Tokyo!

0

Pelo amor do Malebólgia! Será possível que não exista uma única e caridosa alma que consiga criar algo no cinema? É repetição de fórmula atrás de repetição de fórmula. A fórmula na qual Tokyo! se baseia é: vamos chamar diretores famosos para dirigir pequenos contos baseados em uma cidade.

Os três contos presentes aqui têm um quê de Lars Von Trier misturado a um nonsense light. Algo tipo um David Lynch mais leve.

Eu sei, delfonauta: nunca é uma boa se citarmos Lars Von Trier ou David Lynch e, pior ainda, se falarmos dos dois. E assim que percebi que iria por esse caminho, quando a mulher começou a virar uma cadeira, ainda na primeira história, comecei a bater a cabeça com toda a força na poltrona da frente na esperança de desmaiar e acordar apenas durante os créditos. Esse não é o Michel Gondry que eu conheço.

Infelizmente, isso não aconteceu. A segunda história, sobre um caboclo que sai do esgoto e arranja altas confusões em Tóquio não melhora muito a situação. Admito que, quando o senhor Merde e seu advogado ficaram conversando por uns dez minutos em uma linguagem fictícia, cheguei bem perto de cometer um suicídio ritualístico. Até comecei a desenhar um pentagrama no chão do cinema com meu próprio sangue.

Porém, logo que terminei de desenhar e constatei que, ao invés de um pentagrama sangrento, tinha feito uma linda estrelinha rosa, decidi olhar novamente para a tela e a terceira parte estava começando.

Essa falava sobre um sujeito que escolheu se isolar das outras pessoas. Aparentemente no Japão existe uma palavra para isso, Sayonara-San-Miyagi-alguma coisa. O carinha ficou mais de 10 anos sem sair de casa e sem olhar nos olhos de ninguém. Essa, finalmente, foi uma história com a qual eu pude me identificar e que acabou valendo o ingresso que eu não paguei. Ou pelo menos foi a impressão que tive, afinal, tinha acabado de perder muito sangue fazendo a estrelinha.

Vale a pena? Se você for fã do David Lynch, muito. Se você for uma pessoa normal, não. Se você tiver fobia social, apenas pela última história. Escolha seu perfil, compre o ingresso (ou não) e divirta-se. E não se esqueça de treinar como desenhar um pentagrama antes de sair de casa ou você também vai ficar decepcionado com seu desenho de mariquinha.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorVeja os Muppets fazendo cover de Bohemian Rhapsody
Próximo artigoJimmy Page faz show no Brasil
Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
tokyoPaís: França, Alemanha, Coréia do Sul e Japão.<br> Duração: 112 minutos<br> Diretor: Bong Joon-ho, Leos Carax e Michel Gondry.<br> Distribuidor: Califórnia<br>