O Natal está chegando e, como sempre, Papai Noel traz seus caça-níqueis no saco. Entre eles está este O Expresso Polar, baseado em um livro de Chris Van Allsburg. A propósito, que modinha essa de filmar livros, hein? Será que se eu escrever um livro, eu consigo vender os direitos dele para a Warner por um punhado de milhões de dólares?
Dirigido por Robert Zemeckis, o mesmo que nos trouxe alguns dos melhores filmes da história como De Volta Para o Futuro e Uma Cilada Para Roger Rabbit, O Expresso Polar mostra que nas mãos de uma boa equipe, até um caça-níquel de Natal pode gerar uma boa diversão.
Ao assistir ao trailer desse filme, confesso que achei seu visual bem feio. Eu estava errado. É bem verdade que, ao ser comparado com pérolas como Shrek ou Procurando Nemo, O Expresso Polar perde feio. O motivo disso é bem simples, enquanto os dois primeiros usam a computação gráfica para gerar um visual cartunesco e divertido, o Expresso usa a técnica para tentar gerar um visual mais real, algo semelhante ao que já havia sido feito em Final Fantasy. Agora eu me pergunto, para que dar um visual realista para o que deveria ser um desenho? Boa parte da diversão de um desenho não está justamente em seu visual inusitado? À possibilidade de o Patolino (apenas para citar um exemplo da própria Warner) levar um tiro na cara e ter como única conseqüência seu bico virado para trás? Pois é, isso não acontece neste filme. Para a computação gráfica chegar a um alto nível de realismo ainda falta muito. Felizmente, pois o único motivo que consigo pensar para quererem isso é economizar dinheiro nas produções.
A história é bem simples. Em pleno Natal, um garotinho começa a deixar de acreditar em Papai Noel (o que, convenhamos, é um absurdo, já que é fato que Papai Noel existe, ou quem mais colocaria os presentes em baixo da árvore?). Então, do nada, um trem aparece em seu quintal e o condutor o convida a ir até o Pólo Norte. Logo, o moleque faz amigos e se mete em um monte de confusões, tanto no caminho até a terra do Papai Noel, quanto após chegar lá. Em relação a essas confusões, devo ser sincero. Embora elas sejam divertidas e em grande parte emocionantes, parecem apenas enrolações para fazer uma história tão simples durar uma hora e meia.
A música é um destaque do filme. Contando com composições do mestre Alan Silvestri (que também presenteou o mundo com a fantástica trilha de De Volta Para o Futuro), a fita tem nas músicas orquestradas seus melhores momentos musicais. Não se limita a isso, contudo, já que aqui também temos aquela velha fórmula da Disney de fazer seus personagens cantarem em determinados momentos. Tudo bem, não dá para comparar a parte cantada de um Aladdin ou de um Rei Leão com O Expresso Polar, pois este traz músicas curtas e muito simples (embora divertidas), mas pelo menos temos de volta aquela magia dos antigos “desenhos musicais”. Além disso, a cena do chocolate quente é divertidíssima e eu adoraria ter alguém servindo bebidas para mim daquele jeito. Ainda sobre a música, o filme traz a participação de Steven Tyler (Aerosmith) como um duende cantor pra lá de mal-aproveitado, já que o pai da Liv canta apenas uns dois versos no filme inteiro.
Algo que diferencia este caça-níquel natalino de quase todos os outros, é seu foco. Embora sua história e mensagem sejam completamente clichês para o gênero, o Expresso, ao contrário de Anjo de Vidro não foca sua narrativa na hipócrita bondade humana, mas na fantasia. Sua grande mensagem é que devemos acreditar na fantasia. Convenhamos, é muito mais fácil acreditar que o sangue de um unicórnio pode nos dar a vida eterna do que crer que o ser humano tem a capacidade de tratar bem seus semelhantes. E isso torna o Expresso muito mais crível e mais divertido do que seus rivais que tratam do mesmo tema.
Agora vamos aos problemas. Para começar, as legendas desse filme estão horríveis. Parecem ficar tremendo na tela o tempo todo. Não sei se era um problema do cinema ou do filme em si, então já vá avisado. Outra coisa que nunca dá muito certo é a centralização de um filme inteiro em um ator (no caso, Tom Hanks). Ora, o ex-Forrest Gump faz 5 personagens no filme inteiro. Isso é ridículo, pois prejudica muito um filme, sobretudo uma animação, já que todo mundo tem vozes parecidas. Essa centralização em um ator era um dos poucos problemas em De Volta Para o Futuro, mas agora, quase 15 anos depois que a trilogia terminou, Zemeckis ainda insiste no erro? Que feio, Robert!
Apesar dos problemas e de ser um caça-níquel natalino, O Expresso Polar é um filme legal. Certamente, superou minhas expectativas (que eram bem baixas), e sem dúvida eu me diverti bastante na sessão. Se você já tem uma pré-disposição para gostar de filmes do estilo, pode ir sem medo.
O Expresso Polar parte nesta sexta, dia 26 de novembro.