Quando pensamos nos adventures clássicos hoje, imediatamente nos lembramos dos jogos da Lucasarts, que sem dúvida foram os mais populares nos anos 90. Uma série que as pessoas não lembram muito é a do detetive Tex Murphy, que estreou vários jogos, inclusive um que eu joguei bastante que se chamava The Pandora Directive.
Admito que fazia muito tempo que eu não pensava em The Pandora Directive, mas jogando The Assembly ele vinha à mente frequentemente. Na verdade, o primeiro jogo que ele me lembrou mesmo foi Alone With You. Afinal, você passa boa parte do tempo explorando uma instalação vazia, basicamente tentando encontrar chaves e senhas que dão acesso a áreas trancadas. Só que, se Alone With You é um point and click mais tradicional, aqui a visão é em primeira pessoa. Daí a semelhança com The Pandora Directive, o mais marcante adventure em primeira pessoa que eu joguei.
DUAS HISTÓRIAS
Há dois protagonistas, com capítulos intercalados, ambos se passando ao mesmo tempo na tal da Assembly que batiza o game. A Assembly é uma organização de pesquisa privada e secreta e, por isso, não é presa a ideologias morais. Desta forma, conseguem fazer grandes avanços onde cientistas mainstream ainda encaminham.
A primeira protagonista que você vai conhecer é a Dra. Stone, que tentou salvar sua mãe de uma doença fatal com um tratamento experimental. Tentar é a palavra-chave aí, pois a progenitora bateu as botas, levando nossa amiga a conhecer desgraça pessoal e profissional. Ela foi sequestrada pela Assembly para uma entrevista de emprego, que consiste em vários testes, tanto de moral quanto de lógica. Cada capítulo nessa história é um desses testes, mas a dúvida paira sobre sua cabeça o tempo todo: “e se após os testes você resolver que não quer o emprego?”.
O segundo protagonista tem uma história mais complexa e cheia de reviravoltas. Trata-se de Cal, um veterano na Assembly que começa a questionar as atitudes da organização. Ele decide a reunir provas, escapar com elas dali e botar a boca no trombone.
Se os capítulos da rapariga são basicamente puzzles autocontidos, os do rapaz são aqueles que mais se aproximam de um adventure propriamente dito. Você vai abrir gavetas, ouvir gravações, ler e-mails e pegar um monte de itens que vão ao mesmo tempo servir de provas para cumprir seu objetivo ou permitir que você chegue mais perto de sair dali.
Se há desafios mais simples, do tipo pegue uma amostra e coloque no microscópio, também há outros que testam sua inteligência e conhecimento geral em ciência. Curiosamente, é difícil encontrar um guia para o jogo online, então fatalmente vai ter soluções que você não vai conseguir resolver. Curiosamente, algumas mais focadas em ciência podem ter suas respostas encontradas no Google, mas não em guias sobre o jogo, mas em trabalhos científicos mesmo. Pois é, se procuras por um jogo cabeça, não procure mais, The Assembly é feito para você.
PENSADO PARA A REALIDADE VIRTUAL
The Assembly é um jogo pensado desde o início para a realidade virtual. Seu visual é bem simples e até low-res, o que é comum em VR, mas um tanto feio para jogar na TV. Sua interface também é claramente planejada para a tecnologia, com menus que são escolhidos ao você olhar para eles.
Infelizmente, a versão que eu testei foi a de Xbox One, justamente a única que não tem suporte a VR. Com certeza a experiência em VR deve ser bem mais envolvente, mas sempre tem aquele medo de causar enjoos, já que é um jogo no qual você se movimenta bastante através de longos corredores. Não posso dizer se é o caso aqui ou se, assim como Resident Evil 7, eles conseguiram evitar o problema.
O que posso dizer é que, se a interface e o primeiro capítulo do jogo me fizeram pensar que ele não faria sentido algum em 2D, esta preocupação sumiu em pouco tempo, assim que eu comecei a me envolver na história e nos puzzles. Basicamente, se você tem a possibilidade de jogar em VR, jogue, mas se puder jogar apenas no Xbox One, ainda assim The Assembly merece ser jogado.
NÃO É MAIS UM WALKING SIMULATOR
Admito que pela divulgação do jogo, eu esperava que The Assembly fosse um walking simulator. Não é o caso, ele é realmente um adventure, e um tão difícil quanto os antigos, especialmente se você se recusar a procurar as soluções na internet. Há puzzles em quantidade e qualidade considerável por aqui, e uma história bacana e envolvente, ainda que um tanto mais solitária do que a que normalmente vemos no gênero, uma vez que são raros os momentos em que você vai poder conversar com alguém.
The Assembly é altamente recomendado para qualquer um que goste de uma boa história levada por puzzles e com um clima solitário.