O delfonauta dedicado sabe do meu asco a cinebiografias. Já falei muito sobre isso aqui e não gosto de me repetir. Se você gosta de ruivas com bacon, grite presunto nos comentários.
Porém, em alguns casos, uma cinebiografia pode ser legal. É o caso deste Jersey Boys, que conta a história do grupo Four Seasons. Verdade seja dita, ele não reinventa a roda e sua história é basicamente a mesma de tantas outras cinebiografias. Porém, a levada é diferente.
Aqui os personagens seguem a escola Ferris Bueller e falam com a câmera. Porém, ao contrário do nosso amigo que curte a vida adoidado, nenhum dos personagens tem o monopólio da câmera.
Cada um dos Four Seasons, com a curiosa exceção do protagonista Frankie Valli (John Lloyd Young), tem um trecho no filme como o “narrador”, e isso dá uma pegada diferente e mais leve ao filme se comparado com oscarizáveis do gênero.
Outro grande apelo são as músicas, que são muito legais. Pode ser que você nunca tenha ouvido falar do Four Seasons, que está bem longe de ter a mesma relevância para o mundo da música do que nomes como Johnny Cash, mas algumas das canções do filme são famosas, e mesmo as que não são famosas são deveras boas.
Uma curiosidade também relacionada ao vocalista é que sua voz causa estranhamento. Na primeira vez que ele abriu a boca, e saiu aquele som que poderia estar em Alvin e os Esquilos, eu cheguei a pensar que ele fosse ser vaiado e que o resto do filme seria o sujeito estudando música para se tornar um bom vocalista.
Não foi o que aconteceu, no entanto. Todos os outros personagens falavam de como sua voz era linda e coisas do tipo, o que gerou um ruído considerável. Ok, ao longo do filme eu acabei acostumando e começando a curtir, mas não dá para negar que a voz do cara não tem aquela beleza que agrada todo mundo, tipo um Elvis Presley ou David Coverdale.
Porém, ele também quase não canta sozinho. Parte do apelo das músicas do Four Seasons são os excelentes e harmoniosos arranjos vocais e é o que mais você vai lembrar do filme quando ele terminar.
Outro lado bom é que, apesar de ser um filme de Clint Eastwood, não tem aquele jeitão pedante e ufanista, estilo “God Bless America” de seus outros filmes. Verdade seja dita, sua presença aqui é quase invisível e isso acabou me fazendo gostar bem mais do longa do que costumo gostar dos filmes do cara.
Um último diferencial é que, ao invés de mostrar os problemas dos músicos com drogas, aqui os membros do Four Seasons se envolvem com a máfia, dando ao filme um quê da série Os Sopranos.
Músicas legais e uma pegada diferente garantem o ingresso para assistir Jersey Boys, mas é bom medir as expectativas, pois temos aqui basicamente uma cinebiografia como tantas outras. Se você gosta do gênero ou, como a maior parte dos delfianos e delfonautas, tem um apreço especial por filmes sobre música, vale arriscar.