The Matrix: Path of Neo

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Quando o primeiro jogo baseado na trilogia Matrix saiu, tive a curiosidade de ler algumas resenhas de fãs na Internet. Elas eram quase unânimes quando afirmavam: “Que Niobe o quê, queremos jogar com o Neo”. Analisando friamente, os problemas de Enter the Matrix iam muito além do que o personagem com quem você jogava. A jogabilidade era um tanto primária, confusa e mal-desenvolvida. O jogo era absurdamente pesado, mesmo tendo gráficos abaixo da média. Para piorar, a versão PC ocupava mais de 4 Gb dos pobres HDs que se aventurariam a jogar a ambiciosa aventura. Enfim, muito hype para pouco jogo. Apesar de tudo, para aqueles que conseguiam olhar através dos defeitos, ainda era possível se divertir bastante utilizando o bullet-time e enchendo de porradas acrobáticas um bando de guardas fracotes. Mas poderia e deveria ser melhor.

Justamente por causa disso, fiquei bastante ansioso quando foi anunciado que finalmente seria dada aos gamers uma chance de controlar o The One em pessoa. E se a fabricante Shiny tivesse aprendido com os erros de Enter the Matrix, tinha a possibilidade de ser um jogaço. Pouco antes do lançamento, fiquei sabendo que o dito-cujo tinha recebido o certificado de qualidade THX. Não conheço muitos jogos que foram honrados com o THX, mas o único que conhecia era o Medal of Honor: Pacific Assault, de PC, que levou minha máquina a níveis de gráficos e som que eu não sabia serem possíveis para um game. Expectativa? Para o teto, meu amigo.

Então, quando finalmente coloquei as mãos em um exemplar, um sonoro D’Oh ecoou pelo recinto. Os gráficos estão quase iguais aos de Enter the Matrix. A jogabilidade também continua igualmente desleixada, principalmente para aqueles que optarem por exterminar seus desafetos utilizando armas. O sistema de mira é um dos mais nojentos já vistos em um jogo e mesmo a luta mano a mano deixa muito a dever. Me fez perguntar quais são os critérios para se dar o certificado THX para um produto.

O combate usa apenas dois botões: um para ataque e um outro para agarrar. Você pode escolher entre simplesmente ficar apertando repetidamente o ataque (e ver a coreografia estilosa das lutas, que muda freqüentemente, mesmo apertando os mesmos botões) ou agarrar um elemento e fazer alguma coisa mais estilosa ainda. Não existem combos propriamente ditos, mas enquanto você está batendo em alguém, alguns botões vão aparecendo na tela que dão sugestões do que você pode fazer. Não digo que são combos pois são golpes e seqüências de golpes independentes. Quando acaba uma, Neo começa a outra, elas não estão naturalmente interligadas.

Mesmo o sistema de bullet-time é extremamente semelhante ao utilizado na empreitada anterior. Você aperta o botão de concentração (Focus) e tudo fica mais lento e seus golpes mais estilosos e poderosos. A única novidade em relação a quando controlávamos Niobe e Ghost é que agora, quando você dá alguns golpes específicos, o jogo faz automaticamente um bullet-time, o que dá um efeito bem legal. Esse efeito pode ser completado, caso você seja um maníaco como eu, utilizando a alavanca direita (ou o mouse, para quem jogar no PC) para mover a câmera da mesma forma que acontece nos filmes.

Ao contrário de Enter the Matrix, no entanto, seu medidor de Focus não se completa sozinho caso você fique um tempinho sem usá-lo. Para recuperar sua concentração, você precisa sair na mão com um inimigo, o que é péssimo. Sua energia também não se completa automaticamente. Ou melhor, em alguns momentos, sem motivo nenhum, você verá sua barra aumentando, no que parece até pau do jogo. Tirando essas situações aleatórias, você pode pegar os tradicionais medicamentos para se curar.

Uma outra grande decepção é que você joga com Neo, mas passa muito pouco tempo no caminho que você já conhece. A história abrange os três filmes (embora a única cena de Revolutions presente seja a luta final com Smith, cena da qual falarei mais em frente). Você joga por algumas cenas dos filmes, mas quase toda a história do jogo são extensões feitas nas situações apresentadas na tela grande. Chega a ser até estranho, pois não consigo entender como a fabricante não conseguiu transformar três filmes de ação em um único jogo com uma duração decente? E apesar desses acréscimos, Path of Neo é curtíssimo.

Mesmo as cenas dos longas que estão presentes são tão modificadas que você não se sente “jogando” o filme. A luta contra Seraph, por exemplo, é estendida para muitos outros cenários, inclusive um cinema, algo completamente desnecessário. A luta contra as dezenas de Smith, uma das mais esperadas de Path of Neo peca por não focar apenas na porrada, como acontece no filme. Para vencer os Smiths, você precisa ficar fugindo deles e batendo em prédios até derrubá-los. Um tanto frustrante, devo dizer.

O primeiro filme está aqui basicamente como um extenso tutorial (talvez o mais extenso já visto em um game), quase completamente desnecessário, já que a jogabilidade é bem rasa e simples. Reloaded é o que mais tem cenas presentes, embora a maior parte delas sejam as já citadas extensões. Uma delas, a parte onde você tem que escapar do castelo do Merovingian, é nojenta. Trata-se de um labirinto, onde você tem simplesmente que adivinhar o caminho certo. Estranhamente, as fases relacionadas ao Merovingian em Enter the Matrix eram as melhores do jogo. Revolutions, inexplicadamente, não tem nenhuma seqüência com o Merovingian ou com o Trainman. Não tem nem extensões. O jogo pula do final de Reloaded para a luta final com Smith, onde tem um acréscimo bem engraçado. Não vou estragar o que é, mas vale dizer que, para aqueles que venceram Smith na luta semelhante à do filme, aguardem mais uma batalha. Uma que vai fazer os fãs de tokusatsus especialmente felizes.

Esse jogo foi uma grande decepção. Porém, apesar de ter falado mais dos defeitos que das qualidades, Path of Neo é um game bem divertido e vale a pena ser jogado por aqueles que gostam dos filmes. O maior erro dos Wachowskis no ramo dos games foi ter licenciado uma franquia com tanto potencial para uma fabricante sem a experiência necessária. Fico pensando na miséria que uma EA faria com uma franquia dessas. Infelizmente, acredito que isso vai ficar apenas no mundo das idéias.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
the-matrix-path-of-neoAno: 2005<br> Gênero: Porrada Estilosa<br> Preco: R$ 99,00<br> Plataforma: PC, PS2, Xbox<br> Fabricante: Shiny<br> Versao: PS2<br> Distribuidor: Atari<br>