A Hora do Espanto original é um clássico. Se não é o precursor, é pelo menos o representante mais conhecido do terror Sessão da Tarde (o que é diferente de terrir). E, como tudo que marcou gerações passadas, mais cedo ou mais tarde seria revivido para as gerações atuais. E foi mais cedo.
Mas este A Hora do Espanto é bem diferente do anterior. Do original, aproveita os personagens e a proposta para criar um filme novo. Mas qual é essa proposta? A de que o vizinho de um adolescente é um vampiro, ora pois.
Assisti ao original pela última vez há quase duas décadas, mas pelo que me lembro, existia certa ambiguidade, não se sabia desde o início que o vizinho de fato era um vampiro. Aqui isso já fica dolorosamente claro na segunda aparição de Colin Farrell.
Outra mudança considerável é no personagem mais memorável do filme: o Maldoso. Quando vi que Christopher Mintz-Plasse, o McLovin’ de Superbad, estava no elenco, imediatamente pensei que ele deveria ser o Maldoso. E era, mas se o destino dele não é assim tão diferente do original, pelo menos acontece muito antes. E, por muito antes, entenda “nos primeiros 15 minutos”. E veja só, só chamam ele de Maldoso uma única vez, o que parece muito mais uma referência para os fãs do original, como quando o nome de Remy LeBeau aparece em um monitor em um dos filmes de X-Men.
As mudanças são bem vindas. É bem mais legal ver um remake que muda e acrescenta coisas do que um daqueles quadro a quadro, como Violência Gratuita. Esse não é o problema de A Hora do Espanto. O problema é o roteiro.
Todos os clichês conhecidos dos filmes de terror estão aqui, e o pior é que eles nem são o principal problema do longa. Refiro-me à falta de sentido e à imensidão de furos. Eu poderia fazer um texto inteiro sobre isso, mas vou citar apenas um e deixar você encontrar os outros, Onde Está o Wally-style.
Em determinada cena, a mãe do protagonista (Toni Collete) enfia o mastro de uma placa de rua no Colin Farrell e, logo em seguida, desmaia sem absolutamente nenhum motivo. Dá para imaginar a conversa entre dois roteiristas que, para efeitos didáticos, vamos chamar de Phineas e Ferb.
Phineas: Então, Ferb, depois dessa cena, a mãe do guri simplesmente desaparece do filme e só volta no final. Precisamos dar algum sentido a isso.
Ferb: Pode crer, Phineas. Vamos fazê-la desmaiar então.
Phineas: Mas, Ferb, isso não faz sentido.
Ferb: Pois aí está minha genialidade, Phineas! Se todos os outros personagens agirem como se algo que não faz sentido fizesse perfeito sentido, o público vai agir da mesma forma.
Phineas: Claro, a tática “Father Ted chutando a bunda do Bispo Brennan”. Genial, Ferb.
Bom, eu já tinha assistido ao episódio em questão de Father Ted, então sou imune a essa tática. E, se você assistir ao novo A Hora do Espanto, vai encontrar várias outras cenas nessa lógica. Conte-as para nós nos comentários.
Assim, este remake de A Hora do Espanto é um filme bastante diferente do original, e também bastante inferior. Se for capaz de gerar alguma diversão – e é – essa diversão está muito mais intrínseca à proposta inicial do que a um bom trabalho da equipe propriamente dito. Existem remakes que fizeram excelentes trabalhos ao reinventar o original, e este não é um deles. Ainda assim, diverte com parcimônia, especialmente os menos exigentes.
CURIOSIDADES:
– O Maldoso do filme original, Stephen Geoffreys, seguiu em frente com uma bem-sucedida carreira de filmes pornô gays. Entre eles, grandes clássicos como Gay Men in Uniform, Cock Pit, Guys Who Crave Big Cocks e, claro, Transexual Prostitutes 2, sem contar o inesquecível papel de “Pizza Delivery Guy” em Leather Virgins. Pois é, parece que não é só o pornô hetero que coloca entregador de pizza como uma profissão dos sonhos.
– Se você acha que o McLovin’ vai seguir pelo mesmo caminho de seu antecessor, grite Butt Blazer nos comentários.
– O interesse romântico do protagonista no filme original é Amanda Bearse, que você deve conhecer de Married With Children. E ela também é homossexual. Curioso, não?