Runner2, o precursor de Runner3 (não diga), representa para mim um dos poucos momentos em que eu senti que valia a pena pagar a Playstation Plus. Quando ele saiu, eu joguei um demo, e gostei, mas fiquei um tanto inseguro quanto a comprá-lo. Pouco tempo depois, ele fez parte dos jogos disponíveis para assinantes e eu o baixei e joguei até meus dedos ficarem calejados.
Pois é, eu realmente me diverti muito com Runner2. E por isso estava bastante empolgado para esta continuação. Pois é, em uma semana de dois grandes lançamentos exclusivos (State of Decay 2 e Detroit Become Human), minha atenção estava concentrada neste humilde indie 2.5D.
HYPER!
Pelas imagens desta matéria, você pode pensar que Runner3 se trata de um plataforma 2.5D, e não estaria totalmente errado. Ele é, porém, um pouco mais complexo do que isso. Se Way of the Passive Fist é um jogo de ritmo que parece e dá a sensação de um beat’em up, Runner3 é um jogo de ritmo que parece e dá a sensação de um plataforma 2.5D.
Funciona assim: seu personagem corre sozinho, e você deve reagir ao cenário da forma apropriada para progredir. Isso envolve pular, se agachar, chutar, planar e outras ações típicas dos plataformas clássicos. A ação correta, além de te manter vivo, produz sons, que vão formando a música da fase.
Erre uma ação e você volta bastante. Cada fase tem um único checkpoint mais ou menos na metade, mas a verdade é que isso é muito pouco dada a complexidade do game design em exibição aqui. Nenhuma fase é realmente longa. Sem mortes, devem durar entre dois e três minutos cada. Porém, é comum morrer 40 vezes ou mais em cada uma delas, então prepare-se para gastar 30 minutos ou mais em um capítulo do jogo.
Ao contrário do anterior, que começa simples e vai ficando mais complexo conforme você avança, aqui a coisa é bem mais cascuda. Na primeira fase mesmo eu já morri mais do que gostaria de admitir.
Meu problema com ele não é nem a dificuldade, mas a ausência de checkpoints. Curiosamente, cada fase tem quatro radinhos espalhados que, ao serem coletados, dão uma turbinada na música. Seria bem apropriado que cada um deles fosse um checkpoint, ao invés de apenas um na metade.
Façamos uma comparação com Guitar Hero. Já pensou se, ao errar uma única nota você voltasse 60 segundos na música? É mais ou menos isso que acontece desde o início em Runner3. Ele exige uma perfeição por tanto tempo que acaba prejudicando seu timing, tornando-o muito mais repetitivo do que o necessário.
SUPER!
Isso não significa que eu não gostei dele. Eu gostei, mas é inegável que ele se torna hardcore muito mais rápido do que seu antecessor. Eu mostrei Runner2 para bastante gente com menos habilidades nos games, uma vez que suas primeiras fases são bem agradáveis e divertidas. Em Runner3, a maioria dessas pessoas provavelmente largaria o jogo antes de terminar a primeira fase.
Tirando a dificuldade, não há muitas novidades no gameplay. Ele continua tão bom e divertido quanto era antes, mas os gráficos agora estão ainda melhores. Se não tecnicamente, o design dos personagens e dos cenários é de uma simpatia que é difícil vermos em jogos que não são desenvolvidos pela Nintendo.
Aliás, já que falamos na Nintendo, Runner3 tem uma característica bem bacana, que até já estava presente no anterior: a narração é feita por Charles Martinet. Se o nome não parece conhecido, com certeza você já ouviu o trabalho dele, especialmente falando “it’s me, Mario!”. =D
ULTRA!
Voltando às novidades, o gameplay desta vez é bastante variado. Ao longo das fases, você vai assumir controle de karts, aviõezinhos, carrinhos de mina (Donkey Kong Country feelings) e até de uma bola de boliche.
Além disso, a câmera se aproveita bastante da versatilidade oferecida pelo 2.5D, e constantemente mostra a ação de ângulos mais estilosos. Verdade que no gameplay isso mais atrapalha do que ajuda (é comum bater em algo enquanto a câmera se mexe), mas deixa o jogo bem mais bonito e impressionante.
A novidade mais legal, no entanto, merece um intertítulo só para ela.
MEGA!
Além de um jogo de ritmo/plataforma em 2.5D, há um jogo secreto em Runner3. Chamado de Retro Game, é um plataforma 2D tradicional, com dezenas de fases exclusivas, mundos diferentes e até seu próprio mapinha de seleção de fases à Super Mario Bros. 3.
O anterior também tinha um retro game, mas era basicamente o mesmo jogo com visual pixelado. Aqui, além de ter uma jogabilidade única e mais tradicional, o visual é o de desenhos animados antigos. Você sabe, os mesmos que inspiraram Cuphead.
Estas são fases nas quais seus movimentos são livres e dá para ir para onde quiser. Para manter o estilão hiperativo do jogo, caso você não chegue à saída em 45 segundos, morcegos começam a aparecer e a voar na sua direção. Dá para destruí-los, mas quanto mais tempo passa, mais deles aparecem, tornando tudo mais difícil.
Estas fases de plataforma pura não são tão difíceis quanto as do jogo principal, mas são bastante divertidas e caprichadas. Fico até curioso com o motivo que levou a Choice Provisions a travar um jogo completo de tamanha qualidade atrás de colecionáveis escondidos (no caso, são fitas VHS). Se fosse eu, teria colocado a opção de jogar este extra no menu principal, ou se estivesse me sentindo particularmente capitalista, venderia ambos os jogos separadamente e em um pacote duplo.
Eu estava jogando Runner3 antes do lançamento, então tive que encontrar estas fitas por conta própria, mas quem jogar posteriormente poderá usar guias e assim liberar o Retro Game com mais facilidade. E eu recomendo que você o libere o mais rápido possível, pois é um complemento muito legal ao 2.5D.
EXTRA! Runner3
Tem conteúdo adoidado em Runner3. São dois jogos completos e feitos com muito carinho, somando 70 fases (40 no principal e 30 no Retro).
Poderia ser um pacote perfeito, se não fosse sua inacessibilidade e a quantidade de loads. Pelo menos no Switch, os loads são frequentes e longos. Há uma espera de pelo menos uns 30 segundos apenas para ir de uma área do mapa a outra, e carregar uma fase demora ainda mais tempo. Felizmente, ao morrer, você pode tentar de novo imediatamente.
Há também chefes e uma pá de personagens jogáveis que, embora sejam apenas skins, sem habilidades próprias, têm muita personalidade.
Trata-se de uma compra facilmente recomendável para fãs de plataforma e de jogos de ritmo, que combina ambos em um pacote com um gamedesign impressionante. Vai exigir um pouco de paciência e bastante repetição, mas se você for hardcore o suficiente, vai se divertir deveras.