E o Delfos começa a render frutos. Fomos convidados para cobrir a entrevista coletiva do Living Colour e, obviamente, não podíamos recusar.
Confesso que minhas emoções variavam entre a empolgação e o medo. Empolgação, obviamente, por sentir que o Delfos pode ter futuro e por estar, finalmente, trabalhando com algo que eu gosto. Por outro lado, o medo que senti veio da minha eterna insegurança de achar que vou fazer alguma besteira ou mesmo da ignorância de não saber como me portar, como me vestir, o que levar e tudo mais que você possa imaginar. Dramas pessoais à parte, tudo deu certo e foi muito legal. Não fiz pergunta nenhuma, mas eu e meu bloquinho de notas estávamos atentos a tudo que acontecia.
Chegando na sala da coletiva, cumprimentei a assessora de imprensa, com quem tinha previamente conversado, fui escrever meu nome no livrinho dos veículos que vão cobrir o show (aguarde uma resenha este domingo aqui no Delfos) e fui procurar um lugar para sentar, bem perto das mesas onde tinham bolachinhas, café, água, etc.
A entrevista, marcada para começar às 11:45, começou apenas por volta da 1 hora da tarde, quando o primeiro membro da banda entrou na sala (o baterista Will Calhoun) e sentou-se discretamente. Provavelmente por estranhar o tratamento apático dos jornalistas, exclamou um sonoro “Hello!” tirando sorrisos dos presentes. Com a banda toda sentada, alguns minutos foram dedicados para que os fotógrafos fizessem seu trabalho e a entrevista começou.
A primeira pergunta foi sobre a grande diversidade no som do último disco da banda. Vernon Reid disse que o álbum foi gravado duas vezes, uma antes dos ataques de 11 de setembro (acho que nunca vi uma entrevista com uma banda americana na qual este assunto não viesse à tona) e outra depois. Acontece que, depois desse dia, os músicos decidiram mudar algumas coisas no disco, o que resultou em uma nova gravação aumentando, assim, a diversidade.
Também veio à tona o cover que a banda fez para Back In Black, clássico do AC/DC. A música foi escolhida devido à sua forte presença em baladas de Rap nos EUA, onde os DJs costumam usá-la bastante para mostrar seu trabalho. Outro motivo declarado foi que ela tem a ver com a banda, já que eles estão de volta depois de alguns anos de inatividade.
Já o momento mais engraçado da tarde foi quando alguém perguntou sobre o movimento Manguebeat, dizendo que um dos membros deu uma entrevista para uma revista brasileira e exclamou que gostava desse estilo de música. A resposta foi uma cara de espanto de toda a banda, olhando uns para os outros tentando descobrir quem diabos disse isso para a revista. Depois de um tempo, o baixista Doug Winbish apontou para Will Calhoun e disse: “Ele é o cara do mangue!”. Então, Calhoun se tocou e disse que esteve em Recife em 1995 e que conheceu o Maracatu através de um amigo. Esse tipo de som agradou-o por ser muito poderoso e ter um ritmo contagiante. Também acrescentou: “Mas eu nunca ouvi falar de Manguebeat.”
A pergunta básica também foi feita: “Qual a melhor lembrança que vocês têm do Brasil?”. O vocalista Corey Glover então gargalhou e disse que sua melhor lembrança era o Guaraná. Para corrigir o escrachado amigo, Doug interveio: “O Brasil é muito especial para mim, pois os primeiros shows que fiz com a banda foram aqui, no festival Hollywood Rock”.
Nesse momento, o guitarrista Vernon Reid, que estava com um lenço que estampava a bandeira dos EUA amarrado na cabeça foi confrontado com a seguinte pergunta: “Por que você está usando essa bandeira? Você sempre se veste assim ou é um reflexo dos tempos em que vivemos?”. A resposta: “Ser patriota não é apoiar George Bush. (…) Saddam Hussein é uma pessoa terrível e precisava ser detido.”.
Outro momento interessante foi quando perguntaram sobre a relação da banda com Mick Jagger. Doug respondeu que tocava na banda de Jagger quando este foi assistir a um show do Living Colour no lendário clube nova-iorquino CBGB e, como gostou do que viu, os ajudou a produzir uma demo. Mas a relação do vocalista dos Rolling Stones com o Living Colour não pára por aí. Jagger também teve um papel importante na volta da banda. Doug relatou que Mick disse a ele: “Se eu consegui resolver meus problemas com Keith Richards, tenho certeza que vocês conseguem resolver os seus”. O mais legal dessa parte da entrevista é, infelizmente, impossível de ser reproduzida aqui, pois Doug contou esta história imitando a voz e os trejeitos de Jagger, arrancando gargalhadas de todos os presentes.
Outra perguntinha básica: “O que vocês acham do compartilhamento de músicas pela Internet?” Com a resposta, Corey Glover: “Temos opiniões diferentes sobre isso. Alguns da banda curtem, outros não. Acho curioso que existem pessoas para os quais ter aquela música rara é tão importante, que ela arrisca ter que responder a um processo legal por causa disso. Mas se essa pessoa dá tanto valor para aquela música, acho que ela deve ter a possibilidade de pegá-la.”.
Sobre projetos para o futuro, a banda planeja lançar um DVD ao vivo, Vernon Reid está gravando um CD instrumental que vai sair pela gravadora Favored Nations e Corey Glover atuou em um filme chamado American Reunion que sai no verão americano. A banda também pretende fazer algo novamente com Lenine (eles participaram de seu último álbum, Falange Canibal) e disse que vão tentar entrar em contato com ele.
A pergunta final foi se eles estavam planejando algumas surpresas, como na última visita da banda, quando Doug tocou seu baixo com um cinzeiro. Este, o grande palhaço da banda, nem se tocou que estavam falando com ele, pois estava muito entretido filmando o lugar. Ao ter sua atenção chamada pela banda, ele escondeu sua câmera e respondeu que tem outros truques na manga e quem for ao show verá. Bom, o Delfos vai estar lá, então veremos.
Quero finalizar agradecendo à Miriam do Via Funchal pelo ótimo tratamento e aguardem este domingo uma resenha do show de sábado, com fotos e tudo mais. Não deixe de ler!