O delfonauta dedicado, ou qualquer um que leu minha lista de melhores games da história sabe que eu sou um grande fã de adventures, afinal de contas, a primeira colocação na matéria em questão é justamente um representante do gênero.
Pois este gênero, que estava quase morto uns anos atrás, vem ganhando nova vida. Começou justamente com a Telltale voltando a fazer jogos na linha dos antigos clássicos da Lucasarts, mas acredito que foi com Heavy Rain que o gênero evoluiu.
A partir daí se tornou praticamente impossível você travar na história por não saber que tinha que combinar a galinha de borracha com a andorinha africana. Agora o foco era na história, não em puzzles obtusos. Seu caminho, em geral, era bem claro, e muitas vezes se limitava a escolher opções de diálogo.
Logo, a Telltale seguiu o caminho da Quantic Dream, começando com o elogiadíssimo The Walking Dead. Hoje falaremos de sua continuação, chamada de Season 2.
EPISÓDIOS
Devo admitir que eu não sou fã dessa moda de vender jogos em episódios. Eu prefiro pegar um jogo e ir até o fim, e isso se torna ainda mais vital quando é um jogo focado na história. Por isso mesmo, esperei sair a versão completa para PS4 para analisá-la com justiça, tendo a história toda em mente.
Caso você baixe a temporada completa hoje, também poderá jogar os episódios em qualquer ordem, mas por que você faria isso? É como começar a assistir a um filme pela metade. =]
SAVES DO PS3
Minha jornada com a temporada dois de Walking Dead começou com uma decepção. Eu joguei a primeira temporada e o episódio extra 400 Days no PS3. Porém, como estava jogando no PS4, meu save não foi aproveitado e todas as escolhas que eu fiz com todo o cuidado enquanto jogava foram randomizadas, causando várias contradições nos diálogos com o que de fato aconteceu.
Acredito que muita gente jogou o primeiro no PS3 e o segundo no PS4, o que deixa ainda mais estranho que a Telltale não tenha desenvolvido um sistema para ler os saves antigos. Convenhamos, estou passando do PS3 para o PS4 e meu save está até guardado na nuvem da Sony. Bastaria uma checada online, ou mesmo eu poderia colocar num pendrive para que ele pudesse ler. Com certeza isso é viável, não é como utilizar um save do iOS no PS4, concorda?
COMEÇANDO A HISTÓRIA
A temporada dois começa um tempinho depois do final da primeira. Clementine, agora controlada pelo jogador, está com Omid e Christa, mas obviamente essa paz não vai durar. Depois do bicho pegar, ela acaba se juntando a outro grupo e, até o final do quinto e último episódio, a mocinha vai conhecer muita gente nova, rever alguns velhos amigos e, o pior, ver muita gente morrer.
A Telltale definitivamente não economiza nas mortes nem no gore, e em cada um dos episódios morrem alguns dos personagens principais, o que deixa o jogador sem saber em quem investir, pois qualquer companheiro pode não estar mais vivo na cena seguinte. E isso é legal. Mantém a história sempre emocionante e o jogador sempre tenso, mesmo nos momentos mais relaxantes.
Durante a jornada, Clementine vai passar por momentos calmos e tensos, incluindo, no melhor dos episódios, uma passagem claramente inspirada pela cidade do Governador, inclusive com um líder tão parecido que poderia ser o próprio. Ao contrário da primeira temporada, na qual aparecem Glenn e Herschel, aqui não temos outros personagens da série de TV.
Os gráficos seguem o visual do gibi, com a diferença de que é colorido. Não é tecnicamente impressionante (afinal, o jogo roda até em celulares), mas é visualmente bonito, especialmente se você gosta dos desenhos do gibi.
COMO NA VIDA REAL
Caso você nunca tenha jogado um desses adventures modernos, a coisa funciona como na vida real. A história vai acontecendo meio que sem parar e você pode interferir em alguns momentos, criando a ilusão de escolha. Na maior parte dos casos, essa ilusão é apenas isso mesmo, o que vai acontecer vai acontecer de qualquer jeito, e sua escolha vai afetar apenas a próxima frase do diálogo.
Não vejo isso como um problema. É praticamente impossível contar uma boa história se ela tem dezenas de caminhos a serem seguidos. Da forma que é, inclusive, ela deve exigir muito dos roteiristas, que precisam escrever cada um dos diálogos várias vezes.
Com isso explicado, devo dizer que não ter importado meu save não estragou a experiência. A história desta temporada é bastante independente da anterior, e em geral as contradições aconteciam quando alguém se referia a um personagem homem morto na temporada anterior que no meu jogo foi uma mulher.
400 DAYS
Tirando isso, uma coisa que realmente me pegou foi o que rolou com o episódio especial 400 Days. Eu o joguei várias vezes para garantir que todo mundo fosse para o acampamento no final, e durante toda a temporada dois, vários dos personagens sequer apareceram. E os que apareceram, com exceção da Bonnie, que é bem importante, foram para falar umas duas ou três frases.
Isso é uma pena, pois o 400 Days é um dos melhores momentos da primeira temporada e eu gostaria muito de ver mais de alguns daqueles personagens, como o Vince (que só fez uma ponta aqui) ou o Wyatt, que sequer apareceu. Considerando quantos novos personagens aparecem por aqui, é uma pena que não tenham optado por dar mais importância para aqueles que foram introduzidos em 400 Days.
CHOOSE YOUR OWN ADVENTURE
Na temporada anterior, eu tentava fazer com que Lee fosse sempre o mais bonzinho e sensato possível. Dessa vez eu me liberei um pouco, permitindo que a minha Clementine tomasse algumas atitudes questionáveis, até mesmo indo atrás de vingança em alguns momentos. Em geral, eu escolhia coisas que acreditava que deixariam a história mais interessante.
Suas escolhas não têm um certo e um errado, cada uma das opções parece suficientemente sensata, o que faz com que você literalmente não saiba o que escolher em vários momentos. E as escolhas parecem confundir um tanto o próprio jogo. Por exemplo, tem uma hora que você escolhe se vai roubar ou não algo de um outro personagem. Eu escolhi não roubar, e mais tarde, esse mesmo personagem me acusou de ter roubado ele. Da fãc?
A história em geral é muito boa, mas se rende ao clichê de vez em quando. Coisas como personagens que parecem estar mortos mas não estão, indivíduos assassinados por alguém que é revelado no momento que a vítima cai e coisas do tipo.
Também não dá para não criticar o final dos episódios três e quatro, que praticamente cortam uma cena no meio. E o pior é que o quarto tinha até um final natural. Me surpreendeu quando ele não acabou ali, e ele teve mais uma cena só para fazer um cliffhanger totalmente desnecessário e cortar uma cena no meio. Isso são picuinhas minhas, mas em geral a história é muito boa e prende o jogador/espectador durante toda sua duração.
Outra coisa que quero elogiar são os troféus. Ao contrário da anterior, este não te dará o Platinum, mesmo que você faça 100%, o que é uma pena. Porém, cada um dos troféus acontece naturalmente, como parte da história, permitindo que você faça as escolhas que desejar, não as que os troféus te incentivam a fazer, como acontece nos jogos da Quantic Dream.
Também não posso deixar de elogiar a total inexistência de colecionáveis. É tão bom poder curtir um jogo sem se preocupar em ficar pegando porcariazinhas para ganhar troféus. Isso é algo que não deveria mais existir na geração atual.
ALGUNS BUGS E PROBLEMAS
The Walking Dead: Season 2 é altamente recomendável, porém esta resenha não estaria completa se eu não falasse de alguns dos seus problemas. Alguns deles são pequenos, como o fato de você ser obrigado a assistir aos créditos inteiros toda vez que um episódio termina. Não dá para pular, tem que esperar. E não vejo porque obrigar o jogador a ver a mesma coisa cinco vezes. Uma única vez no final do quinto episódio seria o suficiente.
Outro problema é mais um inconveniente: o tamanho do save, que beira os 70 Mb, um absurdo considerando quão valioso é o espaço no HD do PS4. Eu já acho ridículo que quase todos os saves de PS4 tenham 11 Mb, mas 70 é literalmente o maior save que eu já vi. E me lembro que os de PS3 dificilmente chegavam a 1 Mb, muitas vezes sendo de apenas 50 Kb.
Por fim, o pior dos problemas aconteceu no final: eu fiz um dos finais, mas não fiquei satisfeito com a minha escolha. Queria rebobinar e ver outros, e o sistema do jogo teoricamente te permite fazer isso, basta escolher um capítulo dentro do episódio, copiar o save para outro slot e jogar a partir dali. Porém, ao fazer isso, entrava em uma tela de loading eterna.
Eu tentei múltiplas vezes rebobinar meu jogo e o resultado sempre foi o mesmo, independente de qual slot eu escolhia para o save ou para qual capítulo rebobinar. É surpreendente que algo tão básico no sistema não tenha sido testado antes de lançar o jogo, e ainda mais que não tenha saído um patch para consertar isso até o fechamento dessa matéria.
OS MORTOS VIVOS
Falei do que tem de bom e do que tem de não tão bom, mas se você quer uma recomendação resumida, The Walking Dead: Season 2 pode não ser tão impactante quanto a primeira temporada, mas é algo que deve ser jogado por qualquer fã de adventures, e por qualquer um que tenha interesse em uma história interativa, especialmente se for fã de zumbis ou dos gibis que originaram a série de TV. E o fato de estar disponível para praticamente todas as plataformas existentes ajuda. Basicamente, se você tem um celular ou um computador, pode jogar. E deve!