Que eu gosto muito da obra de Neil Gaiman, creio que a essa altura do campeonato nem preciso dizer. Mas, em todo caso, falarei de novo: o escriba inglês é um dos meus autores favoritos, seja nas HQs, seja na literatura em prosa. Contudo, isso não quer dizer que eu considere tudo que ele coloca no papel maravilhoso.
Seu último romance, O Oceano no Fim do Caminho, por exemplo, achei um tanto repetitivo tematicamente. E seus próprios contos, embora bons de se ler, não são algo que eu considere tão marcante quanto suas histórias mais longas. Digo isso porque acaba de chegar por aqui Alerta de Risco, seu terceiro livro de contos, após Fumaça e Espelhos e Coisas Frágeis (o qual foi dividido em dois volumes no Brasil, mas originalmente foi publicado como um livro só).
Temos aqui mais 24 histórias curtas de Gaiman, das quais quem já conhece outros de seus contos e leu suas coletâneas anteriores sabe bem o que esperar. O mágico e o onírico, com um toque de sinistro e às vezes uma pitada de assustador. Tramas principalmente fantasiosas, mas sempre com um toque de realidade para fazer o cruzamento entre o melhor de dois mundos.
Dizer que a essa altura do campeonato Neil já domina esse tipo de narrativa é chover no molhado, e seu estilo e suas técnicas continuam certeiras como sempre. Embora, desta vez, não tenha me divertido tanto quanto lendo suas coletâneas de contos anteriores. Não sei se é por certo cansaço das temáticas repetidas que ele tanto gosta ou se eu é que estava mais a fim de ler algo diferente no momento, mas o fato é que este novo trabalho não me agradou tanto quanto os outros.
Ainda é uma leitura muito boa, e dos contos presentes há alguns que vale a pena destacar. Dentre eles Caso de Morte e Mel, uma história do final de carreira de Sherlock Holmes. Em Coisas Frágeis, ele já havia incluído um conto estrelado por Holmes, porém passado no universo de H.P. Lovecraft. Este aqui é totalmente dentro da mitologia de Arthur Conan Doyle.
O Homem Que Esqueceu Ray Bradbury é uma sincera homenagem a um de seus autores favoritos, além de uma de suas principais influências. Hora Nenhuma é uma aventura do Doctor Who, estrelada pelo décimo primeiro Doutor, tão boa que bem poderia ser adaptada como roteiro para a série de TV (ele já assinou dois episódios para o seriado).
A Volta do Magro Duque Branco é uma aventura de fantasia inspirada pelo famoso e controverso alter-ego criado por David Bowie.
E, por fim, Cão Negro, mais um conto estrelado por Shadow, o protagonista de Deuses Americanos, seu primeiro romance. Gaiman novamente escreve uma história separada, que pode ser apreciada por quem não leu o livro. E parece deixar claro seu carinho pelo personagem e seu mundo, talvez dando a entender que ele possa revisitá-los, não apenas em histórias curtas, como tem feito, mas talvez em algo mais longo num futuro próximo.
Estes são os destaques desta compilação. As histórias que mais me divertiram enquanto lia. Outro bom número, é preciso dizer, são bem descartáveis e esquecíveis, o que reforça essa minha sensação de que Alerta de Risco não está no mesmo nível de suas prosas mais longas ou mesmo de muitos dos contos presentes em coletâneas prévias. Seja como for, Gaiman é um autor tão acima da média, que mesmo um trabalho menos inspirado ainda é uma ótima opção de leitura.