Leia também as outras matérias já publicadas no nosso especial De Volta Para o Futuro:
– De Volta para o Futuro – O primeiro filme
– De Volta para o Futuro – O Novo Box
Quem me conhece sabe que minha trilogia favorita de todos os tempos é Star Wars (estou falando dos clássicos Episódios IV, V e VI), porém a série De Volta Para o Futuro não fica muito atrás, sendo a Parte II minha preferida. Justamente por isso, quando o Corrales me falou da idéia desse especial e do conceito de cada um falar de um filme diferente, logo me voluntariei para escrever sobre o capítulo mais agitado da trilogia.
Claro, o filme não tem o fator novidade da primeira parte, mas supera muito seu antecessor no quesito movimentação e aventura. Enquanto o primeiro era mais uma comédia com toques de ficção científica, este segundo exemplar se assume de vez como uma aventura através do tempo.
É quase inacreditável o tanto de coisas que acontecem nesse filme (e o mais bizarro é que ele é o mais curto dos três). Ele pode ser claramente dividido em três partes, todas igualmente tremendonas: a viagem ao futuro, a volta para um 1985 alternativo e, por fim, uma nova visita ao 1955 mostrado na primeira parte. Tudo isso em um ritmo frenético.
Temos aqui cinema de entretenimento da melhor qualidade, daqueles que marcaram a infância de muita gente. Eu assisti às Partes II e III no cinema e depois reassisti à trilogia inteira incontáveis vezes na Sessão da Tarde (com aquela dublagem clássica maravilhosa). Portanto, trata-se daquele caso de laço afetivo com filmes que marcaram época. Se você foi uma criança como eu, que adorava ficção científica e vivia imaginando como seria descobrir civilizações perdidas, viajar pelo espaço à velocidade da luz, dentre inúmeras outras coisas, sabe do que estou falando. Afinal, imaginar-se no lugar de Marty McFly vivendo aventuras no passado e no futuro ao lado de seu melhor amigo, um cientista maluco, é um apelo e tanto para essas crianças e que permanece mesmo quando já temos barba na cara, como acontece com os delfianos (embora nenhum de nós tenha barba no momento).
Antes de começar a falar do filme, um aviso: VOU CONTAR PARTES IMPORTANTES DA HISTÓRIA. SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU (como se isso fosse possível…), PARE AGORA, CORRA PARA A LOCADORA MAIS PRÓXIMA, E VOLTE DEPOIS, É CLARO.
Aviso dado, podemos começar. O filme inicia exatamente do gancho deixado no final do primeiro, com o incomparável Dr. Brown (Christopher Lloyd) vindo buscar Marty (Michael J. Fox) no dia seguinte à sua primeira aventura com o intuito de irem para o futuro (mais especificamente o ano de 2015) salvar os filhos de McFly. Embora essa cena seja idêntica à do primeiro filme, ela foi inteira refilmada porque Claudia Wells, a atriz que interpreta Jennifer, a namorada de Marty, no primeiro capítulo, foi substituída por Elisabeth Shue (O Homem Sem Sombra).
E se o DeLorean já era o sonho de consumo de 10 entre 10 nerds, agora que ele também voa, então…
É legal constatar que estamos a apenas 9 anos do futuro mostrado no filme. Isso quer dizer que falta pouco para carros voadores, cinemas com propagandas holográficas, tênis com cadarços automáticos e jaquetas com secadores embutidos invadirem nossas lojas? Legal!
A missão de Marty é ir até o Cafe 80’s, uma lanchonete temática dos anos 80, encontrar um tal de Griff (Thomas F. Wilson) e lhe dizer “não”. Lá ele não apenas encontra duas gerações de odiosos Tannens (Griff é neto de Biff, que também está lá) como se depara com duas criancinhas tentando entender o funcionamento de um fliperama. Uma delas, a menorzinha, é ninguém menos que Elijah Wood (o Frodo de outra trilogia tremendona, O Senhor dos Anéis), em seu primeiro papel no cinema.
Uma das grandes sacadas da série é o modo como algumas coisas se repetem com pequenas diferenças. No caso, estou falando da perseguição de um Tannen a McFly na praça da cidade. No primeiro filme, Biff perseguia Marty, que praticamente inventava o skate para escapar. Dessa vez, ele foge num hoverboard, um skate flutuante e sonho de consumo de todos que assistiram ao filme quando crianças. E quem não gostaria de humilhar o valentão da cidade na frente de todo mundo e ainda por cima a bordo de uma prancha, seja ela com rodas ou flutuante?
Ainda na cena do hoverboard, repare no membro asiático da gangue do Griff. Sim, é Jason Scott Lee, que ficaria famoso anos depois ao interpretar outro sujeito de sobrenome Lee, um tal de Bruce, em Dragão – A História de Bruce Lee.
Uma de minhas cenas favoritas dos três filmes é onde toda a família McFly está reunida. Lorraine (Lea Thompson) e George (não, não é Crispin Glover. E é justamente para disfarçar esse fato, que o ator está de cabeça para baixo), e um verdadeiro tour de force de Michael J. Fox que, graças à magia dos efeitos especiais (perfeitos até hoje), interpreta Marty com 47 anos, seu filho bobalhão e sua filha, todos reunidos na mesma cena. Absurdamente hilário. Aliás, outro grande apelo da série é justamente combinar aventura com comédia em diálogos engraçadíssimos.
Aqui vale destacar o excelente trabalho de maquiagem para envelhecer os atores. Quando eu era criança, achava que os atores eram velhos de verdade. Simplesmente impecável. Se bem que Michael J. Fox como mulher mais ficou parecendo um traveco de beira de cais. Há ainda a aparição do colega de trabalho de Marty, Needles (Flea, baixista dos Red Hot Chili Peppers).
Esta cena é importante por dois fatores, estabelece que Marty simplesmente não suporta ser chamado de covarde (franguinho na clássica dublagem em português) e esse problema de temperamento ainda irá lhe causar inúmeros problemas neste filme e na Parte III, além de ter algo a ver com um acidente automobilístico que arruinou sua carreira de músico.
Pausa para mais um episódio de “casos da vida real”: Crispin Glover, o ator que interpretou George McFly no primeiro De Volta Para o Futuro recusou voltar para as continuações. O roteirista Bob Gale teve que se virar e por isso George está morto na realidade alternativa. Mesmo assim, ainda havia muitas cenas que precisavam da presença do personagem. A solução encontrada por Robert Zemeckis foi usar um ator maquiado para substituí-lo (como na casa dos McFly em 2015) e aproveitar cenas de arquivo do primeiro longa em toda a seqüência de 1955. Como Crispin não havia autorizado que sua imagem fosse utilizada, ele processou Steven Spielberg (produtor da película) e os dois entraram num acordo. Como conseqüência, a Screen Actors Guild, órgão estadunidense que regulamenta o trabalho dos atores no cinema, foi forçada a criar novas leis a respeito do uso de imagem dos atores. Nossa!
A próxima parada de nossos viajantes do tempo é numa realidade alternativa onde Biff é o dono de Hill Valley. Este é um dos principais fatores para este filme ser o meu favorito. Sempre pensei como seriam as coisas se eu tivesse tomado atitudes diferentes ou se certos eventos tivessem tomado outros rumos e o que isso influiria no ambiente ao meu redor. Este exercício de imaginação está muito bem representado no filme. Realidades alternativas sempre me atraíram e costumam serem raras no cinema e na TV. Só me lembro de um outro exemplo, a sensacional série Sliders – Dimensões Paralelas, que como o próprio subtítulo diz, trata de diversas dimensões paralelas onde pequenas diferenças ou fatos que ocorreram de forma diferente acarretam grandes mudanças com relação ao mundo que conhecemos. Bom, mas o assunto aqui é De Volta Para o Futuro, então voltemos a ele.
A última parada da dupla é novamente no ano de 1955, para tentar desfazer a tal realidade alternativa e restabelecer a ordem no fluxo do tempo. E isso sem que eles cruzem com suas próprias contrapartes que já estavam lá! É, eu sei, assim escrito é um pouco confuso, mas no filme funciona que é uma beleza. Assim, revemos sob ângulos diferentes todo o clímax do primeiro filme, do baile até o momento em que Marty consegue voltar para 1985. Méritos do diretor Robert Zemeckis e do pessoal dos efeitos visuais para unir as cenas do primeiro filme na trama da segunda parte. É muito divertido rever os fatos da produção de 1985 sob outro ponto de vista e até constatar como, de alguma forma, eles interagem entre si.
No fim, trata-se de um filme cujo tema são as decisões que se toma e como isso influi em sua vida. Mesmo a menor das escolhas pode ter grandes conseqüências (vide a decisão de Marty de comprar aquele maldito almanaque), então é preciso pensar bem antes de tomar qualquer atitude. É uma lição para toda a vida, já que não podemos contar com uma máquina do tempo para desfazermos escolhas erradas. Maldita realidade!
Devo elogiar também o excelente roteiro de Bob Gale, que consegue deixar toda essa bagunça perfeitamente inteligível. Sua trama consegue deixar claras as complicadas explicações do Doc Brown sobre os paradoxos temporais. Fora as divertidas expressões dos personagens, como “isso é barra pesada” (this is heavy) ou a clássica “por Scott” (great Scott!). Mas estou divagando…
Enfim, após restaurarem a linha do tempo, uma desgraça acontece. Um raio atinge o DeLorean que some sem deixar vestígios, para desespero de Marty. Minutos depois ele recebe uma carta de 70 anos atrás. O Doc fora parar em 1885, no velho oeste. Preso em 1955, Marty só pode contar com a ajuda de uma pessoa, o Emmett Brown de 1955 que acabara de mandar Marty para 1985 (Caraca!) e desmaia ao ver o jovem McFly de volta um minuto depois de tê-lo mandado para o futuro.
E assim termina o exemplar mais agitado da série, em aberto, para ser concluído na terceira parte, uma divertida homenagem aos westerns e tão divertido quanto os outros dois filmes. Então não deixe de ler a resenha do Bruno para o capítulo final e acompanhe também as outras matérias do nosso megaespecial De Volta Para o Futuro. Afinal, essa trilogia merece.