Apesar de conhecer a fama de Crysis, eu nunca o tinha jogado. Eu cheguei a jogar Crysis 3 no PS3, e gostei muito, mas passei batido pelo primeiro e até pelo segundo. Além disso, está bem documentado aqui no DELFOS como eu virei fã da Crytek depois do sensacional Ryse. Assim, estava bem animado para jogar e escrever minha análise Crysis Remastered. Para aumentar minha ansiedade, a Crytek prometia efeitos inéditos na geração atual. Em especial, Crysis Remastered traria o famoso ray tracing, algo que é top de linha mesmo nos PCs mais parrudos, e que todo mundo acreditava que não era possível nos consoles atuais. Pois aqui temos a prova: possível é. Mas como togo gibi de super-heróis deixa claro, nem tudo que é possível deve ser feito.

ANÁLISE CRYSIS REMASTERED

A Crytek tem fama de ser uma das desenvolvedoras mais virtuosas no uso da tecnologia (veja o próprio Ryse, que apesar de ser um jogo de lançamento de Xbox One, ainda é um dos mais impressionantes da geração). E daí, ao rodar Crysis Remastered pela primeira vez, isso é o que eu vi.

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Algo de errado não está certo.

Algo de errado não está certo. Eu nunca tinha visto esse tipo de pau de imagem em um console. Pelo que li por aí, há algum problema grave na junção das funções ray tracing e HDR, que pode causar esse embaralhado. Eu tive que reiniciar algumas vezes, e eventualmente consegui fazer a imagem aparecer. Mas a performance foi péssima.

MAS SERÁ QUE RODA CRYSIS?

Crysis Remastered, no Xbox One X, tem três modos de vídeo. Qualidade, performance e ray tracing. Obviamente, eu escolhi ray tracing, já que é algo que nunca tinha visto antes. Porém, mesmo quando funciona, o jogo fica virtualmente não jogável com isso ativado. A performance cai consideravelmente, acredito que por volta dos 15 frames por segundo. Isso faz com que a experiência pareça um jogo de flash ou um slideshow. Basicamente, eu joguei a primeira fase assim, e depois mudei e nunca mais olhei para trás. Veja algumas comparações com ray tracing abaixo.

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Repare no reflexo na água. Isso é ray tracing.
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E essa é a água tradicional, com ray tracing desativado.

Mesmo no modo performance, Crysis Remastered roda bem longe dos 60 fps. Assim, eu acabei escolhendo jogar mesmo no modo qualidade. Pelo menos dá para curtir o jogo em resolução mais alta, sem o mesmo impacto no gameplay que tem ativar ray tracing.

UM PORT DO PORT

Como eu disse no início, essa é minha primeira vez com Crysis, mas admito que fiquei decepcionado ao ler essa matéria da Digital Foundry. Eu sabia que Crysis tinha recebido um port capado para os consoles da geração passada e acredito que todo mundo imaginava que essa versão remasterizada seria baseada na versão de PC original. Infelizmente, não foi o caso. Crysis Remastered usa o visual simplificado criado para o Xbox 360/PS3 e não traz de volta a missão Ascension, cortada nesse port. Assim, ao invés de remasterizarem a versão superior do jogo, escolheram fazê-lo com um port inferior, o que é difícil de explicar. Ele também tem alguns problemas técnicos graves, que vão além do visual. Em especial, após matar o último chefe, seu objetivo final é entrar numa nave, mas a nave simplesmente não aparecia para mim, então não tinha como concluir o jogo. Ele salvou após matar o chefe, então a única forma de terminar era jogando a última fase de novo. E sabe como é, eu sempre quero evitar a fadiga.

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Dito isso, mesmo sendo um jogo lançado 13 anos atrás, Crysis Remastered ainda tem bons visuais. Os personagens humanos, como os que você vê na imagem acima, estão estranhos e datados, mas cenários, armas e animações ainda são bem legais. Em especial, a iluminação impressiona. Crysis Remastered não é um remake, mas é um daqueles remasters com um visual bastante turbinado, assim como Modern Warfare 2.

CRYSE REMASTERIZADA

Falamos da parte técnica que, em um jogo da Crytek, pode ser considerada a prioridade. Mas e o jogo? Crysis é um FPS tático, com um level design linear largo. Isso significa que cada fase é um mapa enorme, com alguns pontos de interesse, em geral bases inimigas. Você deve ir até esses pontos, cumprir a missão e escapar. Assim, apesar de não ser mundo aberto oficialmente, a sensação de jogar é bem semelhante. Você pode invadir uma base pela porta da frente metralhando todo mundo, ou então criar estratégias envolvendo furtividade.

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Ou então pegar um tanque, se pá.

A pegada de Crysis é que você tem uma roupa superpoderosa. Com ela, é possível pular alto, dar socos poderosos ou, especialmente, usar camuflagem e armadura. Apesar de o jogo incentivar tática e furtividade, eu achei isso um tanto frustrante, pois os inimigos são incrivelmente alertas. Em geral você está andando rumo ao seu objetivo e, antes mesmo de ver inimigos, começa a levar tiros. Muitas vezes eles estão extremamente distantes quando isso acontece, fora até mesmo do alcance do seu sniper. E isso me desincentivou a jogar taticamente. Eu sentia que, não importa quanto cuidado tomasse, sempre levava tiro antes de ver os inimigos.

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Responde rápido: em um ninho de mafagafos há quantos mafagafinhos? E o que diabos é um mafagafo?

Também há alguns problemas no balanceamento das armas, em especial do sniper. É super comum atirar com essa arma e acertar o alvo, mas o jogo não reconhecer. Assim, o meliante não cai e, para piorar, ele e todos os seus amigos imediatamente sabem onde você está. É mais um problema que deixa o stealth parecer subdesenvolvido.

BENCHMARK DA INDÚSTRIA

Ainda assim, o jogo é legal. Particularmente, o level design aberto e o foco em ferramentas e táticas é algo que o diferencia de outros shooters como, por exemplo, Call of Duty, que é basicamente adrenalina o tempo todo.

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Não é PUBG, é Crysis!

Crysis Remastered mostra a fundação de uma série que ainda precisava de algum polimento no seu gameplay – que seria feito nos jogos seguintes. Isso deixa especialmente curioso o fato de que ele está sendo relançado como um único jogo, ao invés da remasterização da trilogia.Eu gostaria muito de jogar os três seguidos, e ver o quanto ela evoluiu de um para o outro. Mais curioso ainda é terem escolhido basear esta remasterização em uma versão inferior do jogo clássico, e ela ter tantos problemas visuais e de performance no Xbox One X. Crysis Remastered teve o lançamento adiado para ser mais polido, mas é inegável que precisava de um tempinho extra no forno. Em tempo, a Crytek anunciou que vai lançar patches que vão melhorar a situação, então se este lançamento interessa, vale esperar um pouco para adquirir.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
analise-crysis-remastered-reviewDisponível: Switch, Xbox One, PS4 e Windows<br> Analisada: Xbox One X<br> Desenvolvedora: Crytek<br> Editora: Crytek<br> Lançamento: 23 de julho de 2020 (Switch) e 18 de setembro de 2020 (restantes)<br>