The Division 2 está entre nós. E eu não me lembro de algum outro jogo que tenha me deixado tão dividido. Eu tive aqui alguns dos mais divertidos e empolgantes momentos gamers do ano. Mas também tive as maiores frustrações.Em seus melhores momentos, The Division 2 é um jogo de ação excelente, com um ótimo gameplay e audiovisual impressionante. Em seus piores, é uma bagunça técnica com decisões estapafúrdias de design e um multiplayer que, ou não funciona direito, ou simplesmente não tem gente suficiente jogando.
TOM CLANCY’S THE DIVISION 2
Você provavelmente já sabe disso: The Division é a resposta da Ubisoft aos jogos como serviço. Aqueles que querem ser jogados para sempre em busca de loot. É o caso, também, de lançamentos como Anthem e Destiny. Porém, Anthem apresenta uma jogabilidade nova, um jogo do Homem de Ferro sem a licença da Marvel. Destiny, por outro lado, é um FPS tradicional, mas tem o melhor gameplay do gênero.
The Division 2 é mais comum. A jogabilidade é de um cover shooter tradicional, muito semelhante à de Gears of War, por exemplo. Seu visual realista, típico de um jogo com a marca Tom Clancy, também o torna mais comum.Dito isso, a ambientação e a jogabilidade são boas o suficiente para tornar o loop de gameplay prazeroso. The Division 2 também tem um fator que o diferencia de seus concorrentes: é um jogo da Ubisoft. Com isso, vem aquele tradicional mundo aberto cheio de colecionáveis e atividades secundárias. É aí que a coisa começa a ruir.
MULTIPLAYER
Este é um jogo pensado para ser jogado em multiplayer. Porém, ao contrário de Destiny, é praticamente impossível jogá-lo sozinho. E, ao contrário de Anthem, é muito difícil encontrar parceiros.
Você pode ativar matchmaking para missões de história, ou então pode pedir backup para as atividades de mundo aberto e side missions. O problema é que demora muito para o jogo te juntar com alguém, isso quando junta. Para você ter uma ideia, um dia eu passei uma tarde inteira jogando e não consegui encontrar um parceiro.E jogar sozinho é difícil e frustrante. Todas as missões envolvem tiroteios contra literalmente centenas de inimigos. Há checkpoints, mas você morre muito rápido, a ponto de ir de vida cheia para a morte em dois segundos.
No mundo aberto é que a coisa pega. O mapa é repleto de inimigos, e é muito difícil passar por eles sem ser visto. E se você for visto, eles te perseguem para sempre. Você precisa lutar. E, caso esteja sozinho, provavelmente vai morrer. Daí entra a pior decisão da desenvolvedora: ao morrer, você só pode renascer em um dos pontos de fast travel.Isso significa que, se você estiver tomando um ponto de controle inimigo – ou qualquer outra atividade do mundo aberto – e morrer, vai perder todo o seu progresso e vai ser teletransportado para muito longe dali.
Caso você esteja jogando com pelo menos mais uma pessoa, a coisa já melhora consideravelmente. Afinal, você pode reviver seus coleguinhas. Caso não seja revivido, no entanto, entra outra decisão estapafúrdia: você precisa renascer em um fast travel – o que envolve uma longa tela de carregamento, e daí se teleportar para o coleguinha – outro carregamento longo. Da morte até você reaparecer na batalha, podem passar mais de dois minutos. Por que não dá para reaparecer logo junto com seu amigo? E por que tantas telas de carregamento? Destiny, por exemplo, revive o jogador próximo a onde morreu e imediatamente, o que é essencial para um jogo assim.
MUNDO ABERTO
Esta dificuldade e frustração fizeram com que o mundo aberto de The Division 2 não fosse aprazível como deveria ser, mas apenas um impedimento para que eu usufruísse do que o jogo tem de melhor. Um bom mundo aberto incentiva o jogador a explorar, a se perder, a admirar a atmosfera. A Ubisoft sabe disso. A editora praticamente só faz jogos de mundo aberto, e eu diria inclusive que os melhores jogos desta categoria são dela. Porém, jogando sozinho The Division 2 é tão punitivo que elimina totalmente a vontade de explorar.
Depois de algum tempo, eu simplesmente parei de explorar e comecei a ir direto de uma missão para outra, mas nem isso diminuiu a frustração. Os inimigos são tão frequentes e você morre tão rápido que simplesmente andar até a fase se tornava um grande desafio. Algumas vezes eu tive que voltar para o mesmo ponto de fast travel três ou quatro vezes até conseguir chegar à missão vivo.E não dá para você subir de nível e deixar o jogo mais fácil, porque os inimigos sobem de nível junto com você. É possível estar no nível 10 e encontrar um vilão de nível 25, mas não dá para estar no nível 25 e encontrar um de nível 10.
COOP
A coisa muda completamente quando você está jogando com alguém. O jogo deixa de ser frustrantemente difícil para se tornar deliciosamente desafiante. Ou seja, ele nunca chega a ser fácil, mas a simples possibilidade de ser revivido torna tudo mais equilibrado.E as missões, jogando em grupo, são excelentes. Elas colocam você para soltar uns pipocos em museus e pontos turísticos de Washington, e são tão lineares e cinematográficas quanto as que vemos em um Gears of War.
Daí o motivo pelo qual ele me deixou dividido. Eu gosto de jogos de tiro, e The Division tem fases boas o suficiente para estar entre os melhores do gênero. Desde que você consiga ser juntado com alguém.E achei isso curioso. No primeiro The Division, eu me lembro de simplesmente começar a jogar uma fase e pouco tempo depois já estar em um grupo completo de forma indolor e natural.
Aqui isso não acontece. Se eu começo uma fase sozinho, tenho grandes chances de terminá-la sozinho, ou então tenho que esperar um bom tempo para ser juntado com outra pessoa. Grupos completos de quatro pessoas são raríssimos por aqui. Quase toda minha campanha foi jogada com apenas uma outra pessoa.É difícil dizer saber o motivo. Talvez seja culpa dos servidores brasileiros. O jogo só te junta com outros brasileiros, e talvez não haja compatriotas suficientes jogando. Talvez seja o fato de eu ter escolhido jogar este no Xbox One. Afinal, todos sabemos que o PS4 é mais popular, então deve ter mais gente jogando lá. Por fim, quiçá seja um simples problema técnico, que logo seja resolvido e então seja fácil arranjar grupos. No momento, infelizmente, encontrar outro jogador em The Division 2 no Xbox One é um evento. E isso na semana do lançamento. Temo como as coisas estarão em um ano.
DARK ZONE E PVP
Curiosamente, os melhores momentos que tive jogando sozinho foram na Dark Zone. Cada uma das três Dark Zones tem uma missão introdutória single player. Estas foram as únicas em que me senti incentivado a explorar. Além de estar sozinho, o que obviamente deixa tudo mais lento, há menos inimigos. Quando vêm inimigos nestas missões, são uns 10, e não duzentos (e não, isso não é exagero). Assim, ao invés de ficar 10 minutos no mesmo lugar matando gente, eu lutava um pouco, andava um pouco e assim sucessivamente. É um timing mais agradável para se jogar sozinho.
Depois destas missões introdutórias, você pode voltar às Dark Zones em busca de loot e de lutar contra outros jogadores, mas em geral eu encontrava apenas inimigos AI por ali. Não me lembro de ter visto nenhum outro jogador na Dark Zone em minhas andanças.Há também um modo de PVP organizado, como em Destiny, mas adivinha só: eu deixei o matchmaking rodando por 25 minutos e ele encontrou um único jogador.
Como você pode perceber, o principal problema de The Division 2 em todos os seus modos de jogo é quão pouca gente o está jogando. E isso, em um lançamento focado exclusivamente no multiplayer, é algo gravissimo.
CONTEÚDO DE MONTÃO
Ao contrário do que vemos em seus concorrentes, The Division 2 tem conteúdo de montão. Tem uma pá de missões de história, sidemissions e atividades. Para você ter uma ideia, sem repetir conteúdo, eu joguei ele por um dia e 13 horas. E tem um monte de coisa que ainda não vi.
Neste tempo, eu cheguei ao nível 28, de um máximo de 30, fiz várias atividades de mundo aberto, todas as sidemissions e quase toda a história. Quase toda? Pois é, a que eu acredito ser a última missão só pode ser acessada por quem está no nível 30, e eu não consegui chegar a este nível.Quando meu mapa ficou praticamente limpo, e eu ainda estava no nível 28, fui para o matchmaking para tentar encontrar parceiros para, como o jogo chama, “qualquer atividade”, e ele simplesmente não achou ninguém.
Assim, a minha única opção era repetir missões de história sozinho o que, como já deixei claro, é inviável.
ENDGAME
Como é comum nestes jogos como serviço, The Division 2 tem todo um endgame programado para você repetir as atividades em busca de loot cada vez melhor. Aparentemente, há até classes de personagens que modificam consideravelmente o jogo, mas eu não consegui chegar lá para dar minha opinião, devido à falta de gente jogando.Vou tentar jogar The Division 2 mais algumas vezes, pelo menos para terminar a história. Se for o caso, volto a falar sobre ele por aqui.
Todos os problemas de The Division 2 poderiam ser resolvidos se ele funcionasse como Gears of War. Ou seja, se você está jogando sozinho, seus companheiros são controlados pelo computador, e podem te reviver. Isso tornaria todas suas atividades jogáveis mesmo que não fosse possível encontrar parceiros.Infelizmente, Tom Clancy’s The Division 2 depende de outros jogadores humanos para ser perfeitamente usufruído, e aparentemente não há gente suficiente jogando para formar grupos. Talvez a coisa seja melhor no PS4, mas no Xbox One, neste momento, não tem gente suficiente nem para terminar a história.