a jogabilidade é igualzinha. Sim, El Paso Elsewhere também faz uso liberal da câmera lenta, e copia até o movimento mais marcante do Maximiliano Dour, o mergulho em câmera lenta e com as armas apontadas.
Tudo isso é de propósito. É por design. Já dizem por aí que imitação é a maior forma de elogio e El Paso, Elsewhere imita e elogia forte o clássico da Remedy. Tem até um programa de rádio que você pode ouvir nas fases que é literalmente uma paródia de Max Payne, em que um policial deveras amargo fica filosofando sobre sua vida e a violência a seu redor com aquela voz sexy de herói noir.
VOZ SEXY DE HERÓI NOIR
Mas mesmo se você não encontrar os rádios, que são colecionáveis, vai ver a influência narrativa de Max Payne. O herói James está sempre fazendo comentários deveras amargos sobre tudo que vê ou que acontece – a diferença para o rádio é que aí não é cômico.
Toda a história é falada, e o grande ponto de destaque é que o texto é muito bem escrito, e os atores são realmente bons. Nível Max Payne mesmo neste aspecto. A história é mais sobrenatural. A ex do James é Draculae, a vampirona chefe. Ela fez um ritual que vai acabar com o mundo, então James quer matá-la antes de ela concluir o feitiço.
RELACIONAMENTO ABUSIVO
A história parece algo padrão de videogame, mas tem um subtexto muito legal que trata de relacionamentos abusivos. No caso, o James é a vítima do relacionamento abusivo, já que Draculae é muito mais forte e perigosa do que ele, e faz questão de demonstrar isso a todo momento. Simplesmente não há histórias suficientes na cultura pop em que o abusado do casal é o homem, e é claro que isso também existe na vida real.
A questão é que os atores são tão bons que a Draculae não parece malvada, nem mesmo quando aparece para conversar com James pessoalmente. E a interpretação do James deixa claro o quanto ele foi machucado por ela, mas constantemente questiona se realmente atacá-la é a solução, uma vez que ela não fez isso contra ele diretamente.
As cutscenes são imagens quase paradas com sérios problemas técnicos, que vou elaborar em breve, mas não dá para negar que o texto e as atuações de El Paso, Elsewhere são realmente especiais. Infelizmente, isso é o que ele traz de melhor.
GAMEPLAY GOSTOSO, MAS REPETITIVO
Estes retro shooters têm algo que os games mais modernos não têm: eles são simplesmente uma delícia de jogar. E El Paso Elsewhere é gostoso. Mas não tanto. Ele é bem rapidinho, exigindo movimento constante, e isso é bacana. Porém, dá a mesma sensação que tenho com Doom 2: são fases demais, com pouca variação. Só que Doom 2 é muito mais bonito e mais gostoso de jogar, embora El Paso Elsewhere tenha cenários mais variados. Mas não dá para negar, este jogo é muito, MUITO feio.
Lá pela oitava fase, eu estava já ficando cansado, com vontade de que ele terminasse logo. Fiz uma busca para ver quantas fases tinha – o que já não é um bom sinal – e o Google me disse que El Paso Elsewhere tem 50 fases. É muito. Simplesmente demais para o gameplay que ele oferece. Mas os problemas vão além de ele ser longo e feio demais. Ele é também muito quebrado.
EL PASO ELSEWHERE SIMPLESMENTE NÃO ESTÁ PRONTO
Poucas vezes na minha vida eu vi um jogo de console com tantos problemas técnicos. E não é nem o caso de eu estar jogando antes do lançamento: eu só comecei a jogar depois que ele estava disponível para todos.
Absolutamente tudo que eu consigo pensar de errado aconteceu aqui. Inimigos, paredes e itens sumiam e apareciam conforme eu me movimentava. O som ficava abafado do nada ou sumia totalmente depois de uma pausa ou de uma morte. Em determinado momento, os botões do controle pararam de funcionar. Eu não conseguia atirar nem abrir portas, apenas andar de um lado para o outro. Pensei que era a bateria do controle, mas não era, pois no painel do Xbox estava tudo funcionando normalmente.
Além disso, em pelo menos três ocasiões ao longo de dois dias, o jogo simplesmente fechou sozinho.
PERFORMANCE SOFRÍVEL
Ainda mais grave é que nem quando tudo está funcionando corretamente o jogo funciona bem. Com esse nível de visual, você pensaria que o Xbox Series X aguentaria 4K/60 tranquilamente, certo? Você estaria errado. A taxa de quadros nunca chega a 60 e é totalmente instável. Além disso, a tela fica constantemente se quebrando quando você gira a câmera (screen tearing).
A última arma que você pega é um lança granadas que causa explosões bem coloridas. Porém, se você usar esta arma, a taxa de quadros vai cair consideravelmente. O jogo vira um slideshow e fica totalmente não jogável. Não digo que ele vai a 30 fps, digo que vai a uns cinco mesmo. O único jeito de resolver é reiniciando o jogo. Agravando a injúria, El Paso Elsewhere apenas salva entre as fases, não os checkpoints. Então sempre que qualquer um desses problemas acontece, você precisa reiniciar o jogo e voltar do início da fase.
A draw distance também é bem estranha. Árvores e detalhes do cenário aparecem como um raio de luz roxo que se transforma no que deveria ser quando você chega perto. É muito, muito estranho.
EL PASO ELSEWHERE: POTENCIAL INACABADO
Eu sinceramente tive a sensação de estar jogando algo em construção. Aliás, até quando joguei Immortals Fenyx Rising meses antes do lançamento e via cloud, ele funcionava melhor. El Paso Elsewhere não me empolgaria de forma alguma. Ele é feio e longo demais para isso. Porém, é gostoso o suficiente quando funciona que eu daria uns três Alfredos para ele, suficiente para uma recomendação com cautela.
Infelizmente, este não é o jogo que eu joguei. A versão de Xbox Series X de El Paso Elsewhere está quebrada demais para ser vendida. Reparei agora que aquela nota do Metacritic é para a versão de PC, e a de Xbox neste momento (seis de outubro de 2023) está TBD. Talvez seja um daqueles casos de algo que funciona no PC, mas não nos consoles, tipo Cyberpunk 2077. Isso explicaria a discrepância dos reviews com o que de fato joguei. Mas neste momento só posso falar da versão de Xbox Series X e, infelizmente, não dá para recomendar do jeito que está.