A Morte do Homem-Aranha

0

A história resenhada abaixo foi publicada no Brasil em Ultimate Marvel 23 a 25.

Diferentemente do que acontece no universo tradicional Marvel (o chamado 616) ou mesmo na rival DC Comics, personagens que morrem no universo Ultimate tendem a permanecer dessa forma. O que deveria ser a regra, e não a exceção.

Justamente por causa disso, e mesmo sendo uma versão alternativa do personagem, quando foi anunciado que o Homem-Aranha morreria, a notícia foi recebida com bastante alarde e até grandes veículos de mídia sem tradição na cobertura do que acontece nas HQs repercutiram o acontecimento.

Pois o arco A Morte do Homem-Aranha acaba de ter sua publicação concluída aqui no Brasil, o que torna o momento propício para uma análise dessa história e ver se ela de fato justifica tanto bafafá.

UMA RÁPIDA DIGRESSÃO

É inegável que nos últimos tempos, mais precisamente após o Ultimatum, o personagem vivia uma fase pouco inspirada e as ideias pareciam se repetir, sem o brilho de outrora. Em suma, a meu ver, simplesmente parecia que o escriba Brian Michael Bendis havia esgotado todas as suas ideias e estava girando em falso.

Aparentemente já tendo contado todas as histórias do Aranha que queria contar, só haveria mesmo mais uma opção para tirá-lo da pasmaceira em que se encontrava: sua morte. Seria a última grande história do personagem e um fim digno para Peter Parker, algo que seria impensável de se fazer na cronologia normal.

Com o aval da editora, lá foi ele matar o Homem-Aranha encerrando um ciclo de sucesso num dos títulos de super-heróis mais divertidos e constantes (em termos de qualidade) dos últimos anos.

A TRAMA

Tudo está finalmente bem na vida de Peter Parker nos últimos tempos. Ele reatou o namoro com Mary Jane, J.J. Jameson (que descobriu sua identidade secreta) lhe ofereceu um emprego com horários flexíveis para se ajeitar à sua rotina super-heróica e, para completar, o amigão da vizinhança está sendo treinado pelos Supremos para aprender a ser um herói mais responsável e eficiente. Mas se você já leu ao menos uma HQ aracnídea na vida, sabe que a felicidade do cabeça de teia nunca dura muito.

E a coisa aqui não poderia ser mais simples: Norman Osborn aproveita uma confusão envolvendo os Vingadores e os Novos Supremos numa minissérie completamente diferente (mas que aqui foi publicada na mesma revista, o que facilita a vida do leitor tupiniquim) para fugir do Triskelion (a base da S.H.I.E.L.D.), onde estava preso. E aproveita para levar a tiracolo alguns amiguinhos: Dr. Octopus, Electro, Abutre, Kraven e Homem-Areia. Você deve conhecê-los pelo nome artístico de Sexteto Sinistro.

Osborn, em sua fixação, só quer uma coisa, vingança contra Peter Parker, e claro que ele e seus comparsas rumam direto para a casa do garoto no Queens. E Peter, para defender sua família, terá de dar tudo de si na batalha contra os vilões. Isso inclui sua vida. E já que a saga se chama A Morte do Homem-Aranha, posso falar isso numa boa sem me preocupar com spoilers!

A ANÁLISE

É natural que o embate seja com seu maior e mais antigo inimigo, o Duende Verde, mas a versão Ultimate dele não é tão boa quanto a original, e aqui ela passa quase todo o arco grunhindo. Que baita motivação, não? Fica difícil de entender (e aceitar) o motivo para tanto ódio.

Outra coisa que fica difícil de aceitar é a construção da morte em si. Não vou ficar dando detalhes para não estragar para quem não leu, mas convenhamos, o Aranha já passou por coisas piores que aquilo e em várias delas saiu ileso. Simplesmente não dá para acreditar, por todo o histórico do personagem, que aquela conjunção de fatores o mataria. Ficou parecendo que, já que era a história de sua morte, abriram uma exceção para exterminá-lo de uma forma até bem mundana para os padrões do herói.

Faltou também um pouco mais do elemento épico na história. Poxa, é o final de uma era. As coisas tinham que ser maiores e mais emocionantes. E nesse quesito volta a se encaixar a forma da morte. A história é boa, mas não entra como um dos momentos mais inspirados de Bendis em sua passagem pela revista. Se é para encerrar, que seja inesquecível, e não apenas “legal”.

O desenhista Mark Bagley é o melhor artista a passar pelo título e quem mais soube captar a essência das aventuras dessa versão adolescente do escalador de paredes. Mas, por mais que eu goste do trabalho dele na revista, ele não tem por característica criar aqueles painéis épicos e grandiosos que a ocasião necessita. Faltou aqui uma imagem simbólica, como o Superman caído ao final de A Morte do Super-Homem, Bane quebrando as costas do Batman em A Queda do Morcego ou, para ficar dentro do próprio universo do Homem-Aranha, A Morte de Gwen Stacy.

O arco simplesmente não parece (tanto pela arte, como por certas decisões de roteiro) o megaevento que deveria ser, mas apenas mais um arco comum, com a diferença de que o personagem principal não volta mês que vem. Um tratamento, no mínimo, inusitado.

Mas não me entenda mal, apesar dos problemas, a história é divertida, boa e encerra de forma coerente e satisfatória a jornada de Peter Parker como o Homem-Aranha. E há até espaço para algumas boas surpresas. A redenção de Otto Octavius é uma delas. E essa versão da Tia May, bem diferente da velhinha frágil da cronologia normal, é bem melhor, e nesse arco protagoniza seu melhor momento, esse sim conseguindo emocionar bastante.

CONCLUINDO

Brian Michael Bendis fez um bom final para Peter Parker. Mas bem distante da qualidade, sobretudo, das primeiras histórias do Aranha Ultimate. Ao menos é bem melhor do que as tramas que andava fazendo ultimamente. E dessa forma, o personagem não é diluído com uma sucessão de sagas desnecessárias e de qualidade cada vez mais duvidosa. Desta maneira, nos restam as boas lembranças dos anos de boas tramas desfrutadas.

Contudo, vale lembrar que Peter pode estar morto, mas o legado do Aranha continuará. Só nos resta conferir se o novato Miles Morales conseguirá honrá-lo à altura. E que Peter Parker descanse em paz.