Who Wants to Be a Superhero?

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Em tempos de supremacia da cultura nerd (filmes de super-heróis, indústria de games sendo o ramo mais lucrativo do entretenimento e por aí vai), era de se estranhar que não existisse nenhum reality show que focasse nesse nicho. Pois é, era, já que agora existe Who Wants to Be a Superhero?, que inclusive está passando no Brasil no canal Sony, todas as terças, às 22 horas.

Aqui o objetivo é que pessoas normais usem sua criatividade para transformar a si mesmas em super-heróis. E nada daqueles jurados pentelhos tipo o Simon Cowell. Aqui quem manda é o tremendão Stan Lee, criador de praticamente todo o universo Marvel (que é bem superior à DC, você não acha?).

Infelizmente, ao contrário de American Idol, aqui quase cortaram fora a parte dos testes com o público, que prometia ser tão ou mais engraçado do que a do programa que trouxe Paula Abdul de volta do limbo. No piloto, temos um trecho curtíssimo onde vemos isso e logo em seguida já estamos com os finalistas.

Na verdade, durante todos os episódios, dá a sensação de ser um programa muito corrido. Em cada capítulo, dois heróis são eliminados e a primeira temporada inteira durou apenas oito episódios (mesmo número que terá na segunda temporada, cujos testes já estão sendo feito nos EUA).

O legal é que o que falta na edição e roteiro, sobra em humor. Ou você consegue imaginar algo mais engraçado do que um cara de mais de 30 anos, de topete, collant e cueca para fora da calça correndo pelas ruas? O vencedor da série terá seu personagem em um gibi escrito por Stan Lee a ainda participará de um filme feito para a TV. Sinceramente, achei que são os prêmios mais mixurucas que já vi em um reality show, mas quem não gostaria de virar um super-herói?

O programa basicamente consiste em uma série de provas super-heroísticas que, assim como nos gibis, nunca são o que parecem. Na primeira delas, por exemplo, os aspirantes a heróis têm que encontrar um lugar escondido para trocar de roupa e correr até um determinado local. Só que, no meio do caminho, tem uma menininha chorando. Obviamente, o mais importante da prova é salvar a garota, e é extremamente engraçado ver a maior parte deles passando reto, sem nem perceber os gritos de socorro da guria.

Em outra prova, também muito bem sacada, eles tinham que ir a uma lanchonete e comprar comida. Essa era a missão. O problema é que lá eles encontrariam uma garçonete gostosa (para os homens) ou sua contraparte masculina (para as mulheres) que ia começar a flertar e a tentar convencer o herói a contar sua identidade secreta. E quase todos contam. Fala sério, se eles lessem gibis, não teriam esse tipo de problema.

Mais bizarro que as provas são os heróis. O mais engraçado é Major Victory, que realmente entra no personagem e fala com o mesmo vocabulário de personagens de desenhos. Tyveculus, por outro lado, é um herói bem tradicional. Como não poderia deixar de ser, também temos as mulheres. Uma delas, Monkey Woman, vive fazendo barulhinhos de macaco e trepando em árvores. Também não posso deixar de citar a deliciosa Lemuria que, pelo que li em algumas entrevistas, é a personagem mais desenvolvida, cuja história se mistura com mitologia, misticismo e demais interesses nerds. Essa mina realmente fez a lição de casa, pena que usa tanta roupa. Agora uma coisa que realmente é irritante nela é que a dita-cuja simplesmente não consegue entrar no personagem. A qualquer sinal de eliminação, a guria já começa a chorar. Ah, faça-me o favor, ela devia ser eliminada só por causa disso: heróis não choram no primeiro sinal de perigo.

Temos também o bad boy, Iron Enforcer, que é eliminado no segundo episódio por ser mau demais para um herói. Obviamente, ele logo retorna transformado em um super-vilão, no episódio mais engraçado até o momento (que passou semana passada). O mais estranho é a reação de seus ex-aliados, que ficaram realmente chocados com a mudança de lado do cara, como se não esperassem que, cedo ou tarde, um vilão apareceria por ali. Como eu disse, eles deveriam ler gibis antes de participar desse programa. 😉

Aliás, aqui vale questionar quanta reality realmente tem nesse programa. Quando Iron Enforcer é eliminado, vemos ele indo embora, cabisbaixo, em um beco escuro, quando Stan Lee milagrosamente aparece em uma TV jogada no meio do lixo. Convenhamos, parece um pouco dramático demais para ser verdadeiro, não acha?

Na parte das eliminações, contudo, tem algumas coisas que me incomodam. O primeiro cara a ser eliminado, por exemplo, foi expulso porque queria lucrar com o personagem. Segundo Stan Lee: “heróis não querem lucro, querem ajudar pessoas”. Mas, Stan, e o Homem-Aranha, que você mesmo criou? Esqueceu que a primeira coisa que ele quis fazer com os poderes foi ganhar dinheiro? Outro caso é Iron Enforcer, que, até ser eliminado de vez, estava constantemente no paredão porque tinha uma big fuckin’ gun no braço e, segundo Stan, “heróis não matam pessoas”. Ok, mas como você explica o Wolverine e o Justiceiro, então? Esse último, principalmente, que existe pura e simplesmente para a vingança? A impressão que dá é que Stan, o criador da Marvel, está procurando por heróis perfeitos, como os da DC ou o Capitão América. Será que ele não gosta dos heróis cheios de falhas que ele mesmo criou e que nós tanto gostamos, justamente porque eles não são perfeitos?

Apesar dos defeitos, Who Wants to Be a Superhero? é, possivelmente, o reality show mais divertido que já existiu. Tem muito espaço para melhoras e vamos torcer para que tenha a mesma vitalidade que outros como American Idol, para que essas melhoras sejam implantadas nas futuras temporadas.

Curiosidades:

– Quer participar do programa? Então clica aqui e baixe sua ficha de inscrição. Depois manda seu personagem pra nós, pra gente ver o que os delfonautas andam criando. 😉

– Durante a pesquisa para a redação dessa matéria, acabei acidentalmente descobrindo quem será o vencedor da primeira temporada. Se você não quiser saber, não clique na parte do site oficial da primeira temporada, do link acima.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
who-wants-to-be-a-superheroAno: 2006<br> Canal: Sony<br>