Jogar Dark Souls Remastered, hoje, é conhecer a origem de muitas das convenções dos games atuais. Digo mais, os últimos dez anos dos videogames seriam muito diferentes hoje, se não fosse pela forte fórmula apresentada neste primeiro exemplar, e reiterada mais duas vezes depois.
Coisas como os atalhos que abrem apenas pelo outro lado, depois que você fez o caminho longo, checkpoints rareados e mesmo a dificuldade elevada são características que não seriam tão comuns hoje em dia se não fosse por Dark Souls.
A INFLUÊNCIA DE DARK SOULS
A influência dele vai muito além da dificuldade, no entanto. Jogar qualquer jogo da série, mas principalmente o primeiro, é estar constantemente afetado por uma sensação de deslumbre. Poucos jogos conseguem a façanha de tornar a exploração tão marcante. E, desta forma, chegar a uma nova área se torna algo único, pois você sabe que não será apenas uma variação de cenário, mas a apresentação de novos personagens, inimigos e itens.
Cada nova fase é habitada por raças de inimigos diferentes. Há pouquíssima repetição de adversários na série inteira. E o design de combate fantástico da From Software faz com que cada batalha seja épica. Repare como a animação de morte da maioria dos inimigos é altamente detalhada, enquanto na maioria dos jogos eles simplesmente caem – ou somem.
Isso sem falar nos chefes. O design sensacional de personagens na série faz com que os fãs considerem screenshots de chefes antes do lançamento como spoilers. Isso porque o simples fato de encontrá-los, ver a animação inicial e soltar um “ai, meu Deus do céu, me ajuda” é algo tão marcante quanto as lutas que se seguem.
E se a animação de morte dos inimiguinhos já é marcante, que dizer da dos chefes. A maioria tem uma animação considerável ao apresuntar, e depois aparece na tela em dourado um “Victory achieved” e a música emocionante vai diminuindo até sumir. Se você encarou a luta em cooperação alegre, então, esta é a hora de se curvar em frente aos coleguinhas para agradecê-los pela ajuda, e depois disso dar um tchauzinho, pois você sabe que em poucos segundos eles vão embora para sempre. “Nosso tempo juntos foi curto, mas eu nunca vou esquecer a sua ajuda ao vencer as duas Gárgulas da torre, Killafromhell666!”.
Claro, isso é quando as coisas dão certo. Estamos falando de Dark Souls, afinal de contas. E a maioria das batalhas neste jogo terminam assim:
A DIFICULDADE DE DARK SOULS REMASTERED
Infelizmente, tudo que o jogo faz de bom é apaziguado por sua injusta dificuldade. Eu costumo definir a série como um relacionamento abusivo, pois é muito difícil de largar, mesmo você sabendo que aquilo não é bom para você. Digo mais, ao jogar Dark Souls Remastered, eu frequentemente sentia que a From Software estava fazendo bullying comigo.
Quando joguei Dark Souls pela primeira vez, eu costumava jogar por uma tarde inteira para passar por uma única região. E o jogo tem cerca de 20 regiões. É um progresso muito lento. Irritantemente lento, pois exige uma repetição absurda. No meu save do jogo original, está registrado que eu demorei 54 horas para chegar ao final, e meu personagem foi aposentado no nível 95.
Uma coisa que me incomoda bastante no jogo é uma reclamação frequente que tenho em RPGs. Eu constantemente sinto que, ao progredir, vou ficando underleveled. Em Dark Souls eu sentia que não conseguia achar uma arma que fizesse um dano decente, e as que eram melhores exigiam um investimento considerável nas minhas estatísticas, o que faria com que eu parasse de upar coisas como vida e resistência, essenciais para continuar vivo.
Isso é ainda mais grave com o fato de que você pode perder dezenas de milhares XP (ou almas, na linguagem do jogo) ao morrer. E isso vai acontecer com você.
DARK SOULS REMASTERED
Eu joguei o primeiro Dark Souls originalmente na sua versão de Xbox 360, através da retrocompatibilidade do Xbox One. Isso significa que o jogo já rodou melhor do que originalmente. Por exemplo, Blight Town, uma região famosa por suas quedas de framerate, rodou suave para mim. Mas o jogo não chega a rodar a 60fps nem rodando no Xbox One X. Dark Souls Remastered chega, e me parece manter esta taxa o tempo todo.
Tirando isso, visualmente não se percebe muita diferença. Vai dizer que você perceberia qual screenshot desta matéria foi tirada na versão de Xbox 360 se eu não falasse isso? Pois é, eu também não. Mas os movimentos realmente estão bem mais suaves e agradáveis.
Além disso, uma diferença considerável é que agora tem outras pessoas jogando. Assim, é possível jogar coop e PVP. Quando eu joguei Dark Souls 1, em 2016, não rolava. Afinal, eu estava praticamente sozinho no jogo, e assim tive que vencer todos os chefes solo mesmo, o que tornou a experiência ainda mais difícil do que deveria ser.
Ao mesmo tempo, eu comprei o Dark Souls de Xbox 360 via Xbox One em 2016 pagando 10 reais. A versão remasterizada neste momento está saindo por cerca de R$150. Não é caro, considerando quão caprichado e quão longo é o jogo, mas é curioso pensar que a nova edição (por mais melhorada que seja) está 15 vezes mais cara do que paguei na versão anterior dois anos atrás.
Dark Souls Remastered traz também o DLC Artorias of the Abyss, que é a única parte da série que eu não joguei até agora (ainda vou levar um tempo para chegar lá nesta versão). Apenas como comparação, quando comprei o jogo de Xbox 360, a versão com o DLC estava saindo por 15 reais.
Claro, se você tem apenas o PS4, não há outra opção para jogar Dark Souls além da versão remasterizada. Eu até hoje não joguei o Demon’s Souls, apesar de tê-lo no PS3 há alguns anos. Afinal, sabe como é, depois que você migra para uma nova geração, dá a maior preguiça de voltar para a anterior (viva a retrocompatibilidade, que mantém a história dos videogames sempre viva!).
DARK SOULS REMASTERED
E Dark Souls é um jogo que fãs de games simplesmente têm que jogar. Sim, é uma experiência deveras punitiva, que exige um investimento de tempo considerável, mas é também um dos exemplos máximos de gamedesign.
Dark Souls é tão ridiculamente influente que eu estou sinceramente cansado de ter que citá-lo em resenhas de jogos mais recentes. Porém, escrever sobre games hoje em dia e não citar Dark Souls é como escrever sobre guitarra e não falar sobre Jimi Hendrix. As coisas estão tão intrinsecamente ligadas que simplesmente não tem jeito de escapar.