Um Ato de Liberdade

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Nazistas são mais ou menos como o Jason. Sabe como, nos filmes da famosa entidade mística pintuda e invencível, sempre tem aquele momento que você acha que o paisano morreu, mas ele volta para uma última perseguição? Pois então, quando você acha que os filmes sobre nazismo do ano acabaram – pelo menos até a próxima temporada do Oscar – sempre aparece pelo menos mais um. E cá está ele. Aliás, eu diria que a produção cinematográfica estadunidense está para o nazismo como a nossa está para a trindade favela/nordeste/ditadura. Ou pelo menos para isso caminha.

Felizmente, Um Ato de Liberdade até varia um pouco na abordagem. Para começar, ele acontece na Rússia. Nas florestas dos vermelhinhos, para ser mais exato. Isso porque alguns dos judeus perseguidos decidem se esconder em meio à natureza. Lá, enquanto tentam recomeçar sua vida longe dos seus pertences, acabam criando uma nova sociedade, quase como uma utopia comunista. Em parte, a coisa chega até a lembrar um Bioshock menos inteligente.

Esse é justamente o ponto forte do longa. Ver os judeus trabalhando em conjunto para construir alojamentos, escolas e demais coisas essenciais para uma existência civilizada chega a ser tocante, mesmo o espectador já estando calejado por um tema tão saturado. Tem ainda uma excelente cena onde a patota de Moisés captura um alemão e, obviamente (afinal, são humanos), começam a torturá-lo e humilhá-lo. Isso é passado por cima e não rola a profunda discussão pela qual a situação implora, mas nos leva a pensar se o que separa um humano de um selvagem, no final das contas, é a oportunidade de agir como tal, quando protegido pelo seu próprio grupo.

Apesar da toada geral ser a de um drama oscarizável, no final rola uma cena de ação até legal, com direito a explosões e tudo. O problema é que ela se resolve de forma tão óbvia que me vi obrigado a tirar meio Alfredo da nota só por causa disso. Se você quiser saber, leia o parágrafo abaixo, mas fique avisado de que ele contém spoilers bem leves desse filme e de Wolverine (pois a exata mesma cena – inclusive com o mesmo ator – está presente nos dois).

Estragão: Qual é o maior clichê de uma cena de ação final? Quando tudo parece perdido, vem alguém à Han Solo, que tinha abandonado a turma anteriormente, e salva a pátria, certo? Isso acontece aqui. E sabe o que é pior? Três dias antes de eu assistir a este longa, rolou a cabine de Wolverine. E a cena final ali se resolve exatamente da mesma forma. E EXATAMENTE COM O MESMO ATOR! Caramba, dois filmes estreando em duas semanas seguidas em que o Liev Schreiber aparece do nada para salvar a pátria? Ou ele está fazendo campanha para ser o novo Superman ou Hollywood definitivamente precisa de sangue novo, tanto no roteiro, quanto na atuação. Fim do estragão.

Vale a pena? Considerando que se trata do gênero e do período mais explorado da história do cinema, até que é um bom filme. Porém, já é algo tão absurdamente saturado que simplesmente para justificar ser feito, deveria ser muito mais criativo. Talvez o dia em que fizerem um Testosterona Total ambientado na segunda guerra mundial, envolvendo judeus, nazistas, alienígenas e viagem no tempo, eu seja capaz de dar mais de quatro Alfredos para algo relacionado ao nazismo. Enquanto isso, três já é uma nota deveras generosa.

Curiosidades:

– Dados irrefutáveis da DataDelfos garantem que 20% de toda a produção cinematográfica mundial tem sua história acontecendo entre 1935 e 1945, com participação especial da turminha do Hitler e dos descendentes de Moisés. O mais triste é que teve tantas outras épocas mais propensas para justificar um longa na nossa história e pouquíssimas delas são aproveitadas. Há quanto tempo não se faz algo ambientado no Egito (dava até para mostrar judeus sofrendo nessa época, se os estadunidenses consideram isso tão essencial)? E na Grécia? Vikings ou a mitologia nórdica em geral? Existe algum filme relacionado à Atlântida tirando aquele desenho? Tantas opções, e mesmo assim o povo escolhe sempre as mesmas… tsc, tsc…

– Eu perdi a conta de quantas vezes e quantas variações já usei da frase do Terra dos Mortos na chamada de capa. Os roteiros do George Romero realmente se adaptam a qualquer situação. ^^

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
um-ato-de-liberdadePaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Nazistas<br> Elenco: Daniel Craig, Liev Schreiber, Jamie Bell, Alexa Davalos, Allan Corduner e Mark Feuerstein.<br> Diretor: Edward Zwick<br> Distribuidor: Imagem<br>