Tron – O Legado

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O que pensar de um filme 3D que começa com um aviso dizendo “este filme tem cenas 2D, mas por favor não tire os óculos durante a projeção”? Imagino a cara de um sujeito que pagou o premium pelo efeito 3D e logo de cara é brindado com isso. E, claro, Tron – O Legado, como tantos outros pseudo-3Ds, é basicamente um filme 2D em que você paga mais pelo ingresso para poder usar um acessório desconfortável sem nenhum benefício em troca.

Sinceramente, não entendo como as distribuidoras não se tocam que ficar lançando filmes em 3D convertido é dar tiros no próprio pé. O público vai aprender a evitar filmes em 3D e, quando finalmente o 3D de verdade se popularizar, vai ser muito mais difícil convencer as pessoas a pagar para vê-lo.

Mas o assunto aqui não é o mercado 3D, mas Tron – O Legado. Eu devo ter assistido ao original quando tinha por volta de três anos, então não é de se surpreender que eu não tenha memórias dele e, portanto, não vou comentá-lo aqui. Felizmente, O Legado é uma aventura bastante independente, ainda que traga possíveis e prováveis relações com seu antecessor.

Aqui conhecemos Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho do Kevin Flynn (Jeff Bridges), o protagonista do primeiro filme. Acontece que seu papis desapareceu quando ele ainda era piá e todo mundo acha que o velho está morto. Porém, um belo dia ele, o filho, acaba sendo sugado para um mundo dentro do computador e, quem diria, seu progenitor está lá. Agora eles vão encarar uma barra pesada se quiserem voltar para o mundo real.

Tron – Uma Odisséia Eletrônica é muito mais lembrado por causa dos efeitos especiais do que pela sua história. Tron – O Legado está fadado a ir pelo mesmo caminho, mas com muito menos carinho. Primeiro, por ser uma continuação deveras tardia. Segundo, porque seus efeitos especiais são excelentes, mas estão longe de serem inovadores hoje em dia. Terceiro, porque vivemos em uma época de trilogias e, por causa disso, me vi obrigado a dar três motivos e assim poder capitalizar o máximo possível neste parágrafo.

O visual é o principal trunfo deste filme, mas também pode vir a ser sua principal fraqueza. Ele é bem fiel à cara imortalizada pelo original, basicamente atualizando a parte tecnológica dos efeitos. O lado ruim disso é que, se Uma Odisséia Eletrônica tinha cara de futuro na época de seu lançamento, O Legado tem a maior cara de anos 80. E não sei você, mas eu acho um tanto estranho ver pessoas usando mullets em uma ficção científica de 2010. Para coroar essa vibe de anos 80, tem até Journey na trilha sonora. E nem é numa versão do Glee.

Mas ok, entremos na brincadeira. Ainda assim o visual é legal e os efeitos especiais são muito legais. Além disso, o design de som é nada menos que fenomenal. Eu sei, delfonauta, isso é algo técnico demais, que normalmente não é comentado nas resenhas delfianas, mas quero ver você não se empolgar na cena da guerra dos discos, quando sentir a percussão da trilha sonora tremendo no seu peito. Siga meu conselho: mais importante do que assistir a esse filme em um cinema 3D é assisti-lo em uma sala com som bem potente.

Pouco depois disso, ainda temos a famosa cena das motos. E a primeira vez que um desses clássicos veículos dá as caras é numa cena tão empolgante que não consegui me conter: levantei da cadeira, abaixei as calças e gritei “Gigante Guerreiro! Daileooon!”.

Cante comigo: ô-ô Galaxy! Ô-ô Galaxy!

Infelizmente, é exatamente depois dessa cena tão legal que o filme esfria, pois é a partir daí que a história começa a acontecer. E se tem algo que essa resenha nos ensinou até aqui é que Tron não é uma franquia cujo objetivo é contar boas histórias.

Pelo menos para mim, a história pareceu boba demais. Não consigo engolir essa ideia de que tem uma sociedade organizada vivendo dentro do meu computador e, se tiver, quero mais é que se exploda por essa sociedade ficar constantemente dizendo para mim “esse programa executou uma operação ilegal e será fechado”.

Talvez para os delfonautas que façam parte do lado geek da força, e especialmente para quem manja de programação, as coisas devem ficar mais interessantes. Para mim, todo aquele papo de isotônicos fontoura e salvamentos em disco soa extremamente entediante.

Isso não quer dizer que o filme não valha a pena. É divertido e tem seus momentos. Mas está perigosamente próximo de um filme nada. E o preço atual de um ingresso 3D simplesmente não permite que filmes nada sobrevivam. Especialmente se o 3D for convertido.