FOTO DA CAPA POR GUILHERME VIANA

Olá, eu sou o Guilherme e hoje serei o seu guia. Voltaremos juntos a uma época em que os arcades dominavam a Terra, que era um lugar muito diferente nas décadas de 80 e 90. Nazistas eram unanimemente considerados vilões, por exemplo.

Para quem não se lembra, ou ainda não estava por aqui: jogos de arcade eram sempre muito avançados e mostravam algo que seria inviável de rodar nos videogames caseiros contemporâneos.

CONVERSÕES

Desde sempre, porém, havia o conceito de conversões, ou ports: uma adaptação daquele jogo super avançado para o console da época. As primeiras, para o Atari 2600, exigiam muita abstração por parte do jogador para que o jogo fosse considerado o mesmo.

Posteriormente, na terceira geração de consoles (NES, Master System), a coisa evoluiu o suficiente para que as perdas não fossem tão grandes. Aliás, como ficará aparente na lista a seguir, alguns jogos se deram até ao trabalho de colocar alguns extras.

FLIPERAMA EM CASA

Vários recreios foram perdidos pelo autor tentando convencer os colegas de que a conversão do meu console era melhor do que a do deles, e a ansiedade pelas primeiras fotos da próxima conversão na revista era enorme, assim como a decepção quando seu console era “pulado” por aquele jogo aguardado.

TOP 15: MELHORES PORTS DE ARCADE PARA CONSOLES

Este texto começou como um Top 5, virou um Top 10 e acabou se transformando em um Top 15 porque eu tentei não ser injusto com vários jogos muito importantes, mas também porque queria colocar coisas além do óbvio. Vários deles têm conversões para outros consoles e computadores, mas escolhi e listei apenas a minha favorita.

Então, sem mais delongas, eis aqui a lista das quinze melhores conversões de arcade:

Pior conversão: Mortal Kombat 4 – Midway (Game Boy Color)

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Jogo original lançado em 1997 – conversão para Game Boy Color lançada em 1998

Feche os olhos e imagine que você trabalha na Digital Eclipse em 1998. É sexta feira, 17h. Você está olhando o relógio quando chega o seu chefe com um Game Boy Color em uma mão e com um arcade de Mortal Kombat 4 em outra (ele é mais forte que o normal porque, como falei, é um chefe, e todo mundo que jogou videogame sabe que chefes normalmente têm mais força e energia). Ele diz que você tem que fazer uma conversão de MK4 para o GB Color antes de ir embora e não pode fazer hora extra.

É a única explicação para o que aconteceu aqui. MK4 no Arcade é um jogo poligonal com 15 personagens e com algumas novidades como armas. MK4 no GB Color é um jogo 2D com alguns dos piores gráficos 2D já feitos, baseado na engine do MK3 do Game Boy, com nove personagens, sem armas e com fatalities em full motion video que precisam ser vistos para se acreditar.

De verdade, é muito ruim. Não faça como eu e compre o cartucho.

Fiquei entre colocar este ou o exclusivo Mortal Kombat 3 do Master que só saiu no Brasil. Também não faça como eu e compre o cartucho. 

Menção honrosa: The King of Fighters ‘96 (Game Boy)

The King of Fighters, Game Boy, Arcades, Arcade
Jogo original lançado em 1996 – conversão lançada para Game Boy em 1997

Sério? Um jogo de 362 megabits de NeoGeo convertido para um cartuchinho de meros 4 megabits para o Game Boy? Vou poupar o leitor de pegar a calculadora: o original tem 90,5 vezes mais memória. Isso sem entrar no mérito das 4096 cores simultâneas versus 4 tons de cinza e outros aspectos técnicos. Enfim, não dá para dizer que este é um port fiel, mas eu garanto, é uma conversão muito divertida e que vale a pena conferir. Alguns personagens foram cortados e todo mundo é miúdo, mas a jogabilidade é ótima e eu amo as versões 8 bits das músicas do NeoGeo. Dá até para jogar a dois no SNES usando o acessório Super Game Boy

Para não falar só deste, recomendo muitíssimo toda a série “Nettou” da Takara para o Game Boy, onde encontramos Fatal Fury 2 e Real Bout Special, Samurai Shodown 1 e 3, KOF 95 e 96, World Heroes 2 Jet e, finalmente, Toshinden

15 – Tower of Druaga – Namco (Famicom)

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Jogo original lançado em 1984 – conversão lançada para Famicom em 1985

Um jogo muito importante e que é pouco lembrado no ocidente. Tower of Druaga, mais do que qualquer outro jogo, influenciou de Zelda a Dark Souls com seu game design críptico e difícil. 

A versão de Famicom (este nunca saiu no ocidente para o NES) era muito fiel ao arcade e fez muitos consoles serem vendidos, pois o jogo foi uma febre no Japão. Um jogo que merece ser jogado até hoje em dia, mas usando um guia porque a coisa toda é mesmo muito obtusa.

14 – Rolling Thunder 2 – Namco (Mega Drive)

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Jogo original lançado em 1991 – conversão lançada para Mega Drive em 1991

Um dos meus jogos favoritos de Mega Drive também é uma excelente conversão de Arcade. É o primeiro da lista com fases extras em relação ao fliper. 

Comparando graficamente, dá para perceber que o jogo é menos colorido e mais simples no visual, mas não chegaria a dizer que é inferior, e sim diferente. A trilha sonora ficou super bem adaptada, e o mais importante, que é a jogabilidade, ficou perfeita. Considero uma versão superior à original graças aos extras.

13 – Rastan – Taito (Master System)

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Jogo original lançado em 1987 – conversão lançada para Master System em 1988

Uma coisa que os ports de Arcade para 8 bits perdiam feio era em qualidade gráfica, pois muitas vezes eram conversões de 16 bits. O Rastan original tem sprites grandões e coloridos, e os daqui não se comparam a ele. 

Dito isso, onde realmente importa, esta conversão é muito, muito boa, e tem até uma fase extra onde se enfrenta um dragão. Adoro as versões PSG da trilha sonora, mesmo elas perdendo a vibe Basil Poledouris do original. Talvez supere o arcade. O manual tem até uns desenhos de inimigas peladas para deixar bem clara a influência do filme do Conan de 1982.

12 – Double Dragon – Technos (Game Boy Advance)

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Jogo original lançado em 1987 – conversão lançada para Game Boy Advance em 2003

É hora de dizer uma triste verdade: Double Dragon do arcade não é um jogo muito bom. Não é à toa que as versões de NES são lembradas com mais carinho do que as originais. 

Este Double Dragon Advance não é fielmente uma conversão do arcade, já que tem a jogabilidade muito mais dinâmica e interessante, além de ter o dobro das fases. É a versão definitiva deste clássico e o melhor beat’ em up de Game Boy Advance.

11 – Gauntlet – Atari (Mega Drive)

Gauntlet, Mega Drive, Arcades, Arcade
Jogo original lançado em 1985 – conversão lançada para Mega Drive em 1993

Sempre fui grande fã do game design japonês, provavelmente porque foi o que cresci jogando. Gauntlet é um jogo americano, mas a versão do Mega, embora se chame Gauntlet 4, é um port japonês feito do primeiro versão arcade, com um incrível modo extra tipo RPG e um de batalha versus.

Para coroar o jogo, que no original não tinha músicas, temos aqui composições de Masaharu Iwata e Hitoshi Sakimoto, de Final Fantasy Tactics e outros. Superou e muito o original. Escolha o seu guerreiro favorito e divirta-se.

10 – The King of Dragons – Capcom (SNES)

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Jogo original lançado em 1991 – conversão lançada para SNES em 1994

Alguma coisa de beat’ em up da Capcom precisava aparecer por aqui, né? Todo mundo parece preferir o Knights of the Round, mas este foi o que tive nos anos 90 e eu passei a apreciá-lo bem mais. 

É precursor das adaptações de Dungeons & Dragons que a empresa fez em meados de 90, mas eu o acho mais simples e divertido. Todas as dezesseis fases do arcade e os cinco personagens estão aqui nesta conversão, mas com uma melhoria: aqui é possível dedicar um botão ao escudo, o que faz toda a diferença na jogabilidade. Apenas por esse motivo eu o considero superior ao arcade.  

9 – Golden Axe – Sega (Mega Drive)

Golden Axe, Mega Drive, Arcades, Arcade
Jogo original lançado em 1989 – conversão lançada para Mega Drive em 1989

Graficamente consegue ser mais coeso que o do arcade, onde os personagens se destacam mais que os cenários. A jogabilidade está idêntica e a trilha sonora, perfeita. Ainda tem uma fase extra no final, onde você entra no castelo e enfrenta um Death Adder turbinado que solta magias iguais às suas. Outro extra é o The Duel, um modo survivor antes de isso ser moda. 

De resto, é Golden Axe. Escolha entre o Conan, digo, Ax Battler e seus amigos, e dê espadadas ou machadadas até chegar ao final. É um beat’em up curto e intenso, cheio de atmosfera e que, para mim, envelheceu melhor do que a maioria deles, até por ser curto e não cansar. 

8 – Virtua Racing – Sega (32X)

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Jogo original lançado em 1992 – conversão lançada para 32X em 1994

Jogos de corrida da Sega. Será que tem alguém que não goste deles? Virtua Racing foi algo incrível para a época e, aqui, vimos que o 32X tinha potencial de fazer coisas muito legais em 3D. O port de Virtua Fighter dele que o diga. 

A versão de Virtua Racing do Mega já era boa, mas esta aqui tinha mais carros e até duas pistas a mais que a versão de arcade.

7 – Fatal Fury Special – SNK (SNES)

Fatal Fury Special, SNES, Arcades, Arcade
Jogo original lançado em 1993 – conversão para SNES lançada em 1994

Não seria uma lista minha se eu não enfiasse um jogo da SNK em algum lugar. Eu sou o primeiro a admitir que boa parte da magia da empresa vem da experiência audiovisual incrível que os jogos de NeoGeo têm, então uma conversão perde um pouco desse glamour, obviamente. 

Feita esta introdução, o port de Fatal Fury Special para o Super NES faz jus ao nome e é de fato especial. O jogo de arcade era uma versão muito melhorada de Fatal Fury 2, com mais personagens e combos, e esta conversão traz tudo isso, incluindo os dezesseis personagens (curiosamente, a versão europeia só tem doze porque foi feita em um cartucho menor). Durante um bom tempo, eu joguei bem mais este jogo aqui do que os Street Fighters da época. 

6 – Teenage Mutant Ninja Turtles: Turtles In Time – Konami (SNES)

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Jogo original lançado em 1991 – conversão lançada para SNES em 1992

Mais um da série “melhor que o arcade”, com fases usando efeitos exclusivos do SNES como a Neon Night Riders e seu Mode 7. Os controles são melhores e os gráficos e música não devem nada à versão original. Ok, seria muito bacana jogar a quatro, mas sendo realista, isso não existia em jogo caseiro nenhum na época. 

Um dos melhores beat’em ups do console. Também vale conferir o Hyperstone Heist no Mega Drive, que é uma adaptação nada fiel ao arcade mas que é quase tão bom quanto.

5 – Kung Fu Master/Spartan X – Namco (NES)

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Jogo original lançado em 1984 – conversão lançada para NES em 1985

Talvez a primeira conversão de Arcade para console que deixou todo mundo 100% feliz. Adaptado do original da Irem na Nintendo pelo próprio Shigeru Miyamoto, que disse ter se inspirado nele para fazer seu Super Mario Bros. Chama-se apenas Kung Fu na sua versão americana.

A jogabilidade é melhor ainda que a do Arcade, e é um jogo que diverte bastante até hoje. Só lembre-se de que os abraços aqui são mortais.

4 – Mortal Kombat II – Midway (32X)

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Jogo original lançado em 1993 – conversão lançada para 32X em 1994

Mortal Kombat foi um ícone cultural dos anos 90, e tenho a impressão de que a coisa aqui no Brasil foi ainda mais intensa do que lá fora. 

Mais importante do que jogar isso nos arcades, entretanto, era jogar no seu console que, sejamos realistas, era o SNES ou o Mega, e ambas as versões eram muito boas (e tinham sangue). Ninguém a não ser o Corrales tinha um 32X.

Para sorte dele, todavia, MK2 na expansão esquisita da Mega Drive era a melhor versão do jogo nos consoles, batendo até mesmo as de PlayStation e Saturno. Não tinha os gráficos idênticos aos do arcade, mas tinha todas as animações nos cenários (que o SNES não tinha), todas as vozes (no Mega faltavam várias) e a jogabilidade estava igualzinha (que no PS e Saturno era ruim).

3 – Soul Calibur – Namco (Dreamcast)

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Jogo original lançado em 1998 – conversão lançada para DreamCast em 1999

Um divisor de águas nas conversões de Arcade. Até Soul Calibur, se um port queria ser especial, ele colocava algumas fases extras ou alguns modos a mais. Se fosse uma conversão de jogo antigo era até natural que os gráficos fossem melhores que os originais. 

O que temos aqui, contudo, é uma conversão de um jogo que, na época, tinha apenas um ano de idade e a versão caseira é incomparavelmente mais bonita que o arcade. Dá até para dizer que foi o fim de uma era, porque os arcades começaram a morrer de vez, justamente porque, talvez, os consoles caseiros finalmente ficaram poderosos o suficiente para não fazer mais sentido a ideia de pagar para jogar fora de casa.

2 – Donkey Kong – Nintendo (Game Boy)

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Jogo original lançado em 1981 – conversão lançada para Game Boy em 1994

Este jogo foi um caso curioso. A Nintendo o lançou perto de Donkey Kong Country, que foi uma revolução gráfica na época, sem muito alarde e como se fosse um remake do arcade. 

É, talvez, o port mais generoso de um arcade já feito, a ponto de talvez nem dever ser considerado um. Além das quatro fases originais do arcade temos outras quase cem, todas com mecânicas muito legais. É meu jogo favorito de Game Boy e está sempre perto do topo das listas de melhores jogos daquela plataforma, senão de todos os tempos.

1 – Street Fighter II: The World Warrior – Capcom (SNES)

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Jogo original lançado em 1991 – conversão lançada para SNES em 1992

Não tem como fazer uma lista destas sem colocar este jogo no topo. Um dos maiores casos de “você tinha que estar lá para entender”. Ninguém falava de outra coisa nos recreios de 1992 e esta versão do SNES era idêntica ao arcade para os nossos olhos de pré-adolescentes.

Foi um jogo que impulsionou muito a venda de Super Nintendos mundo afora e, mesmo com versões melhores da série no próprio console (a versão Turbo é a minha favorita), não há como escolher outro jogo para cá. Alguma das revistas da época falou que os jogos de luta eram a Coca-Cola dos videogames. Pessoalmente eu concordo, e este é o sabor original dela.