É raríssimo um filme de terror contar com um elenco famoso. Porém, quando conta, a estrela costuma ser Naomi Watts. Palmas para ela, pois parece ser a única atriz do primeiro escalão a ver o valor neste gênero tão esquecido.
Ok, essa introdução não vai ter muito a ver com o resto do texto, mas é algo que eu queria falar. Dito isso, vamos à sinopse: um casal composto pela irmã gêmea da Nicole Kidman (Watts) e Tim Roth (de Cães de Aluguel e Pulp Fiction) vai relaxar em sua casa no campo, levando seu pimpolho a tiracolo. Pouco depois de chegar, eles são apresentados a dois mancebos que logo serão os causadores da Violência Gratuita do título, pois a família será mantida como refém na própria casa e será submetida a tortura física e psicológica.
A primeira coisa que me chamou a atenção nesse filme foi o pôster. Taí um exemplo do tipo de direção de arte que eu gosto. É limpo, é bonito, e dá uma boa idéia do que esperar da obra. Ah, e ele ainda lembra o visual de Laranja Mecânica, para mim o melhor do Estanislau Rubrica (pelo menos entre os que assisti). Aliás, no release, consta que o visual deste filme é repleto de referências ao próprio, embora deva dizer que, para mim, as semelhanças pararam no pôster e, em parte, na temática.
Depois, ao ler a sinopse, fiquei sinceramente ansioso para que a sessão começasse logo. Afinal, é bem meu tipo de filme de terror, ou seja, claustrofóbico e com o foco nos diálogos.
Outra curiosidade é que se trata de uma refilmagem de um filme de 1997 (ou de 1998, o release está tão mal escrito que não se decide – e se a própria distribuidora interessada na divulgação se recusa a pesquisar, eu me recuso a fazer isso por motivos ideológicos). Mas o engraçado é o seguinte: trata-se de um remake quadro a quadro e o diretor, Michael Haneke, é o mesmo nas duas versões. Será que não seria mais fácil e mais barato dublar o anterior para lançá-lo nos EUA? Vai entender os estadunidenses… Lembro de um desenho de TV onde a mulher quer assistir a um filme estrangeiro e o cara responde que, se fosse bom, teriam feito uma versão na língua deles. Deve ser assim mesmo que eles pensam.
O pior é que a refilmagem parece ser tão fiel que a sensação é justamente a de estarmos assistindo a um longa europeu. A qualidade da imagem não é lá essas coisas, os planos são longos e toda a pouquíssima violência acontece fora da tela. Aliás, um plano em especial é longo demais e fica justamente na pior parte da história, a mesma que custou metade de um Alfredo em sua nota. Mas vamos por partes.
Aposto que quando eu falei sobre a pouquíssima violência, você deve ter estranhado. Afinal, o bicho chama Violência Gratuita. Pois é, não se deixe enganar. Pelo menos fisicamente, existe muito pouca violência. Isso, contudo, não significa que o longa não seja aflitivo e aterrorizante. Tenha certeza que se você for vê-lo com uma moçoila, ela vai segurar sua mão com força em vários momentos, mesmo quando os personagens estiverem simplesmente conversando. Aliás, vá assistir a esse filme com uma moçoila! Isso acontece graças aos ótimos diálogos, aos personagens bem desenvolvidos e às ótimas atuações. Simplesmente todo mundo está bem, sem ser possível destacar ninguém.
Porém, por mais que eu não queira, também sou obrigado a falar dos defeitos. Ou melhor, do defeito. Passando da metade, ficamos um bom tempo, provavelmente algumas dezenas de minutos, sem saber nada dos bandidos. E acho que você concorda que, em um filme como esse, os assassinos não são simplesmente os protagonistas, mas também os personagens mais intrigantes e interessantes. E é justamente nessa parte que fica o tal plano longo demais que, como se não bastasse ser longo, ainda fica com a câmera parada e é praticamente livre de diálogos. Acredite, você vai saber quando chegar lá, até porque é quando vai começar a olhar o relógio e a bocejar. Mas não desista, pois tudo volta a ficar tremendão depois.
Inclusive, tem uma cena que acontece depois dessa parte que foi muito hell, yeah, bitch e me pegou completamente desprevenido. Infelizmente, eles anulam essa cena logo em seguida. Embora tenham feito isso de uma forma divertida, acredito que a história teria progredido de forma mais criativa se não o tivessem feito.
O parágrafo anterior, aliás, abre duas chaves para mais dois detalhes que quero citar aqui. O primeiro deles é justamente a diversão. Em determinado momento, um dos atores fala “não subestime o valor do entretenimento” e, de fato, o filme não comete esse erro. Digo isso, pois, apesar de contar uma história terrível e aflitiva, ele nunca abre mão do humor. Sou obrigado a admitir que ri mais aqui do que em muita comédia por aí (tipo aquelas duas que estrearam essa semana e cujas resenhas saíram aqui há poucas horas). Tudo bem que é sempre aquele sorrisinho sádico ou meio incomodado com algo, mas não deixa de ser um sorriso.
O segundo ponto é que o diretor brinca bastante com metalinguagem, artifício do qual sou um grande fã. Ou vai dizer que você não acha legal quando o vilão vira para a câmera e fala “você está torcendo para eles, não está?”. Eu acho mó legal! =)
Para terminar a resenha, falemos do final do filme. Fica frio, não vai rolar nenhum spoiler aqui. Falo por experiência própria que é bem difícil encerrar de forma satisfatória uma história como essa, por pura falta de opções. Afinal, ou eles matam as vítimas, ou as vítimas viram o jogo, certo? E ambas têm prós e contras distintos, mas capazes de fazer ou estragar o filme, dependendo de como for feito.
Pois então, a forma como Violência Gratuita termina até é legal, mas é meio que uma opção segura, já feita muitas vezes. Se você é escolado no gênero, sem dúvida já viu este mesmo final. Felizmente, este também é o tipo de filme que não deve ser assistido apenas pelo final, mas principalmente pelo miolo. E o miolo é bão. Tão bão que, se você não for ao cinema, não vou mais ser seu amigo. Então corra para a sala mais próxima de você. 😛