Wolfenstein II: The New Colossus é continuação de Wolfenstein: The New Order, lançado em 2014. The New Order surpreendeu geral por aliar ação desenfreada, stealth e, principalmente, uma história bacanuda. Mas o delfonauta sabe, eu sempre sou do contra.

Apesar de ter gostado do jogo, achei ele aberto demais para um jogo de tiro, e não virou um queridinho da minha coleção. Comparando com outro jogo da Bethesda, eu gostei mais do primeiro The Evil Within, que foi recebido de forma muito mais morna.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Este não é o colosso do título, mas seria digno do nome.

Se você jogou o anterior, deve se lembrar que logo no início deve escolher um presunto. Pois The New Colossus abre com um flashback daquela cena. Sua escolha vai afetar a história que você vai ver e uma arma que vai receber. Nesta minha primeira jogada, eu escolhi salvar o Wyatt.

SALVE O WYATT, SALVE O MUNDO

Devo confessar que Wolfenstein II demorou para me empolgar. Assim como o primeiro, suas fases são abertas demais, o que acaba inibindo a exploração, uma vez que é praticamente impossível explorar tudo.

stealth também é menos útil. No primeiro, quando você entra em um lugar onde vale ser furtivo, é comum encontrar logo o comandante. Aqui muitas vezes o comandante está a mais de cem metros de distância, com dezenas de nazistas entre você e ele, o que significa que qualquer erro o alarme é disparado. Em outras palavras, você tem poucas chances de matar todo mundo sem transformar a bagaça num tiroteio desenfreado.

No entanto, depois de algumas fases eu comecei a me ver realmente investido na história, e isso me dava contexto para continuar jogando, ainda que o gameplay não seja tão empolgante quanto o de outros FPS.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Verdade, o visual caprichado ajudou bastante.

Como você provavelmente já deve saber, este Wolfenstein pós-reboot acontece nos anos 60, em uma realidade alternativa na qual os nazistas ganharam a Segunda Guerra e dominaram o mundo. Você, como o brucutu bonitão B.J. Blascowicz, faz parte da resistência e visa liberar os EUA do novo governo tirano.

MAIS DO QUE PARECE

setup é bacana, mas a história e os personagens são conduzidos e desenvolvidos com maestria, a ponto de fazer com que o jogo esteja no seu melhor em seus momentos roteirizados.

Por exemplo, há uma determinada fase focada na exploração, onde você vai visitar a fazenda onde cresceu. Lá, você pode ir direto ao seu objetivo, ou explorar. Escolha esta opção e será brindado com excelentes cutscenes que mostram momentos chave da sua infância.

A relação do B.J. criança com a garota negra Billie merece destaque. Ela é a melhor amiga de B.J. e tudo indica que eles viriam a namorar, para desespero de seu pai racista. Em um dos melhores diálogos, as duas crianças inocentes contam uma para a outra o que os pais falam da outra raça. “Negros são ladrões, mendigos e analfabetos”. “Brancos são maus e têm raiva porque usavam os negros de escravos e agora são proibidos de fazer isso”. Veja esta cena aos sete minutos do vídeo abaixo.

Esta é apenas uma das muitas cenas nas quais o jogo trata de racismo e de outros temas espinhosos com uma beleza digna de nota. Há também uma personagem alemã que se junta à resistência, e é sempre maltratada pelos colegas, especialmente por uma das líderes do movimento, que é negra e sempre chama a alemã de nazista.

Uma hora, nossa amiga loira de olhos azuis perde a paciência e diz: “Você não tem o direito de me chamar de algo que eu não sou. De algo menos do que humano”. Há muitos momentos como estes, e obviamente não vou citar outros aqui para você se deleitar com as surpresas assim como eu. Fique sabendo, no entanto, que a representação da animosidade entre raças é muito mais tridimensional e interessante por aqui do que, por exemplo, em Mafia 3, que focou toda sua campanha de divulgação em sua demonstração de racismo. Rola até a possibilidade de matar alguns membros da Ku Klux Klan devidamente paramentados em suas roupas de fantasminhas camaradas.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Sem falar que uma grávida de topless metralhando nazistas é a pura definição de trueza.

Além da sua forma de lidar com assuntos espinhosos, a história também segue por caminhos menos óbvios e surpreendentes, que envolvem a morte de personagens importantes e vários caminhos sem volta que são de ficar de boca aberta.

O ÚNICO PONTO

Achei que a história peca num único ponto. Finalmente, depois de muitos anos, um Wolfenstein resolve mostrar o Hitler. Pois esta figura histórica que, sim, é um dos maiores vilões que já existiu, é mostrado apenas desta forma, como um vilão que mata qualquer um que o contrarie ou que não tenha utilidade para ele.

Ora, estamos falando de um cara com uma ideologia para lá de questionável que conseguiu fazer metade do mundo ficar a seu favor e lutar por ele. Fale o que quiser do nosso amigo do bigode, mas ele no mínimo deve ter sido um tremendo líder. Seria legal que Wolfenstein desse maior profundidade ao sujeito, mais ou menos como a série Assassin’s Creed costuma fazer com seus vilões que também são baseados em figuras históricas.

E O GAMEPLAY?

Falei bastante da história até agora, mas é justamente porque este é o ponto que torna Wolfenstein II um jogo especial. O gameplay simplesmente não é bom o suficiente para se destacar por conta própria.

Por exemplo, o feedback de dano simplesmente não é o suficiente. Você pode estar levando tiros sem se dar conta disso e simplesmente morrer quando achava que estava com o life quase cheio.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Estes presuntos, por outro lado, com certeza sentiram meus tiros.

Há também a possibilidade de empunhar duas armas ao mesmo tempo. Uma das grandes vantagens em jogos que permitem isso é poder atirar com uma arma enquanto recarrega a outra. The New Colossus não permite isso. Você fica impedido de atirar enquanto estiver recarregando qualquer uma das duas armas, e este é um exemplo de decisão estranha que torna o gameplay menos aprazível do que deveria ser.

DIFICULDADE

Há vários níveis de dificuldade. As três mais baixas são descritas mais ou menos da seguinte forma: “fácil para jogadores novatos”, “médio para jogadores casuais”, “médio para jogadores experientes”. Senti que a que melhor me descrevia era a dos jogadores experientes, que inclusive parecia ser o equivalente ao normal.

No entanto, tive bastante dificuldade nela, o que com certeza ajudou a eu não curtir o início do jogo. Basicamente, eu andava um pouquinho, salvava, morria, esperava um longo loading e repetia o processo. Estava bem chato. Daí eu resolvi arregar e diminuir para a casual e continuou difícil. Não deu outra, fui para a novato, e daí ficou mais ou menos como o que normalmente é o normal.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Pausa para admirar o cenário.

Só que depois de algumas fases, acontece uma coisa surpreendente na história, e a partir daí sua saúde máxima passa de 50 para 100, além de ser possível subir a saúde até 200 sem que ela diminua automaticamente, como era antes. Isso deixa o jogo muito mais fácil, a ponto de que eu acredito que daria para jogar no médio novamente. Faltou um pouco de balanço neste aspecto.

UPGRADES E SIDEMISSIONS

Um último aspecto bacana que quero comentar são os upgrades, que são feitos automaticamente de acordo com a forma que você joga. Por exemplo, se você usa muito granadas, elas ficarão melhores. Se você é fã da furtividade, vai andar cada vez mais rápido e de forma mais silenciosa. Obviamente, se você é como eu vai querer variar bastante suas táticas para upar tudo, mas não é necessário.

Wolfenstein II, The New Colossus, Delfos
Granadas fazem bum! #filosofia

Há também sidemissions. Algumas delas são legais e acontecem no hub. Outras, mais envolvidas, exigem que você colete uns breguetes e use-os para resolver um puzzle. Depois disso, você vai poder voltar para fases pelas quais já passou com o objetivo de matar um ubercomandante. Estas são totalmente desnecessárias (afinal, você já passou por aquelas fases), e estão presentes apenas para aumentar a duração de um jogo que não precisava disso, uma vez que ele já dura naturalmente mais de 20 horas.

WOLFENSTEIN II: THE NEW COLOSSUS

Wolfenstein II: The New Colossus é um FPS comum que se torna especial por dois motivos muito fortes. O primeiro deles é sua história, que é a melhor representação de racismo já feita nos games. O segundo é a simples escassez de jogos de tiro single-player e focados na narrativa, algo que eu não gostaria que morresse nunca, mas que está cada vez mais perto do túmulo.

Se você também gosta de jogos single-player sem microtransações, loot boxes e traços de RPG, vote com a sua carteira e compre Wolfenstein II: The New Colossus.