Nesta terça-feira, o Brasil teve a sua pior decepção futebolística desde a perda da Copa do Mundo em 1950, também disputada no Brasil e que terminou com o conhecido “Maracanaço”. Porém, a despeito do que aconteceu 64 anos atrás, o vexame dado pela nossa Seleção atingiu níveis nunca antes imaginados, em um jogo que quebrou diversos recordes mundiais, como o de pior placar de uma semifinal e de pior derrota da Seleção em uma Copa do Mundo. Mas isso você já sabia.
A questão é que um placar elástico como estes inacreditáveis 7 a 1 para a Alemanha causam tanta perplexidade que fica difícil raciocinar e pensar em qualquer explicação. Na hora do nervosismo, muita gente riu, chorou, xingou, mudou de canal, desligou a TV, mas agora, com alguns dias de diferença e a cabeça fria, vale a pena refletir. Eu só peço licença para fazer uma pequena observação antes de começar a falar do jogo.
SELEÇÃO NÃO É PAÍS!
Muita gente, antes da Copa, criticou a valorização dada ao evento e à Seleção, dizendo que devíamos pensar em desenvolver o nosso país, e isso acabou rendendo um texto sobre as melhores coisas que a copa trouxe ao Brasil aqui no DELFOS. Durante a Copa, não se via uma alma viva falando da corrupção e dos problemas do nosso Brasil varonil. Agora, depois da derrota da Seleção, isso voltou e até quem apoiava a Copa está falando mal e misturando o assunto com política, com pérolas como “a Alemanha ganhou porque é país de primeiro mundo”.
Como já dizia um velho deitado, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. É absolutamente possível se preocupar com o desenvolvimento social do país e chorar pela derrota da Seleção. Torcer pelo Brasil na Copa não te faz menos patriota, da mesma forma que ignorar os jogos não te faz mais brasileiro do que quem assiste, pois são sentimentos diferentes.
E vou além: dizer que a Alemanha ganhou porque é país desenvolvido e nós somos atrasados é outra asneira sem tamanho. Se é assim, onde está a Seleção da Dinamarca e a da Noruega nessa Copa do Mundo? E por que a Costa Rica ficou em primeiro lugar em um grupo com Itália, França e Inglaterra? São duas coisas diferentes, não podemos misturar alhos com bugalhos.
O ponto é que, apesar da Seleção e do país terem o mesmo nome, são duas coisas (adivinha?) diferentes. Usar essa confusão linguística para argumentar a favor ou contra a Seleção, o povo ou o próprio país é triste – e não só porque causa confusão, mas porque muita gente acredita. É só ver a quantidade de gente que relacionou a derrota da seleção à Dilma.
MAS E A DERROTA?
Pois é, delfonauta, e a derrota? Tentar achar explicações não é tão difícil quanto parece, e é igualmente desnecessário entender de futebol. Até porque, convenhamos, o que se precisa saber de futebol para explicar uma derrota como aquela? Basta dizer que uma equipe jogou melhor – e bota melhor nisso – do que a outra.
Não vou focar aqui em esquemas táticos ou em detalhes técnicos desinteressantes e subjetivos, mas sim mostrar o principal motivo de essa Seleção não ser capaz de ganhar uma Copa nem aqui e nem em Marte. Tomar sete gols em uma partida foi exagerado? Foi. Mas também serviu para mostrar o grande problema do Brasil nesta Copa.
A FALTA DE MATURIDADE DA SELEÇÃO
A seleção podia ser mediana, dependente de Neymar e mal-organizada, mas nenhum desses seria um problema tão grande a ponto de permitir uma derrota por seis gols de diferença, com uma chuva de gols em um intervalo de poucos minutos. Afinal, se você toma um gol, tudo o que você precisa fazer é levantar a cabeça, ter frieza e se organizar, não é mesmo?
Isto seria o ideal, mas não foi o que aconteceu. Tem gente que diz ter sido depois do primeiro gol, outros ter sido depois do segundo, e ainda há quem diga que foi depois do terceiro, mas todos concordam: o Brasil perdeu completamente a cabeça nesta partida. Os jogadores se desorganizaram, corriam para qualquer lado do campo e esqueciam de suas funções. E daí para a seleção adversária dar meia dúzia de toques e fazer meia dúzia de gols é um pulo.
Já no jogo contra o Chile a seleção já tinha dado mostras de ser psicologicamente abalável. Thiago Silva, o capitão da equipe, pedindo para ser o último a cobrar pênalti (depois até do goleiro)? Jogadores chorando e rezando antes, durante e depois das cobranças? E aqui vale fazer um adendo: não tenho problemas com choros e rezas, mas sim com a aflição que estava clara quando isso aconteceu.
UMA DERROTA PARA OS NERVOS
Não vou entrar no mérito dos milhares de dólares que aqueles jogadores ganham, pois sei que a pressão que eles sofrem é igualmente incalculável. Contudo, o mínimo que se espera de jogadores que pretendem ganhar uma Copa do Mundo é que eles saibam lidar com essa pressão. Muitos ali são jogadores de times grandes, deveriam estar habituados a esta cobrança.
O problema para mim é que essa insegurança deriva da imaturidade desses jogadores. Dos presentes este ano, o único que eu me lembro de ter jogado uma Copa do Mundo antes é o Julio Cesar (corrija-me se for o caso, delfonauta). Fora que muitos jogadores ali são extremamente novos. Olhem para o Oscar e para o Bernard: a impressão que eu tenho é que eles nem saíram da puberdade ainda!
Porém, ao mesmo tempo, sei que aquela seleção tem qualidade, e que esse descontrole emocional não é tanto culpa deles quanto esse texto pode fazer parecer. São jogadores novos, que vão aprender a manter a calma com o tempo. David Luiz é um grande exemplo: ovacionado pela mídia e pelo povo, ele desabou em prantos diante da derrota. Ele estava errado? De forma alguma. Ele merece aplausos. Porém, chorar diante da derrota e abaixar a cabeça não é uma atitude compatível com quem quer ser campeão.
Jogadores campeões têm emoções, mas também têm a frieza necessária para os momentos em que ela é necessária. O próprio Julio Cesar demonstrou isso, tanto durante o jogo – já que considero que ele foi o único a manter a calma – quanto depois, ao engolir o choro quando foi entrevistado no campo e, de cabeça erguida, pedir desculpas e dar sua declaração. Chorar não é errado, mas ter frieza quando é necessário é a atitude de um verdadeiro campeão.
E QUE VENHA A PRÓXIMA COPA
O que o Brasil precisa é de mais jogadores com essa frieza de campeão. Quando ganhamos as outras cinco Copas, tínhamos jogadores que não eram só excepcionais, mas que conseguiam manter a cabeça no lugar quando era necessário.
E apesar de essa Copa não ter sido como o Brasil inteiro imaginava, pelo menos há de se tirar boas lições dela. Os nossos jogadores não eram excelentes, mas tinham qualidades, é importante reconhecer, e o crescimento que eles terão pelos próximos quatro anos será bastante importante para a próxima Copa, que será na Rússia, em 2018.
Ao mesmo tempo, essa derrota não diminui o tamanho da nossa seleção. Perdemos de 7 a 1, mas ainda somos a única seleção pentacampeã mundial. Forjar novos craques, apesar de ser algo raro ultimamente, ainda é a nossa especialidade. O que importa é que a história não acaba aqui. O Brasil ainda é o Brasil, com goleada ou sem goleada. A camisa canarinho ainda merece respeito, e cabe à seleção fazê-la ser respeitada.
Mas antes de acabar, um último aviso, delfonauta: não se esqueça de que no próximo domingo será dia 13 de julho, mais conhecido como Dia do Rock! É claro que o seu site nerd de jornalismo parcial-reflexivo preferido não deixaria essa data passar em branco, então preparamos um Especial para a semana. Este Especial virá em conjunto com as resenhas dos filmes que estão estreando – então para você que estiver ansioso para a resenha delfiana de Transformers, não precisa se preocupar. Até domingo!