Poucas vezes desde que eu tirei minha carteirinha gamer, um game me impressionou tanto logo de cara quando The Last Case of Benedict Fox. Temos aqui um dos metroidvanias 2.5D mais bonitos que existem. Quiçá o mais bonito de todos. Além disso, ele traz uma boa quantidade de opções, permitindo customizar exploração, puzzles e combate, cada um com uma tela explicativa.
Curiosamente, os modos mais fáceis da exploração e dos puzzles acrescentavam coisas que para mim eram qualidade de vida. Mimos como mapas mais detalhados ou a opção (não obrigação) de pular puzzles. Resolvi ligar ambas. Já a descrição do combate não me apeteceu. No fácil, todos os inimigos morrem com um único golpe. Eu não queria isso.
Acabei cedendo e abaixando no meio da campanha, porque o game ficou difícil demais logo no primeiro chefe, e ele tem coisas modernas pentelhas, como perder XP quando morre. Tem uma opção bem bacana de ligar imortalidade, que é algo que eu ligaria antes de nerfar os inimigos, mas você só pode ligar essa opção no fácil. Não demorou para eu ligar também. Afinal, sou velho demais pra ficar lidando com perder XP.
THE LAST CASE OF BENEDICT FOX
Outra coisa que muito me agradou quando navegava nos menus é o fato de que todos os diálogos ficavam guardados para podermos consultar depois. The Last Case of Benedict Fox parecia ter um cuidado com a qualidade de vida que está na moda ignorar hoje em dia para qualquer desenvolvedora que não seja first party.
Antes mesmo de começar a jogar, duas coisas estranhas aconteceram. A assessoria de imprensa disse que mandaria o código após o lançamento. Isso costuma ser feito para esconder um jogo quebrado da imprensa – e portanto do público. Porém, na minha inocência, eu sempre penso que sou eu, não eles. Provavelmente eles vão mandar o jogo para mim mais tarde porque, como o DELFOS é independente e pequeno, não é prioridade.
Outra coisa, já com o jogo, é ter visto no menu que ele tem modos de qualidade e performance. Peraí, este jogo é um sidescroller exclusivo para Xbox Series. Por mais que ele seja bonito, você está me dizendo que o Xbox Series X não tem capacidade de rodá-lo a 60 fps? Bom, certamente consegue rodar a 30 então, né?
NÉ?
Eu comecei no modo qualidade, como sempre faço. E embora ele tenha começado rodando bem, logo começou a gaguejar com frequência absurda. Sem exagero, ele chegou a virar um slideshow, com um ou dois frames por segundo durante longos períodos. A má notícia é que isso também acontece no modo performance. Simplesmente não tem jeito de The Last Case of Benedict Fox rodar bem no Xbox Series X no momento de fechamento desse texto.
Eu joguei The Last Case of Benedict Fox logo depois de jogar Stray Blade. Dois games de console seguidos com a pior performance que já vi num console deve ter algo errado, certo? Pensei que poderia ser algo com meu Xbox. Daí rodei Forza Horizon 5, que suponho que seja bem mais pesado, e ele rodou liso. Então claramente há problemas graves de otimização por aqui.
THE LAST CASE OF BENEDICT FOX: COMO É O JOGO?
Agora que já falamos da performance, vamos falar do jogo. Como é The Last Case of Benedict Fox? E isso é o que dói, pois ele é MUITO promissor. Tem o esqueleto aqui de um game que poderia ser o novo Ori and the Blind Forest. Mas ele não está acabado. Está longe disso.
Apesar do cuidado com acessibilidade e customização, The Last Case of Benedict Fox peca em muito mais do que na performance (que já é inaceitável para um console). O level design também parece inacabado. Mesmo que você ligue o mapa com a maior quantidade de detalhes, ele não fala para onde ir. E a maior parte dos seus objetivos envolve “encontrar as páginas perdidas do ritual”. Então você anda a esmo, muitas vezes com todos os caminhos abertos sem saber para onde ir. E daí entram os puzzles.
OS ÚLTIMOS QUEBRA-CABEÇAS DO BENEDITO RAPOSA
O jogo tem uma quantidade enorme de puzzles, e estes são bem complexos, normalmente envolvendo decodificar símbolos. A coisa é tão chata que eu dei graças a Deus por poder pular os quebra-cabeças. Porém, só é possível passar pelos puzzles quando você já encontrou todas as informações relacionadas. E isso é algo muito menos claro do que o metroidvania tradicional, em que as chaves são as novas habilidades.
Os puzzles não são marcados no mapa, então constantemente eu estava em situações com o mapa aparentemente todo aberto, e com várias soluções no inventário sem saber onde usá-las. E mesmo quando sabia onde usar, daí a lembrar onde estava aquele puzzle específico são outros quinhentos.
Outro problema é que o jogo permite que você tente resolver os puzzles mesmo sem ser possível ainda. Ou seja, você pode ficar 15 minutos quebrando a cabeça, desistir e só depois disso descobrir que ainda não tinha todas as peças que tornavam a solução possível. Dessa forma, eu passei a sequer tentar solucionar. Eu me aproximava e mandava ele se resolver sozinho. Se eu tivesse a “chave”, a porta abria. Se não, ele falava que eu precisava de mais itens. Menos trabalhoso, mas com certeza não é assim que o jogo foi feito para ser jogado.
AUTOSOLVE, MAS CADÊ AUTOSAVE?
Sabe qual é a coisa mais bizarra de The Last Case of Benedict Fox? Ele não salva. Ou melhor, a única forma de salvar é escolhendo “salvar e sair” no menu. Se der um pau ou quebrar de alguma forma, como o personagem parar de responder aos comandos (o que aconteceu comigo duas vezes), você está ferrado. Espero que tenha “saído do jogo” recentemente, ou vai ter que restaurar para a última vez em que saiu.
E sim, eu descobri isso da pior forma possível, tendo que fechar o jogo à força mais de uma vez e quando escolhi continuar, voltava do save do início da minha sessão. Eu passei a sair do jogo e voltar cada vez que cumpria um objetivo importante, para evitar perder progresso. Imagina um caboclo jogando através do Quick Resume. Sujeito está jogando por dias, passou por várias áreas, matou vários chefes. Daí dá um pau e ele descobre, ao abrir o jogo novamente, que não existe save. Como isso passou pelo QA, cara?
MAS SERÁ O BENEDITO? SIM, THE LAST CASE OF BENEDICT FOX!
A questão é que o jogo é tão bonito que eu queria gostar dele. Apenas pela força bruta dos seus gráficos, eu fui muito além do que normalmente iria em um jogo tão pentelho e tão quebrado.
Eu não estava me divertindo. Empacava a cada três minutos e queria parar de jogar toda vez que isso acontecia. Porém, quando conseguia avançar, me empolgava novamente. Por mais três minutos, até empacar de novo. Jogar The Last Case of Benedict Fox foi um suplício.
Eu acabei desistindo em uma parte que me mandou procurar por livros na biblioteca. Fui nas duas áreas chamadas “library“. Numa delas encontrei um livro. Na outra, um personagem falou “o livro deveria estar aqui”. Meu objetivo então passou a ser “encontrou o livro”, sem nenhuma outra dica do que fazer depois. A pessoa que me pediu para encontrar o livro não tinha novos diálogos, então fui obrigado a desistir.
O ÚLTIMO INTERTÍTULO DO BENEDITO
Não sei dizer se a Plot Twist vai trabalhar o suficiente em The Last Case of Benedict Fox para que ele pareça um jogo normal de console, que funcione como se espera. Eu diria que eles têm pela frente um ano ou mais de otimizações até o game estar pronto. Será que vão colocar o esforço?
Eu sei que eu, sinceramente, coloquei nele muito mais esforço do que merecia. Se você quiser ver o tamanho do desastre, The Last Case of Benedict Fox está disponível no Game Pass. Mas no estado atual, nem de graça eu consigo recomendá-lo.