A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é a tão aguardada versão hollywoodiana de um dos mangás/animês mais famosos e adorados da cultura pop japonesa. Também pode ser considerada a primeira tentativa mais séria de adaptar um animê ou mangá para o público estadunidense e/ou ocidental com mais respeito à fonte, após algumas tentativas ridículas e fracassadas, tipo aquele filme do Dragon Ball.
Pois bem, eu já disse na resenha da animação original que não sou um grande admirador de Ghost in the Shell, embora compreenda seu apelo e importância. Assim, da minha ótica de alguém que não tem tanto apego ao material original, achei essa adaptação bastante fiel ao desenho (só para reiterar, eu não li o mangá).
Num futuro onde as fronteiras entre orgânico e tecnológico estão cada vez mais borradas, com muitos humanos portando implantes e outros aprimoramentos cibernéticos em seus corpos, a Major Mira Killian (Scarlett Johansson) é a primeira de seu tipo. Um cérebro humano (resgatado após um atentado que deixou seu corpo além de salvação) colocado dentro de um corpo totalmente robótico, o que a torna uma arma perfeita para a Seção 9, um braço das forças especiais do governo.
Quando funcionários de alto escalão da empresa de robótica que constrói as principais máquinas existentes, incluindo o corpo da Major, começam a ser assassinados por um hacker, ela é incumbida, junto de seus parceiros, de encontrar e eliminar o sujeito. E claro, há mais por trás disso tudo do que aparenta num primeiro momento.
A trama e seu desenrolar, bem como os temas do limite entre humano e artificial e da existência da alma e sua capacidade de permanecer imaculada após intervenções tecnológicas cada vez mais intrusivas, seguem quase à risca a animação original, embora o filme crie mais detalhes e subtramas, incluindo o passado da Major, que ao menos no desenho não era explorado.
Até por ser bastante similar ao animê, senti exatamente as mesmas coisas pelo filme do que pelo desenho. Então praticamente tudo que falei na resenha da animação também se aplica a esta versão em live action. Vai lá, clica no link e releia a resenha em questão como um complemento a esta.
O que mais se destaca em A Vigilante do Amanhã é o seu visual. É de encher os olhos de tão bonito. O design de produção sem dúvida caprichou bastante e a cidade nunca nomeada onde se passa a história, cheia de hologramas publicitários, ficou embasbacante. Este é até um dos poucos casos onde o 3D vale a pena, dando mais profundidade e corpo para esses detalhes da ambientação.
É óbvio que o pessoal que curte uma boa ficção científica vai matar na hora que o longa, nesse quesito visual, bebe muito na fonte de Blade Runner, com uma cidade cheia de ideogramas e elementos orientais, misturados a outros ocidentais, com lugares mais sujos e superpovoados, e habitado por uma população multi-étnica.
Por sua vez, se ele é bonitão de se ver, o resto não é tão impressionante assim. Fora ter o mesmo problema de ritmo que o desenho, até amplificado pela duração do filme ser maior, ele tem vários momentos sem pegada, que o tornam algo mais próximo do trivial.
Os momentos de mais destaque são justamente aqueles que ficam mais próximos, e até copiam mesmo, cenas inteiras do animê. Por falar nisso, o já comentado visual também está bem próximo da animação, e isso inclui os personagens. O chefe da Seção 9 interpretado pelo Takeshi Kitano e Batou, o parceiro da Major, estão idênticos às versões animadas.
E algo que eu não esperava, principalmente depois da polêmica da escolha da Scarlett Johansson para um papel que no original era de uma personagem oriental, foi que eles até encaixaram no plot uma referência a isso, visto que ela é a Major Mira Killian ao invés da Motoko Kusanagi da fonte original.
Assim, no geral achei que se trata de um filme de ação decente, onde sua burocrática condução narrativa e rítmica fica um pouco escondida pelo visual embasbacante. E quando a coisa aperta, ele vai buscar uma sequência diretamente retirada da fonte. Privilegia também mais a correria e os tiroteios do que os momentos filosóficos entre o que é vivo e o que é artificial.
É bom, não é memorável, mas certamente está num caminho melhor que as tentativas anteriores de Hollywood de adaptar animês e mangás. Sinceramente, não sei o que os fãs do original vão achar (deixe sua opinião nos comentários), mas para quem gosta de ação e ficção científica, vale muito a pena assistir na tela grande do cinema por conta do visual bonitão.