Pode ser que você nunca tenha ouvido falar da série Wasteland. Eu mesmo não tinha, até mais ou menos um ano atrás. Estava desempregado, amaciando o couro do sofá e explorando a PS Store quando encontrei um tal de Wasteland 2. A descrição era promissora: um RPG old-school, de visão isométrica, cuja narrativa se desenrolava na vastidão árida de um futuro pós-apocalíptico. Para atiçar minha curiosidade, o jogo também trazia combate por turnos, algo que muito me agrada – XCOM 2, eu te amo.

Pelo título, não era difícil imaginar que se tratava de uma sequência. Mas sequência de quê? Se esse Wasteland 2 já me era desconhecido, mais desconhecido ainda era o fato de existir um Wasteland original. Mas havia um motivo para isso, e um dos bons. Pesquisando aqui e ali, descobri que Wasteland, o primogênito, era um jogo lançado em 1988, três anos antes de vir ao mundo este que vos escreve. Deve ser por isso que me passou batido!

Wasteland, PS4, Xbox, PC, Inxile, Deep Silver, Delfos
Esses eram os gráficos do Wasteland de 1988.

Wasteland 2 foi lançado em 2014. Portanto, levou nada menos que 26 anos para sair do forno. Nesse meio tempo, alguns outros RPGs inspirados em sua fórmula ganharam o mundo. O mais famoso deles foi um joguinho chamado Fallout (e sua sequência, Fallout 2). Posteriormente comprada pela Bethesda, contudo, a franquia Fallout logo se viu transformada em uma criatura bem diferente, com a visão isométrica substituída por primeira pessoa e um reformulado sistema que abandonava o combate tático.

O PREÇO DE UM RPG

Por um bom tempo houve uma lacuna na oferta de RPGs pós-apocalípticos mais tradicionais, daqueles que emulam o ato de jogar sentado à mesa usando lápis, papel e dados. Wasteland 2 parece ter retornado precisamente para atender aos fãs desse gênero, o que se comprova por sua bem-sucedida campanha no Kickstarter: o objetivo de 900 mil dólares foi alcançado em apenas dois dias, e o valor final arrecadado chegou a quase três milhões.

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Imagem meramente ilustrativa de 3 milhões.

Falando em dinheiro, eu demorei um pouco para realmente jogar Wasteland 2. Quando o descobri na PS Store, uns parágrafos acima, ele já tinha cinco anos de idade, mas ainda custava o preço cheio (250 tampinhas). E, como disse, eu estava desempregado. Tudo bem que a vontade de jogá-lo era grande, mas a de ter comida na mesa era maior.

SAINDO DO SOFÁ

Eventualmente saí do sofá, arranjei um emprego e descobri que a mídia física do jogo custava menos da metade que a versão digital. Parecia um bom negócio, e de fato era: joguei Wasteland 2 por uns dois meses sem tirar de dentro (o CD do console) e gostei da experiência. Me afeiçoei aos personagens, me envolvi com a narrativa e tremi na base ao tomar decisões que poderiam mudar (e de fato mudaram) o mundo daqueles personagens. Fiz escolhas que salvaram vidas. Outras, que dizimaram cidades. Inocentes morreram, ainda que ninguém fosse realmente livre de culpa. Era um game sombrio e alegórico, cheio de humor negro e piadas infames (risadas e violência extrema são duas constantes por aqui). Uma obra cinzenta – na acepção moral do termo – que zombava do fim do mundo e da sociedade que representava. Curti bastante, e passei mais de 50 horas imerso naquele universo. Mas aí…

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Um típico personagem de Wasteland 2.

Mas aí, uns meses atrás, decidi que tentaria fechá-lo de uma vez. Sentei na frente da TV, sobranceiro e fornido, e me preparei para enfrentar as ameaças pós-nucleares do Arizona (é lá onde o jogo se passa). Só para descobrir que um bug me impedia de progredir na história principal. Ao entrar no cenário da missão, uma cena era ativada para mostrar os inimigos emboscando meus personagens. Mas a cena simplesmente congelava e não saía dali.

PELO PAPAGAIO DE SATANÁS!

Reiniciei o jogo, várias vezes. Depois, reiniciei o console. Como última alternativa, desinstalei o game e reinstalei. Nada funcionou. Meu save estava corrompido, assim como o mundo do próprio jogo. O que fazer? O último save manual me levaria de volta lá para o início, quando eu mal tinha jogado as primeiras 20 horas. E aí, o que fazer?

Me despedi mentalmente dos personagens, desinstalei o jogo e deixei pra lá. Foi uma pena, mas de jeito nenhum eu jogaria as mesmas 30 horas de novo por causa de um bug, arriscando chegar na mesma parte (pela segunda vez) e o jogo bugar de novo. Já pensou? Sem essa. Aqui no DELFOS valorizamos nosso tempo.

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Scotchmo: um beberrão cheio de graça – e meu companion favorito.

O jeito foi me consolar com a doce aproximação de Wasteland 3, que seria lançado dali poucos meses. Isso foi lá em março, quando começamos o isolamento social deste maravilhoso ano de 2020. Por conta do coronavírus e suas repercussões, entretanto, a desenvolvedora inXile Entertainment precisou adiar o lançamento (que deveria ser em maio) para 28 de agosto.

BOA NOTÍCIA

A boa notícia é que já estou com o jogo em mãos. Isso mesmo: Wasteland 3 está entre nós! A má notícia (e ela nem chega a ser tão ruim assim) é que vou demorar um pouco mais que o habitual para analisá-lo. Primeiro porque ele é enorme: de acordo com os desenvolvedores, podemos esperar algo entre 60 e 100 horas de duração. E segundo porque, como eu disse, agora eu tenho um emprego – e parece que o trabalho duplicou nesta quarentena (levante a mão se você também está trabalhando das 8h às 20h).

Em compensação, não publicarei apenas uma resenha, mas sim uma série de textos interconectados, explorando tanto a parte técnica quanto o aspecto narrativo do game. Mais ou menos como fiz na série The Solus Project – Diário de Bordo, mas com toda a sustância e liberdade que um RPG com R maiúsculo pode proporcionar.

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Esses são os gráficos do Wasteland de 2020.

A primeira parte dessa série deve sair na semana que vem. O restante virá naturalmente, à medida que eu for avançando no gameplay. Não jogarei com pressa, pois quero desfrutar do jogo e ter certeza de que farei uma análise justa (e robusta). Eu estou bem empolgado, e você?

Para acompanhar nossa cobertura completa de Wasteland 3, mantenha-se delfonado!