Se você é fã de Psicose (1959), de Alfred Hitchcock, filme considerado por muitos como um dos mais assustadores de todos os tempos (pra mim, o cara era um gênio inigualável), com certeza vai se lembrar da cena do chuveiro e da música aterrorizante igualmente inesquecível, composta por Bernard Herrmann. E, se você tiver uma boa memória, vai também se lembrar da atriz que morreu esfaqueada, a loira Janet Leigh.
Para quem gosta de números, toda a cena do chuveiro teve agonizantes 40 segundos e 34 planos da seqüência, somados a impressionantes posicionamentos de câmeras e uso de som, trilha sonora de Herrmann e a colaboração do artista gráfico Saul Bass na montagem final. Ok, Ok, o filme é espetacular e Hitchcock era um gênio, mas você deve estar se perguntando “o que isso tudo tem a ver com o título acima?”. Pois é, passados 45 anos do estrondoso sucesso, a protagonista do filme, Janet Leigh, infelizmente nos deixou recentemente e, como de costume, o DELFOS preparou um especial em homenagem a ela.
Famosa também por seu casamento com o também ator Tony Curtis, trouxe ao mundo uma filha adorável, a (ótima) atriz Jamie Lee Curtis, protagonista de alguns filmes da série Halloween (a família tem tradição em lidar com psicopatas) e de um espetacular striptease em True Lies.
Janet Leigh faleceu aos 77 anos em Beverly Hills. A causa da morte, dizem, foi a vasculite, uma doença que contraíra há pouco tempo. Mas não vou perder meu tempo falando de sua vida, e sim do que eu mais me lembro dela. É claro que eu estou me referindo à obra-prima Psicose. Se você não viu esse filme, não sabe o que perdeu. Pois eu vou falar: você perdeu a melhor trilha sonora feita para o cinema, talvez o único filme em que a protagonista morre logo de cara, a melhor cena de morte e ainda a descoberta de que todos nós temos dupla personalidade. E Janet parecia ser uma mulher de várias personalidades. Sexy, ao mesmo tempo reservada, talentosa sem ser estrela, tudo nos padrões que Alfred Hitchcock mais valorizava, fosse em uma grande atriz ou em uma mulher completa.
Na época, o filme teve uma repercussão polêmica, pois Hitchcock foi corajoso ao tirar de cena a protagonista logo na metade do filme, coisa que seria praticamente impossível de se fazer hoje, onde os cachês dos atores são altíssimos e suas presenças são impostas pelos estúdios como forma de garantir uma boa aceitação do público. Foi uma escolha arriscada, afinal, estrelar uma produção em que você morre antes da metade do filme precisa ter muita coragem. Mas Janet foi feliz e dona de um merecido sucesso. Com a exceção de Psicose, Janet viveu a maior parte de sua carreira no ostracismo, sem outros grandes sucessos de público ou crítica.
A escolha de Janet para o papel principal em Psicose era mais uma forma de revelar ao mundo a obsessão do velho mestre inglês por loiras geladas (tira a cerveja da cabeça, seu bebum), com rostos singelos e ao mesmo tempo expressivos, corpos esguios e atraentes. E, dizem as más línguas, Hitchcock se apaixonava por todas elas, mesmo sendo casado. A cada nova produção, pensava numa loira para interpretar seus papéis, e ficava na torcida para que a paixão fosse recíproca. Ninguém pode provar se, durante as filmagens, realmente rolou algo mais sério entre Janet Leigh e Hitchcock, mas o fato é que o tratamento dado a ela foi o de rainha, assim como para Kim Novak em Um Corpo que Cai (1958), Eva Marie Saint em Intriga Internacional (1959), Tippi Hedren em Os Pássaros (1963) ou, principalmente, Grace Kelly, em filmes como Disque M Para Matar (1954), Janela Indiscreta (1954) e Ladrão de Casaca (1955), atriz por quem cultivou uma grande paixão.
Sorte de inúmeras atrizes que tiveram o prazer de serem dirigidas pelo mestre. Com Janet Leigh, com certeza, não deve ter sido diferente. Assim, quando seu coração parou de bater, no dia de 5 de outubro de 2004, uma terça-feira tipicamente paulistana, com Sol, frio e chuva no mesmo dia, eu fiquei realmente muito triste. Mas, por outro lado, feliz, por saber que sua alma foi em paz. Ficou imortalizada na seqüência considerada recentemente a mais assustadora do cinema e sem dúvida, viverá para sempre em nossa memória.