Aragami

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Aragami é um jogo de stealth onde você controla um ninja colorido através de belíssimos cenários e uma trilha sonora com sabor oriental. Curiosamente, a Lince Works, desenvolvedora do game, é espanhola, e não japonesa.

O visual de Aragami é praticamente um desenho animado, cheio de cores vivas e um estilo bem legal. As músicas são bem sutis na maior parte do tempo, mas são muito bonitas e, em alguns momentos mais adrenalísticos, rola até uma guitarra e outros instrumentos mais modernos, gerando uma mistura de ritmos bem legal.

Temos aqui um daqueles jogos de stealth sem combate. Com isso, quero dizer que, ao ser avistado, você não consegue ficar e lutar, como num Assassin’s Creed. Ou você mata o cara que te viu antes de ele ter tempo para reagir, ou o jeito é fugir.

PODEROSO

Curiosamente, ele não é tão difícil e, apesar da fragilidade do protagonista, você até se sente poderoso com a diversa gama de habilidades que pode usar para despachar seus desafetos. Você pode matar os inimigos com um golpe de espada, mas isso vai deixar o presunto à vista, o que pode alertar seus patrícios. Felizmente, você pode destravar uma habilidade que faz presuntos desaparecerem, o que é uma mão na roda.

Mais legal ainda é uma skill um pouco mais avançada que envolve chamar um monstro das trevas que come os inimigos, despachando-os sem deixar rastros. Isso não é uma opção quando você for avistado, uma vez que, para chamar o bicho, é necessário segurar o quadrado por um ou dois segundos estando próximo de um guarda. Porém, quando eles não têm ideia da sua presença, é deveras prático pois, em um único golpe, você elimina o pusilânime e qualquer traço da sua existência.

Outro poder muito útil leva o nome de “Shinen”. Trata-se de um buraco negro portátil. Você pode colocá-lo no chão (ou, numa versão melhorada, em inimigos vivos) e ativar quando quiser, fazendo desaparecer todos os inimigos próximos.

Eu demorei para pegar este upgrade porque não sou muito de fazer armadilhas, no entanto não demorou para eu ver sua utilidade. Tem áreas com três ou mais guardas próximos, o que deixa difícil eliminá-los um a um sem ser visto. Com o Shinen, você pode se posicionar no meio deles, deixar a armadilha, tocar o sininho que leva no braço (o que faz com que eles investiguem o local de onde veio o barulho) e se teleportar para longe. Quando eles estiverem parados em cima da armadilha, ative e se livre de todos de uma vez (até rola um troféu na primeira vez que você faz isso). Para melhores efeitos, enquanto eles gritam e são sugados pelo buraco negro, gargalhe lentamente sua melhor risada de supervilão.

UPGRADES

Ah, sim, e além desses poderes de ataque, você tem também poderes defensivos, como ficar invisível, mas sabe como é, eu acredito que a melhor defesa é o ataque. No entanto, se você gosta do desafio de passar pelas fases sem ser visto e sem matar ninguém, também é possível, e você ganha medalhas específicas ao concluir uma fase sem vítimas, matando todo mundo e sem ter sido detectado.

Tem também habilidades de locomoção, das quais a mais útil é se teleportar para qualquer lugar próximo que esteja nas sombras. Não tem sombras próximas? Ora pois, então crie suas próprias sombras e se teleporte para elas. Os poderes são realmente bem criativos, legais e variados, gerando possibilidades lúdicas para todos os tipos de jogadores.

Para comprar os upgrades, você precisa colecionar scrolls espalhados pelas fases. É possível gastar seus primeiros scrolls para que o jogo te mostre a localização de todos eles. O preço de três pergaminhos para habilitar isso pode parecer caro a princípio, mas eu recomendo que você compre assim que possível, pois alguns upgrades estão bem escondidos e com essa habilidade você consegue pegar todos sem necessitar de guias. Poucos minutos depois de ter adquirido este upgrade, você já vai ter recuperado o preço dele e mais um pouco.

Para ver a localização dos scrolls e seu próximo objetivo, basta apertar o direcional digital para baixo. O lado ruim é que isso centraliza a tela no objetivo e as localizações ficam iluminadas por poucos segundos e os símbolos são bem sutis, o que deixa mais difícil do que deveria ser ver a direção de scrolls que estão distantes dos objetivos principais.

PROBLEMAS TÉCNICOS

Apesar de ser um jogo visualmente lindo, há uma gama de problemas técnicos que incomodam bastante. O mais comum são pequenas travadinhas. Elas são bem curtas, durando décimos de segundo, mas são perceptíveis e frequentes o suficiente para atrapalhar, chegando até a causar algumas mortes quando acontecem em momentos mais inoportunos.

Outro problema é de design. Sabe-se lá por qual motivo, a Lince Works optou por colocar a mira do lado esquerdo do personagem. A maioria dos gamers estão acostumados com ela do lado direito, trocando para o esquerdo apenas em momentos em que isso possibilita uma melhor visão. Em Aragami, ela está sempre do lado esquerdo, sem poder ser trocada, e isso atrapalha bastante.

Para completar, a mira não é suficientemente precisa, especialmente quando você precisa se teleportar para as sombras rapidamente. É comum você estar apontando o cursor para uma sombra ou para uma plataforma e o jogo simplesmente não deixar você se teleportar para onde deseja. Em plataformas, isso é ainda mais grave, pois você pode querer subir nelas, mas o jogo resolve que só vai deixar você se teleportar para o lado da plataforma, o que obviamente faz você cair em lugares iluminados e ser avistado.

UMA LONGA AVENTURA

Considerando que Aragami é um jogo feito para download e precificado de acordo, ele é até bem longo. Há treze fases, sendo que a maioria delas leva entre 30 e 60 minutos para ser completada, e a imensa maioria delas são bem legais.

O problema é quando o jogo tenta apresentar variações e acaba sofrendo por isso. Por exemplo, com chefes. O primeiro chefe é uma coisa extremamente chata e monótona, e eu dei o azar de ter sofrido com problemas técnicos.

O que aconteceu foi o seguinte: para vencer o primeiro chefe, você precisa destruir luzes no cenário, o que faz com que seu escudo suma. Quando ele estiver sem escudo, você deve se aproximar sem ser visto e atacá-lo. Faça isso três vezes para vencer. Ok, isso até é uma fórmula bem tradicional para chefes em jogos de stealth. O problema é que eu acertava a primeira vez, mas não conseguia acertar a segunda.

Obviamente, achei que estava deixando de fazer algo. Eu quebrava o escudo, me aproximava dele sem ser visto e nunca aparecia o prompt de ataque. Fiquei tentando opções, como atacar de cima, ou de longe, e perdi muito tempo nisso até que resolvi sair e voltar ao jogo torcendo para que fosse um problema técnico. Era. Depois de reiniciar, eu conseguia atacá-lo normalmente. Isso fez com que eu perdesse 90 minutos em uma batalha que poderia ter durado dois ou três e afetou consideravelmente a nota do jogo.

Pouco depois, há uma fase como as outras, com inimigos, colecionáveis e tudo, com o diferencial de que vai ter uma sniper que sente a sua presença. Isso significa que você vai passar a fase toda com a mira dela no seu personagem e, se ficar mais de um ou dois segundos fora de uma cobertura, você morre. Como qualquer tipo de ataque nos inimigos normais leva mais tempo do que isso, o negócio não demora para se tornar monótono e repetitivo.

Inclusive o último chefe, embora não seja exatamente interessante, é bem mais leve do que os dois anteriores e sequer afetaria a nota se o que viesse antes não fosse tão fraco.

A real é que passei vários dias jogando as primeiras fases de Aragami e me divertindo bastante. No entanto, todas essas partes chatas vieram no último dia, pois elas estão todas próximas do final. Talvez não parecesse tão chato se elas viessem mais espalhadas por toda a campanha, ao invés de concentradas no último terço do jogo, fazendo com que a diversão do início se transforme em tédio e, eventualmente, em alívio, quando você consegue passar.

ARAGAMI

Apesar da reta final fraca, tem bastante coisa legal por aqui. Tivesse três fases a menos (as três chatinhas que estão perto do final), o jogo poderia ser bem mais recomendável. Ainda assim, são três fases em 13, o que significa que temos 10 fases divertidas e interessantes. Isso faz com que Aragami seja um bom jogo de stealth, com alguns problemas não ignoráveis, mas ainda assim, recomendado para fãs do gênero.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
aragamiAno: 4 de outubro de 2016<br> Gênero: Ninja Simulator<br> Plataforma: PC e PS4 (será lançado para Xbox One em data ainda não anunciada)<br> Fabricante: Lince Works<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Maximum Games<br>