O delfonauta dedicado sabe da minha admiração por Zhang Yimou. Ele é o diretor cuja estética e estilo mais fala comigo, e também foi o único cineasta capaz de colocar dois filmes na minha lista de melhores do ano NO MESMO ANO. Pois esta crítica Luta Pela Liberdade abordará o filme de 2021 do sujeito. E o fato de ser um trabalho dele é mais do que o suficiente para me levar ao cinema.
CRÍTICA LUTA PELA LIBERDADE
Estamos na década de 1930, quando as tensões entre o Japão e a China estavam no ápice, o que eventualmente contribuiria para a animosidade que levou à Segunda Guerra Mundial. Os heróis são agentes do partido comunista que têm a missão de ajudar um chinês que escapou das torturas japonesas a sair do país. Eles esperam que o relato dele seja suficiente para que o Japão seja responsabilizado por seus crimes.
Porém, um traidor passou informações vitais da operação para os inimigos, e agora nossos heróis estão cercados de ameaças por todos os lados. Está na hora da Luta Pela Liberdade.
ZHANG YIMOU NOIR
Zhang Yimou entrou no radar do mundo, e certamente no meu, com seus filmes de kung fu fantasiosos, como Herói e O Clã das Adagas Voadoras. Porém, ele já abordou muitos temas diferentes. A animosidade entre Japão e China foram protagonistas em Flores do Oriente. O cinemão épico hollywoodiano estrelou A Grande Muralha. Mesmo Shadow, que parecia trazer o diretor de volta ao estilo que o consagrou, era mais parado do que os filmes de kung fu elaborados e cheios de adrenalina do passado.
Luta Pela Liberdade traz uma nova ruptura à filmografia do nosso amigo. De igual, temos os temas chineses e a estética apurada. Mas a temática é bastante nova. Este é um filme noir, inclusive explorando estilos visuais comumente relacionados ao gênero.
Assim, tem muita espionagem e tensão. Rolam até alguns tiroteios e perseguições de carros. Certamente, Luta Pela Liberdade não é parado como Shadow. Mas, para ser sincero, foi o primeiro filme de Zhang Yimou que eu não gostei.
CRÍTICA LUTA PELA LIBERDADE: QUEM É QUEM?
Muito disse se deve à extrema homogeneidade do elenco. Composto praticamente de homens bonitos, magros, asiáticos, sem barba e com a mesma cor de cabelo e penteado, tive MUITA dificuldade em diferenciar um ator do outro. Para complicar, em quase todas as cenas, a imensa maioria dos personagens usa sobretudo e chapéu preto.
É uma estética típica do gênero noir, e sem dúvida é estiloso e belo. Mas se os atores já são parecidos, vestir todos com a mesma roupa deixa tudo desnecessariamente confuso. Em parte do filme, eu comecei a diferenciar bandidos e mocinhos pelo fato que os primeiros usavam uniformes militares. Mas daí os mocinhos pararam a se disfarçar com os mesmo uniformes e os vilões também colocaram sobretudos. Daí deu tilt.
Veja, não entenda que isso é uma piada do tipo “orientais são todos iguais”. As semelhanças entre eles aqui vão muito além da etnia. Até mesmo os nomes são parecidos (três personagens do filme se chamam Han, Zhang e Wang). O fato de todos terem os mesmos penteados, mesmas cores de cabelo, mesmo tipo de corpo e, especialmente, o mesmo figurino, pode ter sido uma decisão estética para deixar o filme bonito. E deixou. Mas prejudicou sobremaneira a narrativa, o ato de contar uma história.
DÁ PARA ENTENDER, MAS…
Assim, dá para entender a história. Eu sabia qual era a missão dos heróis. Sabia as dificuldades e sei se eles conseguiram cumprir o objetivo. Porém, histórias são contadas nos detalhes. Eu nunca sabia se um sujeito da cena X era o mesmo que estava na cena Y. E dificilmente conseguia saber quem era herói e quem era vilão. Assim, pegava a história geral, mas não conseguia me envolver no drama individual.
Daí sobrava apenas a estética. E, como todos os filmes do Zhang Yimou, Luta Pela Liberdade é lindão. Em uma época em que o cinema mainstream fica cada vez mais azul, Yimou nos deleita com cores vivas, com cenas que brilham na tela e enchem os olhos.
Porém, ao contrário de Herói, Shadow ou A Grande Muralha, ele não é bom em contar sua história. Acaba valendo a assistida apenas pelo visual. E isso é muito pouco. Cinema é, antes de tudo, narrativa. E um longa que peca neste aspecto fica difícil de recomendar.