Se você acha o Kong grande é porque ainda não viu nosso especial. Confira:
– Crítica do filme
O filme de 1933
Top 5: Monstros gigantes do cinema
A primeira coisa que devemos fazer quando vamos analisar qualquer filme com mais de 50 anos de idade, é esquecer os nossos olhos do século XXI e tentar encará-lo como um espectador daquela época faria. É simplesmente impossível comparar uma produção de 1933, com todas as suas limitações técnicas e orçamentos apertados, a mega-produções recentes como Star Wars, Matrix e afins.
Sim, aos nossos olhos, os efeitos especiais são toscos, os atores são canastrões, as atuações são exageradas e a história é forçada, mas para um cidadão comum vivendo a época entre-guerras (a primeira guerra mundial terminou em 1918 e a segunda começou em 1939), logo após a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929, King Kong é simplesmente revolucionário e tem seu lugar garantido na galeria dos maiores filmes já realizados, ao lado de nomes como Cidadão Kane e E O Vento Levou.
Toda sua história começou quando o autor e diretor Merian C. Cooper teve um sonho onde via um macacão atacando a pobre Nova Iorque (a cidade sempre foi vítima dos maiores desastres possíveis, desde alienígenas, maremotos e congelamentos até macacos gigantes) e resolveu que aquilo era bom demais para permanecer apenas em sua mente.
Para vender a idéia aos estúdios de Hollywood, Cooper fez um investimento do próprio bolso para mostrar um pouco da obra pronta aos grandes executivos do estúdio RKO e filmou uma pequena cena que mostrava King Kong lutando contra um T-Rex.
O técnico de efeitos especiais Willis O’Brien já tinha desenvolvido alguns bonecos para um filme chamado Creation que nunca saiu do papel devido à grande depressão no final daquela década, que quebrou vários estúdios e levou muita gente à falência. Mesmo assim, Willis guardou todos os modelos e encontrou a oportunidade perfeita de demonstrar seu trabalho quando Cooper perguntou se ele gostaria de participar da “aventura”. É por isso que vemos no filme Kong lutando contra dinossauros, foi uma maneira encontrada de encaixar o velho trabalho de O´Brien com as novas idéias de Merian Cooper.
Para a época, começo dos anos 30, esse trabalho de efeitos especiais com animação em Stop Motion (a técnica dos bonecos de massinha gravando um quadro por vez e alterando manualmente os movimentos dos modelos) não era uma novidade, mas a perfeição técnica alcançada realmente impressionou os executivos do estúdio que compraram a idéia na hora.
De qualquer forma, é bom que fique claro que esses efeitos especiais de King Kong, apesar de excepcionais, não foram o grande aspecto inovador do filme, já que em 1925 tivemos a famosa produção The Lost World, que também mostrava modelos em Stop Motion de dinossauros com uma ótima qualidade técnica. O grande mérito de King Kong foi ter incorporado esse mundo da animação de massinhas em meio a atores e cenários reais, coisa que também já existia antes, mas nunca com tanta qualidade quanto neste filme.
Percebendo uma boa oportunidade no potencial do roteiro e na qualidade dos efeitos especiais, os estúdios MGM (já um grande nome de Hollywood) ofereceram (colocando o dedinho na boca) UM MILHÃO DE DÓLARES pelos direitos sobre a obra, alegando que o pequeno RKO não era capaz de cobrir todos os custos de produção. A proposta foi negada e os caras do RKO preferiram arriscar mundos e fundos (imagine como uma produção dessas era cara naqueles idos e em um país a beira de um colapso).
O filme foi rodado em 1932 e estreou em Nova Iorque em 2 de Março de 1933 e nas demais cidades dos EUA um pouquinho depois, em 7 de Abril. Durante a produção, o título mudou de nome várias vezes: primeiro era The Beast, depois The Ape, depois King Ape, Kong e finalmente o nome que entraria para a história: King Kong.
A importância de King Kong pode ser demonstrada claramente nos inúmeros produtos que foram gerados ao longo do século XX de forma oficial ou com uma inspiração mais que óbvia. Ainda dentro do cinema, tivemos coisas bem “cults” como o clássico absoluto dos filmes “B”, King Kong Vs. Godzilla, de 1962 (na verdade, a própria criação do lagartão tem sua origem diretamente relacionada ao Kong) ou a tentativa de reedição do original, em 1976, que contava com nomes como Jeff Bridges e Jessica Lange no elenco. Esse último passou exaustivamente no SBT, juntamente com sua continuação (King Kong 2 de 1986) e foi um dos grandes responsáveis pela minha geração conhecer um pouco da “lenda” do macacão, mesmo que ambos os filmes da nova safra sejam fraquinhos.
Fora do cinema, mas ainda dentro do assunto, tivemos alguns jogos de videogame fundamentais que tiveram clara inspiração, como a série Donkey Kong (onde um certo encanador italiano fez a sua estréia também), especialmente o primeiro exemplar de 1981. O famoso Rampage de fliperama, que depois apareceu no Master System, no Nes e até no Mega Drive e Nintendo 64 também tinha lá o seu “King Kong” bem representado (no caso, era um símio chamado George). Na década seguinte, o jogo de luta Primal Rage (que eu particularmente gosto bastante) também pegava sua dose de inspiração do filme de 1933 e o game The Simpsons: Bart´s Nightmare, para Super Nes e Mega Drive, também tinha uma fase inspirada no filme onde você enfrentava o King Homer no topo do Empire States.
Quer saber mais sobre o primeiro filme? Então não deixe de ler a minha crítica para ele, aqui mesmo nesse especial e divirta-se.