Pink Floyd – The Dark Side of the Moon

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Faz muito tempo que participo do DELFOS visitando e comentando, mas faz também um bom tempo que eu estava a fim de escrever algo para o site. Afinal de contas, não é sempre que encontramos um veículo de comunicação assumidamente “parcial” e apenas com coisas que alimentam sadiamente nossa inteligência (Metal, HQ, Metal, cinema, games e muito Metal, além de outros gêneros de música de qualidade).

Difícil mesmo foi escolher por onde começar, já que tem muita coisa que eu gostaria (e pretendo) resenhar e coisas de alguns gêneros pouco comentados por aqui. Então, como aficionado por Pink Floyd, escolhi um dos maiores álbuns da história, um CD “místico” e mítico. Muita gente já falou sobre esse álbum, mas sempre senti a falta de uma resenha delfiana. Então, “comecemos do começo”:

Dark Side é considerado por muitos como o melhor disco de Rock Progressivo de todos os tempos. É considerado também a obra-prima de um grupo que só produziu coisas geniais durante sua existência. Um dos poucos discos que renderam um documentário apenas sobre ele, uma espécie de making of visual do álbum. Também teve uma edição comemorativa lançada em 2003 em Super Audio Cd (alguém sabe me explicar o que é isso e aonde toca? Nota do Corrales: é uma tentativa de substituto ao CD tradicional, contando com mais canais de áudio e uma melhor qualidade de som. É um concorrente do DVD-Audio e toca em SACD-Players). Teve publicado recentemente um livro onde sua história é detalhadamente contada. Claro que quando alguma coisa faz muito sucesso, todo mundo quer ganhar uns trocos em cima, mas convenhamos, não é qualquer disquinho que merece uma atenção desse nível.

O álbum também recebeu uma “homenagem” de uma das maiores bandas da atualidade, para mim uma das mais completas em atividade, Dream Theater. Os caras lançaram um bootleg onde tocaram o Dark Side inteiro em um show. Muito bom por sinal, apesar de que o Labrie não tem, nem de perto, o mesmo feeling para cantar que o Gilmour ou o Waters. Mas isso não vem ao caso. Fato é que até uma banda de Reggae lançou uma versão Dub desse disco! A versão se chama Dub Side of the Moon (eu acho que devia ser proibida uma coisa dessas, mas…). Isso eu nunca ouvi, mas alguém deve gostar.

Outras peculiaridades desse disco são: vendeu quase 40 milhões de cópias, sendo o terceiro disco mais vendido de todos os tempos; estima-se que um em cada vinte estadunidenses em torno de cinqüenta anos possua uma cópia; é detentor do recorde absoluto de tempo na lista da Billboard, ficando 1.500 semanas lá, ou, aproximadamente, 28 anos e nove meses. Cara, quase trinta anos! Não bastasse isso, a edição comemorativa de 2003 também entrou nessa lista. Muita gente já morreu e nasceu desde que o disco foi lançado e ele continua vendendo feito água.

Mas as duas curiosidades mais bizarras sobre esse álbum são: em 1990, ouvintes de uma rádio australiana elegeram esse álbum como a melhor trilha sonora para fazer sexo! Deus, como o mundo produz pesquisas inúteis. Portanto, nada daqueles CDs no estilo “músicas para ouvir amando”. O negócio mesmo é bocar um “orgásmico” disco do Floyd para rolar. Outra: os caras escreveram esse álbum em uma semana. Uma semana! Caramba, o segundo álbum mais influente da história do Rock (atrás de Sargent Peppers dos Beatles) teve suas letras e músicas escritas em sete dias! Depois disso, fiquei pensando nos excêntricos que se internam por meses em algum confim do mundo para produzir um álbum e, depois do aguardadíssimo lançamento, vem uma porcaria surpreendente.

Deixando de lado as curiosidades e, dado todo esse sucesso, muita história já surgiu em torno desse disco. A mais famosa delas surgiu em 1994, onde alguém, muito desocupado, descobriu que o disco sincronizava quase que perfeitamente com o filme o Mágico de Oz, de 1939. Eu, sinceramente, ainda não tentei fazer isso, mas é provável que o faça em algum dia de ócio extremo. O bom é que hoje em dia você já pode achar vídeos de pessoas que fizeram isso em algum lugar da internet.

Algo interessante é que numa entrevista, Roger Waters (o gênio-dinossauro por trás de quase tudo) atribuiu ao sucesso desse disco o começo da decadência da relação entre os músicos do Pink Floyd. Se fosse eu, depois de um disco desses nem ia mais querer trabalhar mesmo. E o risco de produzir um disco medíocre?

Encerrando a resumida história por trás, vamos a um breve faixa a faixa (afinal, se não for breve, ninguém vai agüentar ler até o fim). Mas, antes, é necessário lembrar que esse é um dos primeiros álbuns conceituais da história, dotado de originalidade e grande reflexão, coisa rara em discos que seguem essa linha hoje, que só sabem contar histórias de “vidas passadas”. Pô, o Rock ta aí pra falar do presente, pra gritar contra os NOSSOS problemas, não os dos guerreiros medievais e suas princesas profanas. Enfim, vamos lá:

Speak to me, a julgar pelo tamanho (pouco mais de um minuto), parece que vai ser uma clássica faixa de abertura: curta, sem vocal e com uma parte instrumental bem bonitinha. Essa fórmula já foi cansativamente utilizada (apesar de que, na minha opinião, ainda saem coisas bem legais dessa fatídica faixa de abertura). Só que aqui não tem parte instrumental, exceto uma junção de instrumentos “floydianos”. Caixa registradora, relógio, papel sendo rasgado e outras loucuras mais. Além disso, ela TEM vocal. Estranho, mas tem. Uma narração mais baixa do que os vocais das outras faixas. Tão baixa que pode até mesmo passar despercebida. Convenhamos, você é capaz de pensar numa faixa de abertura melhor para um álbum progressivo do que uma conversa sobre insanidade, batidas de coração (ou será uma bola de basquete sendo batida na quadra de um ginásio vazio?), risinhos e um grito quase desesperado?

Em seguida, o disco emenda, literalmente já que não há pausa, com a música Breathe. Essa tem a característica guitarra do Gilmour primorosamente tocada. Sem falar da linha de baixo bem perceptível, uma das características do Pink FLoyd. E é nessa faixa que começa o uso do sintetizador (algo inovador na época) que permeia todo o disco. A letra é uma atração à parte, uma das coisas mais reflexivas que o Rock produziu. Simples, porém genial, de uma forma como só esses caras sabiam fazer. E ela inicia a temática do disco todo (lembre-se, esse é um disco conceitual).

Logo começa a tocar On the Run, que bem poderia se chamar On the Road uma vez que a atmosfera do disco já te contagiou essa hora e, em menos de quatro minutos, você provavelmente já estará viajando. Nessa trilha, os sons eletrônicos predominam, sem falar nas bizarrices que apenas um ouvido atento irá captar. A bateria bem cadenciada dá um “efeito de fundo” bem legal aqui. Ouça bem atentamente que você conseguirá entender o porquê do nome dessa faixa. Bom, vamos à próxima.

Os Relógios! Ah, o tempo! Time, com o Roger Waters fazendo a batida do relógio em seu baixo “mudo” (ele segura as cordas para fazer o efeito com a palheta) é a faixa que ilustra a perfeição do disco. Novamente, a guitarra impecável marca sua presença em meio à atmosfera musical criada. Aí entra o cara, Roger Waters, encaixando magistralmente a dramaticidade da letra (que novamente é perfeita, ainda mais brilhante que a primeira e provavelmente uma das melhores coisas que eles já escreveram) com a dramaticidade de sua voz. E a guitarra faz um solo que parece querer nos contar algo. Caramba, quase me emocionei escrevendo essa descrição da música e suas nuances. Isso sem falar nos backing vocals realmente belos. No fim da música começa uma breve reprise de Breathe que não vou nem comentar.

Agora uma música esteticamente irretocável: The Great Gig in the Sky. Uma linda introdução no teclado (aqui cabe uma observação: Gilmour e Waters são, sem dúvida, dois gênios, porém, o disco perderia muito de seu encanto não fossem as composições e performances de Rick Wright), um perfeito acompanhamento da bateria e da guitarra, um baixo bem marcado do meio para o fim e um belo trabalho vocal.

E começa a linha de baixo mais famosa da história! Ou você consegue pensar em alguma mais famosa do que a de Money? Eu já não agüento mais ouvir essa introdução em matérias televisivas falando sobre dinheiro. As moedas e a caixa registradora são muito mais do que suficientes para saber: vai tocar Money! Enfim, um tema muito legal para se falar em uma música, especialmente quando os músicos já não têm mais o que fazer com ele – embora nessa época eles não fossem tão ricos. Algo bem característico dessa música é o cadenciamento da parte instrumental (será que eles precisaram de um metrônomo?). Ela tem uma letra interessante e aquele sax faz passar despercebida toda a complexidade sonora que serve de fundo para seu solo. Tinha muita coisa para falar dessa música, mas isso aqui está ficando muito grande, então vamos à próxima. Mas, e o solo da guitarra? Bom, deixa para lá.

Us and Them é minha faixa favorita. Gosto tanto dela que não vou nem começar a falar. Deixo para que você ouça atentamente e tire suas conclusões. Apesar de que, ouvindo minuciosamente esse álbum, não sei dizer se ela possui alguma superioridade em relação às outras ou se é só simpatia minha mesmo.

Agora vem outra instrumental novamente recheada de sons eletrônicos, criando uma música totalmente “cósmica” – sei lá porque eu usei essa palavra para descrever, mas é exatamente a sensação que ela me transmite. Ah, ia esquecendo: o nome dela é Any Colour You Like.

Brain Damage é uma faixa que eu não sei descrever. É aqui que se fala sobre o “lado obscuro da lua”. E “obscuro” me parece uma palavra bem adequada para descrever a canção. Diz a lenda que ela é uma referencia a Syd Barret. Analisando a letra, isso não parece estar muito fora da realidade. Não sei se é mesmo, mas, para mim, é a música que melhor explora o uso de backing vocals (caramba, uma coisa não tem nada a ver com a outra).

Agora o gran finale: Eclipse. Lindo, apoteótico e o desfecho perfeito para um álbum perfeito. Gostaria de encontrar um jeito adequado de descrever a letra dessa música, mas não consegui (acho que ainda estou viajando com o disco). Mas as batidas de coração dão o clima final e tornam desnecessário explicar essa faixa. É o clima e o sentimento de vida pulsando. Vida em tudo o que fazemos e em cada uma das faixas desse álbum realmente inacreditável!

P.S.: Se você conhece Pink FLoyd, não preciso nem comentar sobre o disco. Agora, se você não conhece (me pergunto como isso é possível!), não comece ouvindo esse álbum porque, provavelmente, você não vai gostar, a menos que tenha uma estreita relação com a música Progressiva. Afinal, esse não é um álbum muito “fácil”.

P.P.S: Sempre que escuto algo dessa fase magistral em que a banda estava reunida e demonstrava paixão em cada disco que fazia (olha que eu só fui ouvir um a um muitos anos depois de lançados) eu me pergunto: quem é o melhor vocalista do Pink Floyd? Eu, sinceramente, não sei a resposta. Mas, se você já tem uma opinião formada, compartilhe com a gente.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
pink-floyd-the-dark-side-of-the-moonAno: 1973<br> Gênero: Rock Progressivo<br> Duração: 43 minutos<br> Artista: Pink Floyd<br> Número de Faixas: 9<br> Produtor: Pink Floyd<br> Gravadora: Harvest Records<br>