Nunca um presidente estadunidense foi tão pop quanto George W. Bush. Ele foi o único que ganhou vários filmes (tipo esse e Morte de um Presidente – que eu jurava que tinha resenha delfiana – por exemplo – na verdade tem mesmo, e aqui está, com agradecimentos ao delfonauta Cristiano por ter lembrado o nome nacional). Cacildis, ele ganhou até séries de TV (Lil’ Bush e That’s My Bush são duas das que chegaram até aqui).
Acredito que a popularidade do Bushinho se deve a um simples fato: ele é um vilão. As pessoas têm curiosidade quanto a vilões. E pense, por exemplo, em quantos políticos italianos e alemães você consegue nomear. Aposto que os primeiros que vêm à sua cabeça são os mesmos que vêm à minha: Mussolini e Hitler. Ou seja, ser mau dá fama.
Pois graças a isso, o mini-Bush teve a honra de ser o primeiro anticristo a ganhar uma cinebiografia. E, sem dúvida, foi a primeira cinebiografia a me interessar. Infelizmente, se você espera algum esclarecimento sobre a confusa e diabólica política externa estadunidense, não é aqui que vai encontrar. W. é raso como a inteligência de seu protagonista e, além de tudo, é clichezento. Ou vai dizer que a vida do ex-dono do mundo foi assim tão parecida com as do Johnny Cash ou do Howard Hughes?
Enfim, aqui Bushinho não é mostrado como o maior assassino serial da história da humanidade (se não for o maior, deve estar no Top 5), mas como um coitadinho que vive à sombra do pai e do irmão e que não consegue agradar seu progenitor. Em determinada cena, ele chega a proferir a frase “todos pensam que eu nasci num berço de ouro, mas não sabem o fardo que eu carrego”. Gasp, digo eu. E reitero, em letra maiúsculas e exclamação para ênfase: GASP! Todo mundo junto agora: GASP! É nessas horas que eu amaldiçôo o fato de não ter nascido um avestruz para poder enfiar a cabeça na terra. Realmente, o cara dizima o próprio povo e o povo dos outros, causa milhares de mortes, desmembramentos e sofrimento, mas realmente o fato de ele fazer parte de uma das famílias mais ricas do mundo é um fardo bem maior do que o de um soldado que perdeu as duas pernas na guerra que ele inventou. Faça-me o favor, vai!
Aliás, não dá para ter compaixão de um cara com tanto poder que consegue resolver todos os seus problemas facilmente. Engravidou uma mina? Papai cala a boca dela. Quer cursar Harvard? Papai te coloca lá, mesmo que suas notas não sejam suficientes! PQP, e ainda fica bravo quando o chamam de moleque mimado!
Além disso, o filme claramente se desvia dos assuntos mais espinhosos. A eleição falsificada, por exemplo, é citada em apenas uma frase. O segundo mandato e tudo que aconteceu durante ele, então, é completamente ignorado. E o 11 de setembro, ah… isso merece um parágrafo à parte.
A essa altura, todo mundo que se interessa já sabe que a destruição do World Trade Center foi um inside job, graças aos benefícios que isso trouxe para os EUA e às inconsistências na história oficial. Tem um monte de documentários gratuitos sobre isso por aí e boa parte deles deve até ser o que atenção para o momento FNORD! eles querem que você pense. Portanto, fazer um filme tratando o 11 de setembro como um real ataque terrorista sem nenhuma relação com os EUA é praticamente como fazer um filme insistindo que a Área 51 é uma área para testes de armas experimentais (a “desculpa” oficial). É o tipo de coisa que nem tem mais porque mentir, é como a moça encontrando o camarada com uma ruiva peituda na cama e ele dizer que estavam gravando um CD com instrumentos invisíveis.
Além dessa crença na ingenuidade do povo (que deve até ser real nos EUA, onde são cegados pelo patriotismo), ainda temos aqui um espaço extremamente grande gasto com coisas não importantes. Para que diabos eu quero saber como foi a iniciação do Jorge Andarilho Moita na fraternidade da faculdade? Ao que me consta, a vida dele começou quando ele tomou posse e teve o poder para assassinar milhões. Qualquer coisa antes disso poderia até ser mostrada, mas não durante tanto tempo. Simplesmente não é o mais importante neste caso. Ninguém quer saber como o papai dele o colocou na presidência, a gente quer saber é por que e como ele tentou destruir o mundo.
Apesar das incongruências, é na parte política que o filme se destaca. Não deixa de ser curioso ver Colin Powell, Condoleeza Rice e demais potenciais assassinos planejando seus planos para enganar o povo estadunidense quanto a seus objetivos escusos. “Eu me preocupo com o petróleo, você se preocupa em como convencer o povo”, diz um de seus lacaios em determinado momento.
Ao pegar como tema o grande vilão contemporâneo e transformá-lo em um coitadinho não valorizado pelo papai, Oliver Stone perdeu a chance de fazer um grande filme. Um filme que seria lembrado por eras. Ao invés disso, não conseguiu fazer nem um filme nada. Se é para ver um filme vangloriando um grande vilão, fico com o Triunfo da Vontade.
Curiosidades:
– Elizabeth Banks, de Zack and Miri deve ser uma das pouquíssimas mulheres loiras que ficam ainda mais lindas com uma cor de cabelo mais escura, como já pôde ser visto na série Homem-Aranha.
– Outro herói que faz uma ponta por aqui é o Reed Richards.
– Lembro de ter lido uma matéria em alguma Veja da vida certa vez que mostrava os presidentes com os QI mais baixos da história. Em primeirão, estava lá, glorioso, o próprio Bush Jr. Em segundo, estava o pai dele. Que família, hein?