O delfonauta médio pode não saber – até porque eu não me lembro de já ter dito isso antes aqui no DELFOS -, mas eu sou um grande admirador do Chuck Schuldiner, e por consequência também do Death e do Control Denied. Não sou aquele fã trüe que conhece todo o trabalho do cara, mas tenho um grande respeito pela maneira como ele tornou o som do Death único, levando a banda em um crescendo até o seu ápice no Sound of Perseverance que, para mim é o melhor da banda. E, como o delfonauta médio com certeza sabe, eu só falei isso para passar do primeiro parágrafo.
Mas o motivo para eu ter falado exclusivamente de um dos maiores músicos doDeath Metal é porque o Pray For Mercy também é uma banda de Death Metal. Nascido em São Paulo, o Pray For Mercy lançou recentemente o disco In Absentia, que possui letras totalmente em português e é conceitual, contando uma história ao longo das letras. Além disso, o álbum é dividido em quatro Atos, cada um comseus respectivos Anexos. Cada música do disco recebe, antes do seu nome, o título de Ato ou Anexo, e assim a evolução da história do disco fica bastante clara.
In Absentia traz um Death Metal direto e sem rodeios, bastante próximo de bandas como Cannibal Corpse ou Obituary.Com riffs rápidos e uma bateria insana, as músicas se destacam justamente por não dar tempo para respirar, e a construção em Atos deixa a potência muito mais non-stop. Não acredita? Ouça a faixa Cárcere e diga se eu estou mentindo.
A estrutura das músicas também se mantém constante, seguindo um padrão de ficar mais cadenciada quando alcança o refrão, o que tem seu lado bom e seu lado ruim. Por um lado, isso se encaixa muito bem dentro da proposta do álbum. Uma vez que cada Ato e seus respectivos Anexos componham um mesmo bloco na tracklist, é natural que eles soem de maneira parecida. Além disso, estabelecer padrões que associem a música à banda é algo que existe desde que o Rock é Rock, vide AC/DC e Slayer – banda que, aliás, também influencia bastante algumas passagens do disco.
Já por outro lado, um disco em que todas as músicas possuem estruturas bastante parecidas acaba se tornando repetitivo, e em In Absentia não é raro você se pegar ouvindo uma música e achar que ainda está na anterior. As músicas mais diferentes são mesmo as que demarcam os Atos, e por isso a minha sugestão é que você acompanhe o disco por Ato, e não por faixa.
Quanto às letras, é surpreendente que a banda tenha optado por fazê-las em português, mas elas se encaixam tão bem que fica claro o motivo de terem feito assim. Em primeiro lugar, entender letras cantadas por vocal gutural é impossível tanto em português quanto em qualquer outra língua, então isso não influencia a sonoridade da banda.
Além disso, tenho que destacar que as letras foram feitas com bastante esmero. Todas elas são reflexivas sem serem pedantes, atingindo um equilíbrio que poucas bandas conseguem. Experimente ouvir e acompanhar a letra de Exílio Manchado de Sangue, que para mim é a melhor do disco, e você entenderá o que eu estou falando.
Finalmente, In Absentia é um disco coeso e produzido com qualidade. É verdade que alguns elementos como a repetição não me agradaram muito, mas também é verdade que a pegada forte das músicas funciona muito bem quando vista em conjunto com as letras e com o próprio conceito do álbum. Disco recomendadíssimo – principalmente se você estiver à procura de algo mais pesado.