Em um passado não muito distante, existia um jogo de futebol que cativava fãs do mundo inteiro e não tinha rivais à altura. Tudo começou com Perfect Eleven do Super Nintendo, lançado pouco depois da Copa de 1994 e com uma proposta bem diferente de tudo o que existia na época: trazer todo o realismo de uma partida para dentro de casa, fugindo dos “esqueminhas” pré-programados.
Perfect Eleven (ou International Superstar Soccer no Ocidente) foi um arrasa quarteirões e, daí para frente, todo direcionamento dos jogos de futebol deixava de lado o estilo “arcade” (da série Super Sidekicks do Neo Geo, por exemplo) para a busca do realismo cada vez mais aprofundado.
Eram tempos diferentes, nos quais as licenças de clubes e trilha sonora badalada não importavam. O que os jogadores queriam era a busca pelo realismo que a outra série mais badalada do momento: Fifa International Soccer da Electronic Arts, entregava de maneira bastante limitada.
A série mudou de nome de Perfect Eleven para Fighting Eleven (ainda no Super Nes) e, finalmente, Winning Eleven (já no Playstation 1 em 1996) e bons jogos continuaram a ser lançados até 1999, quando chegou ao mercado o importante Winning Eleven 3: Final Version. Talvez você não conheça, mas este foi o exemplar que mudou definitivamente a cara do futebol eletrônico e deu os rumos que conhecemos até hoje. Se você for curioso, dá uma olhadinha no vídeo abaixo para ver se todo o esquema ainda não é bem parecido.
Daí para frente, com a “base” estabelecida, foram apenas aperfeiçoamentos no Playstation 1 e 2. Os jogos eram rigorosamente os mesmos, com a mesma engine, mas gráficos aperfeiçoados, som melhor, mais times e afins.
Até pouco mais da metade da década passada, Winning Eleven não tinha rivais. Enquanto a Konami encontrou sua mina de ouro com a “engine perfeita”, a Electronic Arts e seu Fifa Soccer, comiam poeira vendendo bem apenas na Europa, mas pouco a pouco, iam aprendendo com os erros, implementando melhorias aqui e ali, adquirindo licenças, artistas conhecidos em sua trilha sonora e copiando o padrão de jogo do principal concorrente.
O tempo foi passando, a Konami seguia acomodada, mas a Electronic Arts, com a nova geração de consoles, começou a colocar no mercado Fifas realmente bons e muito aperfeiçoados. O fato é que a produtora japonesa nunca lançou um Winning Eleven (ou Pro Evolution Soccer, como a série passou a ser chamada em todo o mundo menos no Japão) realmente feito para os consoles atuais. Ela apenas reciclou tudo o que já fez de novo e de novo, colocando perfumarias aqui e ali. A estratégia durou uma geração com sucesso, a do Playstation 2, mas na seguinte, com todos os recursos dos consoles atuais, a coisa mudou de figura e a série japonesa perdeu de goleada.
Os novos jogadores não conheceram os anos de glória de Winning Eleven e nem reconhecem a importância que tiveram no desenvolvimento dos videogames. Para nós, fãs “old school”, restou experimentar Fifa e – pouco a pouco – deixar os jogos da Konami de lado. Para mim, o ponto de transição foi em Fifa 09. A diferença naquele ano entre Fifa e Winning Eleven já era tão gritante que não dava mais para ignorar e aí, com muito peso no coração, traí minha série amada de tantos anos.
SERÁ QUE EM 2012 VAI?
E cá estamos no ano do fim do mundo para ver se algo mudou na evolução da série. Para o delfonauta fiel, vou entregar duas resenhas em uma: analisei tanto a versão para PC quanto a de Nintendo 3DS do Pro Evolution Soccer 2012. Como são jogos bem parecidos, vou começar apontando os prós e contras comuns às duas versões e depois parto para as particularidades de cada uma.
Em primeiro lugar, de cara, percebemos que Lionel Messi deixou de ser o garoto propaganda de PES, debandou para a concorrência e já anda divulgando Fifa Street por aí. Em seu lugar, a Konami colocou Cristiano Ronaldo e Neymar. De cara, já percebemos um impacto negativo na série que não tem nada a ver com o jogo em si: o português Cristiano Ronaldo é muito mais conhecido pela sua beleza do que caráter ou bom futebol ao contrário do argentino. Sobre Neymar, eu prefiro nem comentar, pois tenho uma opinião bastante polêmica a respeito, mas resumindo: se você acha o jovem santista um craque dos nossos tempos, lamento.
Falando do jogo, ele praticamente não mudou na comparação com a edição 2011 e também 2010, 2009 e, se bobear, 2008. É o mesmo futebol de sempre e as alterações se limitaram a bobeiras estéticas, aperfeiçoamento da IA dos jogadores (menos goleiros) e frames de movimento a mais. Ou seja, nada que não pudesse ser atualizado através de simples patches ao longo dos últimos anos.
Viu, ô Konami? Patches servem também para melhorar o jogo e trazer chuteiras e bolas novas não necessariamente se enquadram neste quesito!
Os gráficos estão bonitos (como já eram), mas não vemos – por exemplo – a torcida reagir a uma jogada de efeito como ocorre na concorrência. Até a grama do campo parece utilizar a mesma textura das versões antigas do Playstation 2.
A textura e movimento dos bonecos, no entanto, melhorou. Os rostos estão mais realistas e os jogadores mais famosos são mais bonitos do que os da concorrência, mas apenas os mais famosos, viu? Quase a totalidade dos times brasileiros, por exemplo, é formada por jogadores genéricos que em nada parecem suas contrapartes reais.
Falando especificamente da seleção brasileira, de novo somos obrigados a aturar uma seleção com uniforme genérico. Ok, eles não conseguiram a licença para reproduzir o uniforme real, mas não dava para – pelo menos – colocar a camisa amarelinha?
O estilo do jogo você já conhece de 13 anos atrás. Se você curte o jeito Winning Eleven de ser, continuará gostando aqui. O ritmo é mais cadenciado do que Fifa, com menos chances de ataque, mas a simulação de uma partida de futebol moderno está bem representada. Uma pena que a AI dos goleiros continua com várias deficiências, especialmente em chutes fora da área.
A movimentação está mais suave, mas ainda com um aspecto robótico incômodo nos jogadores, assim como a bola que também parece pesada demais. Raramente vemos um chute forte (e direcionado) de fora da área, por exemplo.
Falando no geral, ainda prefiro a engine Winning Eleven do que Fifa. Por pouco, mas ainda prefiro! Por outro lado, não posso negar que Fifa me diverte bem mais, especialmente jogando com os amigos.
E FOI, FOI, FOI, FOI DELE
A dupla Sílvio Luiz e Mauro Betting está de volta para narração e comentários! Se por um lado, muita gente ficou feliz com a inclusão dos brasileiros no áudio das partidas na versão 2011, por outro, convenhamos que o trabalho era bastante precário e aqui abro parêntese para uma divagação: cara, como brasileiros são conformistas! Basta incluir o Sílvio no jogo para todo mundo falar como se fosse a melhor narração já produzida em todos os tempos. Que saudade do Jon Kabira nessas horas!
Infelizmente, a situação permanece a mesma na edição 2012. Sou fã do estilo de narração (real) de Silvio Luiz desde a metade dos anos 80, quando comecei a acompanhar futebol com afinco, mas a verdade é que não combina com o dinamismo de um jogo de videogame. Suas frases são longas e muitas vezes colocadas fora de contexto para o que está acontecendo na tela. Coloque a narração em inglês ou espanhol para comparar. São menos frases engraçadinhas, mas um “conjunto da obra” mais coerente e estável.
Lembrando que esse não é um mal apenas de Silvio Luiz. Nas outras tentativas que os jogos de futebol – inclusive Fifa – tiveram de trazer locutores brasileiros, a experiência também não foi legal.
Os sons do ambiente, por outro lado, estão mais realistas e interessantes com cantos personalizados de cada torcida e músicas alternativas bacanas para os menus, incluindo os temas clássicos das competições licenciadas. Existe apenas um bug engraçado na versão PC (nas outras não reparei), onde alguns dos cantos da torcida aparecem em determinados momentos com a rotação reduzida, dando um efeito de que estão sendo cantados por clones do Max Cavalera. Mas no geral, a qualidade sonora melhorou bastante nas últimas edições.
GOL DO CORINTHIANS E FOI DE RONALDO… MAS PERAÍ! RONALDO?
Outro problema muito sério: as licenças e atualizações dos times! Ok, eu não sou um cara puritano, mas é inadmissível que para um jogo com o número “2012” no título, a escalação do Corinthians conte com Roberto Carlos, Dentinho e Ronaldo. Tudo bem que quando o título foi lançado, em setembro de 2011, ainda não se sabia que times disputariam a Libertadores do ano seguinte e a Konami acabou optando por trazer a edição passada do campeonato. Até aí, compreensível, mas que no mínimo atualizassem os jogadores, pô!
E isso não acontece apenas com o meu Corinthians. Todos os clubes do mundo estão com seus respectivos esquadrões absurdamente desatualizados. A softhouse japonesa poderia no mínimo lançar um patch corrigindo o problema e atualizando as escalações, mas até o fechamento desse texto, nada do naipe apareceu no mercado, a não ser pacotes de atualizações manuais feitos pelos próprios fãs da série. Uma vergonha!
A parte de licenças da série PES, comparada à de Fifa, é risível! A Konami claramente não está focada na licença dos clubes, mas sim nos campeonatos fechados com as federações ao redor do globo. Assim, temos mais uma vez a Libertadores, a Champions League e a Copa da UEFA em todas as suas glórias. Mas de novo: se vai licenciar os campeonatos, por que também não reproduzir pelo menos os estádios mais importantes ao invés de utilizar um genérico “Estádio Amazonas” para times brasileiros, que em nada representa nossa região sudeste do país? Falta realmente mais carinho da desenvolvedora neste campo!
E para não dizer que eles comem bola apenas com times brasileiros, olha que lance bizarro: a Konami considera os estádios Giuseppe Meazza e San Siro em Milão como locais diferentes para partidas entre Inter e Milan. Mas na vida real, são exatamente o mesmo lugar!
FUTEBOL EM 3D
Tudo o que eu falei sobre a versão para PC acima também se aplica ao 3DS, inclusive a narração do Silvio e comentários do Mauro que estavam ausentes na versão 2011 do DS.
Normalmente, quando mencionamos a conversão de um jogo de Playstation 3 (por exemplo), para um portátil, temos a famosa relação do primo rico X primo pobre. Pegando um exemplo rápido, basta se lembrar dos dois God Of War lançados para PSP: tecnicamente, são bastante inferiores ao que vimos nos Playstation 2 e 3, mas não deixam de ser bons jogos.
Aqui digamos que estamos falando de um primo “classe média”. Claro que os gráficos estão visivelmente inferiores na comparação com os demais sistemas, especialmente nos detalhes e rostos dos jogadores, mas – sendo um portátil – é uma versão bastante fiel e com as mesmas qualidades e defeitos.
As limitações gráficas no 3DS e o tamanho reduzido na tela, no entanto, acabam ofuscando a impressão de “gráficos datados” vista nos consoles e PC. O jogo roda bem, sem problemas de lentidão e a movimentação dos jogadores parece bem mais suave (e menos robótica) do que nas versões “primo rico”.
Claro que em se tratando do 3DS, temos algumas particularidades: a primeira delas são os controles. De certa maneira, o único analógico do portátil acaba sendo meio durinho para um jogo de futebol e tive algumas dificuldades na adaptação, mesmo já tendo jogado bastante a versão 2011.
Existe também um sistema de controles exclusivo do portátil via touch screen / stylus, de certa forma parecido com o que encontramos nas versões de PES para o Wii. É um modo interessante, que ainda tem de ser aprimorado, mas basicamente você faz todos os comandos com a caneta, obedecendo as cores de um cursor na tela que serve como orientação. É algo a ser explorado no futuro, mas tem bastante potencial!
O destaque no 3DS vai, também, ao efeito 3D, dando uma sensação de profundidade incrível. Mas, como em todos os outros jogos no aparelho, acaba prejudicado se você é um jogador ansioso, que mexe o aparelho enquanto está no meio de um embate histórico! Neste caso, é melhor deixar o efeito desligado em 90% do tempo.
MAS DEPOIS DE TANTOS PROBLEMAS: VALE A PENA?
O delfonauta deve imaginar que PES 2012 é uma bomba! Mas na verdade, as coisas não são bem assim. As reclamações deste ano são as mesmas do ano passado e – para mim – mostram apenas que a estagnação da franquia continua, dando a ela a eterna medalha de prata.
O que mais me irrita é o produtor da série Shingo “Seabass” Takatsuka. O cara, todo ano logo após o lançamento, vai à imprensa dizer que o jogo não ficou à altura de suas expectativas e pede perdão aos fãs. Caramba, se ele mesmo já sabe que a coisa não ficou legal, por que lançar? Pra tomar lavada de Fifa outra vez?
Se você ainda é fã da série, continuará sendo, pois o que temos aqui é praticamente o mesmo jogo de cinco anos atrás, com uma ou outra pequena mudança. Mas se você é dos que migraram para Fifa, continue por lá, pois o caminho da série Pro Evolution Soccer ainda é longo e tortuoso até voltar a ser algo relevante ao mundo do futebol eletrônico.