Eu nunca gostei muito da sonoridade dos anos 80. Entendo o respeito e a admiração que as pessoas têm por bandas como Depeche Mode, The Cure e Joy Division, e eu mesmo já ouvi muito de cada uma (She’s Lost Control é um verdadeiro hino!), mas existe algo de sinistro nas gravações dessa época que costuma me deixar perturbado.
Mesmo uma música mais animadinha como Love Cats me causa uma angústia que está além dos acordes, dos instrumentos ou da canção em si. Acho que tem a ver com aquele tipo mais “farelento” de gravação, com as técnicas de produção da época, mais limitadas e chapadas (no sentido de terem menos profundidade que as músicas atuais, como se a banda estivesse tocando no fundo do estúdio, e não no centro dele).
Talvez isso tudo não faça muito sentido, mas o fato é que não sou um consumidor assíduo de bandas oitentistas, por mais que saiba reconhecer seu valor.
O caso é que recentemente descobri A Place to Bury Strangers, e adivinhe só: o som dos caras parece um compilado de tudo o que jamais gostei nessas bandas dos anos 80, mas por algum motivo achei a banda sensacional.
Ainda que o primeiro álbum deles seja de 2007, as músicas soam propositalmente como Joy Division e cia. – incluindo aí desde a forma “farelenta” de gravar as composições até os acordes, as distorções, as letras, tudo.
Mas em vez de me causar a já explicada aversão, o som deles bateu redondinho para mim. É triste, sim. É meio deprimente, com certeza. Mas achei gostoso de ouvir, como se o fato de ter sido gravado nos anos 2000 me permitisse apreciar este estilo de música sob outra perspectiva (vai entender).
O Wikipédia diz que A Place to Bury Strangers (excelente nome, vai dizer) é uma banda de noise rock com influências de rock psicodélico, shoegaze e space rock, mas vai por mim: é basicamente um rockão oitentista meio punk e muito sombrio, que vale a pena ser degustado tanto por quem curte o estilo musical dos anos 80 quanto por aqueles que, como eu, nunca se sentiram confortáveis com a sonoridade da época.
As canções são melancólicas e versam sobre temas como relacionamentos fracassados, a incapacidade de se sentir bem consigo mesmo versus o medo de existir, a tristeza inerente ao cotidiano do homem comum e mais um vasto catálogo de sentimentos pessimistas sobre a condição humana que fariam qualquer Albert Camus jogar os bracinhos para o alto. Ainda assim, as músicas são animadas e dançantes, como se feitas para você dançar e morrer enquanto se afunda nos cantos mais escuros e melodramáticos do seu ser – meio curtindo a fossa, meio curtindo a pista.
Não bastasse esta dualidade sonoro-temática e o talento dos sujeitos de fazer você se sentir bem com a própria tristeza, A Place to Bury Strangers já tocou ao lado de bandas como Black Rebel Motorcycle Club e Nine Inch Nails, o que lhes dá bastante moral.
Para começar um lento mergulho nostálgico em direção a sentimentos conflitantes (porém reconfortantes), aumente o volume e aperte o play: