Toren

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Toren é um jogo brasileiro e o primeiro game a ser financiado pela Lei Rouanet. Mas, o que melhor caracteriza Toren é o fato de ser um jogo absolutamente belo, que alia elementos de games clássicos a uma história bastante singular.

A HISTÓRIA

O plot de Toren é ao mesmo tempo simples e complexo, e eu sugiro fortemente que você desconfie de resenhas que tentarem dar uma definição maior do que a que eu darei. Digo isso não porque sou melhor do que qualquer outro, mas porque a história de Toren é profunda demais para ser explicada em poucas linhas.

Para resumir bastante, nessa definição vou me ater apenas ao objetivo do jogo, sem entrar em detalhes da motivação dos personagens. Você controla A Criança da Lua (Moonchild), uma garota que deve subir a torre que dá nome ao jogo (Toren). O principal inimigo a tentar impedir a sua empreitada é o Dragão, que possui o poder de petrificar toda a vida ao seu redor.

Essa definição parece simplória – e de fato é – mas tenho um bom motivo para não ir mais além: Toren é um jogo essencialmente interpretativo, sendo fantasioso no melhor sentido da palavra. Ele que possui forte influência esotérica, sendo recheado de simbolismos e tendo como foco principal muito mais a imersão naquele mundo do que propriamente a história.

Um dos detalhes mais característicos do jogo é a árvore da vida, que cresce conforme você progride na história e te permite alcançar o topo de Toren. À medida que a árvore cresce, a Criança da Lua também cresce, indo desde bebê até a idade adulta. Isso é um detalhe bastante importante não pela história, mas por ser carregado de simbolismo, pois é possível ter tantas interpretações distintas desse mesmo elemento que fica claro que ele não está lá para servir apenas de suporte para a história.

ZELDA MEETS SHADOW OF THE COLOSSUS

Toren possui duas claras influências em seu gamedesign: a série Zelda e o jogo Shadow of the Colossus. Da série da Nintendo, o jogo brasileiro absorveu o estilo de exploração de ambientes, em especial dos jogos de Nintendo 64. Ainda que não haja grandes dificuldades na exploração e tudo seja bastante fácil, o estilo de combate (aguarde o golpe inimigo e ataque) é praticamente o mesmo, só que sem o escudo.

Já do clássico do Playstation 2 a principal inspiração foi a maneira de se conduzir a história. Lembra daquele estilo minimalista de Shadow of the Colossus, com personagens de poucas palavras e frases que confundem mais do que explicam? Então, é exatamente por aí.

Em Toren há um mago que te acompanha ao longo da história e que te explica o que acontece de fato naquele mundo. Acontece que ele fala de forma tão enigmática que é bem possível que você termine de falar com ele e não tenha entendido nada – o que não é um problema, como nós vamos ver daqui a pouco.

Além da subida na torre, você também pode jogar dentro dos seus sonhos, e é através deles que você fica sabendo mais de como Toren foi construída e o porquê de você estar destinada a subir a torre. Ainda que sejam opcionais, essas partes são as mais explicativas do jogo e ajudam a construir a experiência, sendo tão ou mais importantes quanto a subida em si.

Além dessas duas principais influências, também podemos dizer que God of War influenciou bastante o design do game, principalmente no que tange ao posicionamento da câmera. Em Toren, a câmera é fixa e muda sozinha conforme você avança no cenário, e na maioria das vezes ela se posiciona em locais que te possibilitam vistas incríveis, como ver toda a imensidão do céu ao redor da torre. Mas é claro que o jogo também tem os seus problemas.

OS PROBLEMAS

Na minha opinião, o principal ponto fraco do game é que ele não é tão grandioso quanto deveria ser. Ainda que seja algo compreensível, visto que estamos falando de um jogo independente, é fato que o visual mais contido diminui a experiência, que poderia ser ainda mais intensa. Por exemplo, é muito difícil acreditar que o Dragão é a maior ameaça do lugar pelo simples fato de que ele não assusta.

Outro problema menor foi a falta de transição do som quando você sai do mundo dos sonhos e volta para o mundo real. Não rola um fade in/out como é tradicional, a passagem é brusca, e esse problema se destaca justamente por todo o resto estar muito bem acabado.

E agora vou falar de algo que pode ser um problema para o average gamer, mas que para mim torna o jogo ainda melhor: a sua curta duração. Eu não conferi quanto tempo exato eu demorei para zerar, mas arrisco dizer que foi por volta de duas a três horas.

Para mim, a curta duração vale a pena pois o jogo é tão interpretativo que eu duvido que você tenha entendido tudo após zerar a primeira vez. Mas, justamente por ser curto, é bem possível que a primeira coisa que você fará assim que terminar vai ser começar uma nova campanha, para assim poder captar detalhes que antes passaram batidos. É como ler um poema: mesmo que você não entenda todos os elementos de uma só vez, como é curtinho você pode lê-lo de novo.

VALE A PENA?

Vale. E muito. Mas para isso é importante ter a mente aberta para o que está por vir. Toren é um primor muito mais pela experiência que cria e por captar a imersão que poucos games têm hoje em dia. O Corrales algum tempo atrás já falava de como os games como turismo virtual estavam em baixa, e Toren é um jogo que vai na contramão dessa tendência. Se você foi um dos que ficou embasbacado com Shadow of the Colossus na época do PS2, você não pode perder.

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