Santa Tartaruga, amigo delfonauta! Levou três anos e uma mudança de distribuidora, mas finalmente À Prova de Morte, a segunda parte do que seria a sessão dupla de Grindhouse, chegou ao país. Considerando que esta é justamente a parte comandada por Quentin Tarantino e todo mundo adora Tarantino, chega a ser quase inexplicável por que o filme demorou tanto a dar as caras em nosso Brasil varonil.
Mas antes tarde do que nunca, e agora os três ou quatro indivíduos que ainda não assistiram ao filme na Argentina poderão conferi-lo na tela grande, sem enfrentar fila para os ingressos nem salas lotadas. Então dedico a sinopse exclusivamente a essas bravas e pacientes pessoas.
Stuntman Mike (Kurt Russell) é, como seu próprio nome diz, um dublê de cenas perigosas, especializado no uso de automóveis. Ele também é um psicopata sádico que se diverte em seu tempo livre apavorando e matando mulheres com seu carango modificado, tunado, envenenado e à prova de morte para quem o dirige. No entanto, em um fatídico dia, ele vai cometer o big mistake de mexer com as minas erradas, que vão lhe mostrar com quantos pistões se faz um motor.
Para quem não se lembra mais, vale o refresco na memória: o objetivo de Grindhouse era homenagear as sessões duplas de filmes B de orçamento baixíssimo, roteiros toscos e exibição desleixada (com sujeira e riscos na película, rolos faltando e por aí vai), mas que tinham alguma coisa que os tornavam bons, e, acima de tudo, divertidos.
Nessa empreitada, Tarantino, assim como seu comparsa Robert Rodriguez e seu Planeta Terror, falhou miseravelmente, até mais que o próprio Rodriguez, pois À Prova de Morte é apenas ruim de doer, sem conseguir atingir o fator diversão, que é a redenção de qualquer filme B.
Todos os elementos característicos do diretor estão presentes: os longos e verborrágicos diálogos, o fetiche por pés femininos, a trilha sonora cool, mas desta vez esses elementos não dão liga. Especialmente os diálogos, que aqui não têm as referências pop ou mesmo qualquer utilidade para a trama (que por si só também é inexistente) e, assim, só servem para gastar tempo e entediar o espectador.
As cenas de ação são apenas duas e nem tão emocionantes assim. E demoram muito a acontecer, estando “ensanduichadas” entre as longas e modorrentas conversas entre as vítimas em potencial de Stuntman Mike. O negócio é tão chato e sem graça que em determinado momento, de forma totalmente involuntária, começou a passar em minha cabeça um filme bem melhor. A saber, foi esse aqui.
Pra não dizer que só desci o pau, tem duas (e apenas duas) coisas bacaninhas aqui: a cena de uns trinta segundos do primeiro acidente, mostrado com riqueza de detalhes gore e o diálogo engraçadinho onde Stuntman Mike conta como entrou para o ramo dos dublês. É pouca coisa, não concorda?
Se você é como eu e não tem paciência para enrolação, definitivamente À Prova de Morte não é para você. Diabos, quer saber? Eu não recomendo isso nem para quem é muito fã do Tarantino.
Curiosidade:
– Zoë Bell, que no filme interpreta a si mesma, é de fato uma dublê profissional e fez todas as cenas perigosas de Uma Thurman em Kill Bill.