Adeus, Lênin!

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É inegável o choque que a Alemanha Oriental deve ter sofrido em novembro de 1989, quando o muro de Berlim foi derrubado. De um dia para o outro, uma nação inteira teve que modificar seus costumes abraçando a cultura e o consumismo do outrora inalcançável mundo ocidental. Não que eles tenham se importado. Na verdade, a maior parte do povo alemão ficou realmente empolgado com o “admirável mundo novo” à sua espera.

Porém, mais ou menos uma década depois, a nação começou a sentir os efeitos colaterais do capitalismo, como o famigerado desemprego (que abrange também outras colônias dos EUA, como o nosso Brasil), gerando um movimento de nostalgia que varreu a nação. Chamado de Ostalgie, teve como conseqüência o retorno de costumes, programas de TV e produtos anteriores à queda. Nesse cenário, também surgiu Adeus, Lênin!, escrito e dirigido por Wolfgang Becker.

A estória começa pouco antes da queda do muro, onde Christiane (Katrin Sass) cuida sozinha de seus dois filhos. Ideológica, Christiane ama a pátria e todos os valores representados pelo socialismo. Ao ver seu filho Alex (Daniel Bruhs) sendo espancado por policiais, ela tem um enfarte e entra em coma.

Ao despertar, oito meses depois, o país está completamente diferente. Após a queda do muro, as roupas mudaram, a propaganda invadiu sua cidade, nem mesmo sua marca de pepinos preferida podia ser encontrada nos supermercados locais. Como se já não fosse problema suficiente, o médico avisa Alex que um choque pode ser fatal para Christiane. Como contar a ela, então, que tudo em que ela acreditava não existe mais? Resposta: não contar. Alex resolve isolar a mãe da sociedade, criando um verdadeiro abrigo socialista em seu quarto. O mais incrível é que Alex consegue criar no quarto o que países inteiros não conseguiram: um socialismo perfeito. Mas por quanto tempo uma mentira desse porte pode sobreviver?

Apesar de ser considerado uma comédia, Adeus, Lênin! alterna suas piadas com momentos bem dramáticos. Vale pela idéia (que é ótima), por demonstrar muito bem o choque entre duas culturas, o que sempre rende boas piadas e, principalmente, por nos fazer refletir sobre a cultura e hábitos que adotamos. Podia ser um pouco mais curto, é verdade, mas isso não tira seus (muitos) méritos.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).