Às vezes, ao pegar um disco de uma determinada banda desconhecida, você acaba descobrindo que ela é totalmente diferente do que imaginava a princípio. Todo mundo já passou por um momento do tipo “Aquela banda de membros jovens e franzinos faz um som super pesado? Aquela música cheia de camadas e harmonias intrincadas é feita por só três pessoas? Aquele vocalista com cara de mal faz letras super sensíveis e cheias de sabedoria? Quem puxa”.
Esse fator surpresa acaba contribuindo muito para que um disco deixe uma impressão duradoura no ouvinte. Mas e quando é o contrário? E quando uma banda te entrega exatamente o que promete, sem tirar nem pôr? O Na Estrada, do Motosserra Truck Clube, é um bom exemplo do porquê este outro lado da moeda também tem seu valor.
Ele é o primeiro disco da banda, formada num churrasco entre amigos em Varginha, interior de Minas Gerais, e já bem conhecida graças a festivais como o Roça n’ Roll e o Festival de Rock de Indaiatuba. O nome, a capa e o setlist são tudo o que você precisa para saber exatamente o que vai obter ao ouvir o Na Estrada. Se te parece interessante, ouça, porque com certeza não vai decepcionar.
O disco é uma mistura homogênea de Heavy Metal e Rock Clássico, que empresta muito do Punk e também usa alguns elementos de Country, Blues e até algumas passagens meio funkeadas. Parece que qualquer influência é válida se ajudar a criar o clima de boteco de beira de estrada que eles querem.
O instrumental é mesmo caprichado. A guitarra é a base, e os riffs alternam entre mais agressivos ou mais elaborados na hora certa. A bateria também é bem competente, e o baixo faz a diferença, deixando o tom mais encorpado e arriscando uma ou outra aparição mais ousada, o que eu acho muito legal. Por outro lado, muitos dos versos das letras soam “quadrados” na música, e muitas vezes o vocal acaba soando simples e cru demais em relação ao instrumental mais complexo.
Mas também não dá para dizer que isso não combina, considerando o que ele está cantando. As letras são crônicas épicas sobre o estilo de vida de caminhoneiros (dã), lenhadores, peões, bêbados e outros heróis anônimos percorrendo as estradas brasileiras e travando majestosas brigas de bar, narradas com expressões e maneirismos que fazem a linguagem de um ogro parecer delicada e sofisticada. Mas tudo com muito bom humor, como se vê nos destaques Volvorine, Num Vai Prestá (a faixa que intitulava o primeiro EP da banda), Madeira e Tira-Gosto.
A banda ainda tem muito a melhorar, e esta proposta muito específica acaba sendo também uma limitação. Porém, acaba sendo legal quando uma banda define uma estética e realmente vai fundo nela, construindo todo seu estilo e sua musicalidade ao redor desta temática. O resultado é divertido, e pode ganhar um lugar ao lado de Motörhead, Matanza, Velhas Virgens e outros na playlist oficial para os dias mais ogros da sua existência.