A Era Hiboriana é um dos mais importantes períodos fictícios da história. Nessa época de reis e feiticeiros, os homens vagavam seminus pela Terra ao lado de monstros, criaturas gigantes e outras armadilhas de Satanás.

Foi nesse cenário que nasceu o maior guerreiro de que se tem notícia desde a queda da Atlântida: o cimério Conan, o Bárbaro, fisiculturista pré-histórico que protagonizou um sem-fim de quadrinhos, contos e livros, além daqueles dois filmes mambembes com o Schwarzenegger.

Conan Exiles, Delfos
Pois é.

Conan, o mítico desbravador desta terra de ninguém, foi de tudo um pouco: de escravo a Rei da Aquilônia, de pirata a prisioneiro, de herói a mercenário, sempre disposto a se provar um combatente brutal e um exímio espadachim.

Em toda a história da Era Hiboriana, é verdade, não existiu guerreiro como Conan da Ciméria, que com sua espada chacinou magos e demônios de Nemédia a Keshan, de Aesgaard a Vendhia, de Zíngara a Khitai (eu dei um conferes nestes mapas do Robert E. Howard).

Infelizmente, para mim e para você, entretanto, esta história não é sobre Conan, mas sobre as vidas e mortes de um exilado qualquer, que de tão desgraçado nem nome merece ter…

UM DESGRAÇADO SEM NOME

Perdi uma boa meia hora criando meu personagem. Além das opções de raça, religião, voz e cor da pele, é possível escolher entre vários modelos de barbas, cabelos, olhos, bocas e sobrancelhas. Quantidade de músculos no abdômen, altura do personagem, tamanho do peitoral e formato do rosto são mais algumas entre outras muitas opções que parecem servir mais para te fazer perder tempo do que qualquer outra coisa.

Conan Exiles, Delfos
Tá parecendo o Conan do Jason Momoa.

É imprescindível, antes de avançarmos nesta épica jornada, ressaltar minha infelicidade ao descobrir que a versão do jogo enviada pela Funcom não me permitia visualizar os países baixos de nenhum personagem.

Por se tratar de uma versão censurada, fiquei impedido de fazer a dança do jumento com os bonequinhos, e de apreciar as xerebenébias das bonequinhas – ainda que, alterando a configuração para “nudez parcial”, tenha conseguido liberar o topless.

Conan Exiles, Delfos
Pelo menos isso.

BEM-VINDO AO EXÍLIO

Conan Exiles começa me informando que, no Ano da Cobra, fui preso e condenado por crimes que “posso ou não ter cometido”, incluindo libertinagem, defloração de virgens e canibalismo – o que para mim é meio que a mesma coisa.

Crucificado e deixado para morrer em um deserto às margens do mapa, resta-me esperar que a fome, a desidratação ou os urubus enfim me carreguem para os reinos de Derketo, a deusa da morte e da fertilidade que escolhi seguir no menu de criação.

Antes que as trevas se apossem de minha alma, contudo, uma figura surge no horizonte empoeirado. Mas quem vem lá? É Conan, o personagem-título desta empreitada, que aparece apenas para fazer uma ponta em seu próprio jogo.

Conan Exiles, Delfos
Se você ainda não percebeu, esta matéria é sobre mamilos.

Depois de me salvar a vida e proferir palavras doces como “Talvez fosse mais benevolente ter deixado você na cruz”, o grandão se afasta e desaparece dentro de uma tempestade de areia, deixando-me livre para lutar e morrer neste mundo cruel.

Mais para morrer do que para lutar.

MORRENDO NO SINGLE-PLAYER

Estou sozinho no deserto usando apenas uma tanguinha. Até onde a vista alcança, não há nada além de pedregulhos e montes de areia. Uma pequena lista no canto superior da tela me oferece dicas sobre o que devo fazer: escalar, beber e me alimentar.

Sobre uma pedra descubro um cantil e uma carta. Nela está escrito que não importa qual estrada eu pegue, todas levam para a cidade. Bebo um pouco da água no cantil e uma mensagem popa no centro da tela, informando que concluí uma etapa da jornada.

Seguindo para o norte, escuto grunhidos ecoando pela imensidão do deserto, daqueles que os desenvolvedores inserem no jogo para te deixar ligeiro. Em meio às ruínas do que talvez fosse um templo, encontro um morcego gigante devorando um cadáver.

Conan Exiles, Delfos
Ih, rapaz.

Ao me aproximar para bater uma foto, o morcegão nota minha presença e sai voando para longe. “Graças a Crom não precisei enfrentá-lo”, penso, antes de me lembrar que Crom é o deus do Conan, e não o meu. Perdão!

Como que sendo punido por este pecado, percebo pelo indicador no topo da tela que estou começando a morrer de fome. Lembranças de outra vida me vêm à mente por um instante.

Estou prestes a perder as esperanças quando avisto uma porção de coqueiros e palmeiras surgindo no horizonte. Um oásis, finalmente! Corro até ele e descubro que ali, à beira do deserto, existe um rio cortando a mata verdejante.

Conan Exiles, Delfos
Tipo assim.

Bebo até matar a sede, encho meu cantil e procuro algo para comer nos arredores. Encontro uma porção de ovos de tartaruga que enchem pelo menos um pouco o indicador de fome, e saio para explorar este belíssimo território.

Meio minuto depois, vejo uma dupla de exilados zamorianos correndo em minha direção com tacapes e porretes. Aperto o botão para correr, mas o personagem se agacha. Agora não estou apenas fugindo, mas também passando vergonha. É quase um alívio quando os NPCs me encurralam e espancam até literalmente me desmontar, e assim eu morro pela primeira vez.

Conan Exiles, Delfos
Eles realmente me desmontaram.

MORRENDO NO PVE

O universo de Conan Exiles é um lugarzinho impiedoso. Em parte porque esta é a premissa do jogo; em parte porque, mesmo após um ano em acesso antecipado, o game não parece realmente pronto.

Após experimentar o single-player, no qual você joga em um servidor exclusivamente seu (com a opção de convidar amigos), decidi me arriscar em um servidor PVE, onde vários jogadores enfrentam o ambiente, sem a possibilidade de atacar uns aos outros. Poderia formar um clã e, se Crom quisesse, desbravar as Terras do Exílio ao lado de gente como a gente. Achei que estaria em casa.

Mas então veio a primeira rasteira: descobri que, ao trocar de servidor (seja qual for), você é obrigado a recomeçar sua jornada com um novo personagem. E o que é pior: existem apenas três ou quatro servidores disponíveis para a América Latina. E pior ainda: desses poucos servidores, nenhum está funcionando como deveria.

Entre os problemas mais comuns estão as telas de loading infinito (que te impedem de entrar no servidor) e os resets aleatórios (que zeram tudo o que foi construído), além de toda uma biosfera de bugs que podem atrapalhar ou comprometer irreversivelmente a jogatina.

Conan Exiles, Delfos
Pior do que os bugs são as hienas. Olha a cara das demônias…

Entrei em um servidor gringo, que pelo menos era oficial, e recomecei minha jornada. A verdade é que já estava mais adaptado ao jogo, e por isso não morri de forma tão imbecil quanto tinha morrido no single-player.

Mas também é verdade que morri por dentro, ao perceber que meu maior inimigo aqui não seriam os NPCs, os monstros, os animais, a fome ou o próprio ambiente, mas o lag que me fez perder quase todas as batalhas, mesmo quando eu já tinha armas e um escudo para me defender. Bastava aparecer um inimigo e o jogo começava a travar, rodando a menos que um frame e meio por segundo. O inimigo aparecia ao longe, a imagem congelava e, quando voltava ao normal, eu já estava morto.

E assim morri pela segunda vez. Várias vezes. Por dentro.

MORRENDO NO PVP

Como desgraça pouca é bobagem, decidi reiniciar minha aventura pela terceira vez. Assim, pensei, poderia ter um gostinho de sangue de todos os possíveis mundos de Conan Exiles, e então decidir se preferia continuar minha jornada como um verdadeiro exilado, no single-player, ou enfrentando as adversidades dos servidores nos modos online. Restava, portanto, cair matando no PVP, onde ninguém é de ninguém e absolutamente todos desejam arrancar seu couro – especialmente outros jogadores.

Por ironia do destino, quis Mitra (ou qualquer que fosse o deus que escolhi nessa encarnação) que nenhum outro jogador cruzasse meu caminho durante o gameplay. Isso me permitiu cumprir várias etapas da jornada, e inclusive construir um modesto puxadinho.

Conan Exiles, Delfos
Eu disse que era modesto.

Isso não significa, porém, que não morri. Pelo contrário: passei mais tempo morto do que vivo. As várias mortes do meu personagem incluem, porém não se limitam a:

  • cair de um precipício;
  • ser assassinado por tartarugas gigantes;
  • morrer de inanição;
  • ser arrastado e destruído por tempestades de areia;
  • fracassar em tentativas de diplomacia com os nativos;
  • fracassar em tentativas de combate físico contra os nativos;
  • fracassar em tentativas de combate a distância contra os nativos;
  • ser usado como alvo para treinos de arco e flecha pelos nativos;
  • cair de um precipício (de novo) enquanto fugia dos nativos;
  • morrer de sede;
  • morrer afogado;
  • ser devorado por crocodilos;
  • ser devorado por aranhas;
  • ser devorado por monstros cujo nome não tive tempo de perguntar.

E assim eu morri mais umas dezenas de vezes.

Conan Exiles, Delfos
Pelo menos a larva eu consegui matar.

LUTE, MORRA, SOBREVIVA E MORRA DE NOVO

Minha experiência com Conan Exiles ainda está no começo. Como eu disse, existem muitos problemas de servidor e bugs a serem corrigidos pela Funcom. Enquanto isso, pretendo continuar me aventurando no single-player, onde o lag é menor, a sombra mais fresca e o mundo menos injusto.

Se Ymir quiser, sobreviverei às intempéries e voltarei aqui para registrar minha jornada – dessa vez tentando morrer um pouco menos.

Mantenha-se bárbaro, delfonauta!