Não faz nem tanto tempo que eu elogiei essa turminha da comédia estadunidense por, apesar de dificilmente passarem da qualidade de um filme nada, pelo menos seus longas são histórias próprias que não são adaptações nem remakes. Pois agora, como uma ironia do destino, estreia A Vida Secreta de Walter Mitty, remake de O Homem de 8 Vidas, de 1947, por sua vez baseado em um conto de James Thurber. Que puxa, delfonauta. Que puxa, digo eu.
Aqui conhecemos Walter Mitty (não diga, Corrales), interpretado por Ben Stiller (caramba, Corrales, hoje você está surpreendente). Ele trabalha em uma revista e é o típico cara entediante, que passa o dia inteiro no escritório e nunca fez nada de interessante (o que o Corrales quer dizer é que ele é o personagem padrão de uma comédia estadunidense). Com licença, delfonauta, eu vou ali calar as vozes da minha cabeça e já volto.
– Cala a boca, vozes da minha cabeça!
– Vem calar!
– Paff!
– Ai!
Agora sim, voltemos. A vida de Walter muda quando ele recebe um conjunto de negativos com uma carta dizendo especificamente que a foto 25 deveria ser a capa da próxima edição. Sabe qual é o problema? A foto 25 não veio, e o remetente é um nômade doidão (Sean Penn), dificílimo de ser encontrado.
Pois ao invés de explicar para o patrão que a foto não veio, Walter decide partir em uma viagem pelo mundo atrás do tal nômade e avisá-lo do ocorrido, porque afinal de contas essa é uma atitude muito mais lógica e racional. Graças a essa viagem, no entanto, Walter vai viver altas aventuras e sua vidinha patética se tornará deveras interessante. E, claro, daí teremos o filme também, o que é sempre bem-vindo.
SONHANDO ACORDADO
Uma coisa que me chamou a atenção é o excelente trabalho de direção. Depois deste filme, eu colocaria Ben Stiller no mesmo grupo do xará Ben Affleck, o de atores que se dão melhor dirigindo do que atuando.
Por exemplo, os créditos iniciais aparecem como parte do cenário. Não é nada exatamente novo, mas tal como planos-sequência, é sempre legal. A trilha sonora também é excelente, tanto nas canções licenciadas quanto nas incidentais, e os cenários belíssimos pelos quais Walter passa me trouxeram calorosas lembranças da minha aventura pelo Chile (e se você gosta de cenários legais, essa matéria tem várias imagens bonitas =P).
Tudo isso, somado aos vários momentos cheios de estilo, acabam elevando o longa muito acima de uma tradicional comédia estadunidense. Até porque, já que falamos disso, ele não é exatamente uma simples comédia.
Lembra do excelente Mais Estranho que a Ficção, e como o mais estranho dele foi ser estrelado pelo Will Ferrell? Pois Walter Mitty lembra em muitos aspectos o excelente filme de Marc Forster. Ok, não é tão bom quanto, mas sua narrativa cheia de sentimento divide muitas semelhanças e assim coloca este como o melhor filme estrelado pelo Ben Stiller, disparado.
Está longe de ser perfeito, ou mesmo de ser tão bom quanto Mais Estranho que a Ficção. O roteiro, especialmente, não traz nenhuma novidade, e é possível adivinhar tudo que vai acontecer com muita antecedência. A localização da tal foto então, é algo que já não era novo desde O Mágico de Oz, mas eu não posso falar mais para não estragar a surpresa.
Assim, temos aqui um filme belo e estiloso, que pode animar com folgas um sábado moroso. E isso é mais do que eu jamais pensei que falaria de um filme do Ben Stiller. Que coisa, não?
CURIOSIDADES:
– A música Space Oddity tem um papel importantíssimo no filme, mas os personagens se referem a ela como Major Tom. Da fãc!? Será possível que mesmo eles pagando para licenciá-la, não viram o nome real da música?
– A sessão de imprensa atrasou tanto que mais um pouco acabaríamos assistindo ao filme em uma sessão comercial mesmo.
– Por conta do atraso absurdo, eu tive que pagar o ônibus na ida e na volta. É a triste vida de um jornalista pobre.
– Feliz natal! =]