No início me pareceu estranha a ideia de uma prequência para Monstros S.A, mas agora, depois de assistir, percebi que faz sentido: quem era criança na época que o filme saiu – eu, por exemplo – agora está mais ou menos na faixa etária de um estudante universitário. E apesar de ser um prato cheio para as crianças, o alvo de muitas das piadas do filme somos nós, os crescidos.
De novo temos um filme que não chega à altura dos dias de glória da Pixar, mas se tratando de sequências, prequências e afins, acho que não dá para ficar melhor do que isso. Claro, ainda tenho esperanças numa continuação para Os Incríveis, mas já que o estúdio tem outra noção de prioridades, continuamos no aguardo. Mas calma, vamos devagar.
Antes de mais nada veio O Guarda-Chuva Azul, o costumeiro curta de abertura. Com o visual mais realista usado pela Pixar de que eu consigo me lembrar, ele é extremamente fofo, no mesmo clima do premiado Avião de Papel (aquele que veio junto com Detona Ralph), só que um pouco mais moderno. Uma graça.
Aí quando o filme começa de fato, nós somos levados de volta ao passado, para quando Mike Wazowski era só um filhote de monstro estupidamente bonitinho. Depois de uma excursão à Monstros S.A, o pequeno Mike decide que quer ser um assustador. Para conseguir isso, ele se dedica obsessivamente aos estudos, até conseguir uma vaga na prestigiada Escola de Sustos da Universidade Monstros. Lá ele conhece Jimmy Sullivan, um rapaz que, ao contrário dele, nunca precisou se esforçar muito, afinal, assustar está em seus genes. Eles rapidamente desenvolvem uma rivalidade (!), mas terão de superá-la pelo bem do futuro acadêmico de ambos.
A primeira coisa que agrada é o visual. O mundo dos monstros continua vibrante e colorido, mas agora as texturas estão especialmente caprichadas. Como antes, tem aqueles detalhezinhos legais no cenário, como o ônibus com um par extra de faróis ou os detalhes monstruosos da arquitetura da Universidade. Mas o mais legal mesmo é reparar nos alunos, com seus diversos tipos de chifres, dentes, asas, escamas, tentáculos, tudo tão detalhado e realista que impressiona. O pêlo do Sulley está tão melhorado que você vai sair do cinema querendo comprar o bichinho de pelúcia. Isso tudo fica ainda mais nítido em 3D, mas se você preferir dispensá-lo, também não será grande prejuízo.
A história também é boa o suficiente para te manter entretido. Um monte de clichês do gênero aparecem, mas em compensação, os personagens principais ganham um desenvolvimento bem atencioso. Especialmente o Mike, que já era muito amável, mas agora ficou bem mais complexo e aprofundado. Uma pena que o Randall não teve a mesma sorte, pois ele merecia ser mais importante para a trama. Outro ponto negativo foi a onipresente partezinha triste, que veio no momento de sempre. Mas fica fácil perdoar, já que logo depois vem uma cena muito, muito boa e realmente surpreendente. Não vou entrar em detalhes, mas quando você assistir, vai saber a qual eu me refiro.
Mas o que fez a balança pender de vez para o lado bom foi como o roteiro trata dos sonhos. Ele poderia até ir pelo caminho comum dos filmes infantis, que dizem que “você pode ser o que quiser, desde que acredite e etc”, mas quem já viu o primeiro sabe que o Mike nunca vai ser um assustador famoso. Através disso, o filme mostra que não importa o que você faça ou onde você estude, alguns sonhos de infância não se realizam. Às vezes você falha e tem de procurar outras opções.
A mensagem aqui é que não ser famoso e prestigiado também não significa ser fracassado. O importante é achar o que você gosta de fazer e fazê-lo da melhor forma que puder, e aí o sucesso é consequência. Não sei se é só porque eu estou passando por uma situação semelhante no momento, mas eu achei uma mensagem muito madura e muito positiva.
Os filmes originais da Pixar são sempre mais interessantes, mas já que veio mais uma sequência, pelo menos ela é bastante divertida. Então se você também ficou animado para voltar a Monstrópolis depois desses 12 anos, provavelmente vai sair do cinema satisfeito.
CURIOSIDADES
– O infame Michel Teló participa na dublagem nacional. Mas não tema: foi uma participação tão pequena que eu nem notei ao assistir e só fiquei sabendo quando li. Ele dublou um aluno que aparece tocando violão.
– Minha irmãzinha tinha essa teoria de que na cena pós-créditos seria revelado que Mike e Sulley estariam contando como se conheceram para uma versão crescida da Boo. Caso você ainda esteja alimentando alguma esperança, saiba que não é o caso, ela realmente não aparece aqui. Há uma cena depois dos créditos, mas ela nem é lá essas coisas e pode esperar pelo DVD, quando você poderá dar fast forward nas letrinhas. =P