Unir elementos eruditos ao Heavy Metal não é exatamente uma novidade. Inúmeras bandas de Power Metal e algumas outras bandas mais progressivas já navegaram por este mar e desbravaram tais terras. Eis que em pleno 2015 surge um projeto ambicioso chamado The Gentle Storm e seu primeiro trabalho, The Diary.
A tempestade suave vem da união dos poderes da vocalista holandesa Anneke Van Giesbergen e do igualmente holandês Arjen Lucassen. A vocalista, famosa por seu trabalho no The Gathering e com uma carreira solo bem-sucedida, arrumou tempo para integrar um trabalho interessante, diferente e ousado. Confesso que meu conhecimento sobre o Arjen Lucassen estava restrito ao Ayreon (uma ópera rock metálica. daquelas com um monte de vocalistas famosos).
The Diary é um disco conceitual e narra a história fictícia do casal Joseph e Susanne durante o Século XVII. Joseph trabalha na Companhia Holandesa das Índias Orientais e parte em uma longa missão deixando sua amada Susanne em Amsterdam e grávida do primeiro filho do casal. A base da história são as correspondências trocadas pelo casal e o diário de Susanne. As letras foram escritas por Anneke e as músicas compostas por Arjen. O disco é duplo e conta com as 11 composições gravadas em duas versões gentle e storm. As versões gentle destacam aspectos eruditos e folclóricos enquanto as versões storm imprimem um pouco mais de peso a cada uma delas.
Pois bem, The Diary é uma audição interessante justamente por sua concepção. Gostei bastante da ideia de trazer composições com duas roupagens diferentes. É como ver a mesma história se desenvolver com novos personagens. Ao mesmo tempo, senti que as versões storm poderiam ter ficado um pouco mais pesadas para marcar melhor o contraste.
Chega a ser engraçado perceber que algumas faixas funcionam melhor na versão tempestuosa – como The Storm – e outras na suave – como Eyes of Michiel. A tônica do álbum é abraçar a veia épica típica de uma ópera rock. Ambas as versões funcionariam bem na trilha sonora de um filme de piratas regado a rum e muito ahoy. Destaque positivo para faixas como Endless Sea, Shores of India (pegada que até lembra o Ravi Shankar), Cape of Storms e New Horizons.
Exaltar a competência dos músicos envolvidos chega a ser redundante, mas é impressionante (principalmente para quem acompanha os trabalhos da Anneke) como a vocalista está em um estágio da carreira em que se permite transitar por outros estilos e experimentar coisas novas sem que isso afete todo o seu legado.
The Diary é um grande trabalho e vale a pena tanto para os fãs dos músicos envolvidos como para os curiosos em busca de algo relativamente diferente. O álbum ganhou uma versão nacional lançada pela Masque Records.