Não sei exatamente o motivo, mas desde que ouvi falar deste filme pela primeira vez, ele ganhou minha simpatia. Talvez seja pelo nonsense absurdo do título ou talvez simplesmente porque eu mesmo gostaria que chovesse hambúrguer de vez em quando.
Seja como for, aqui conhecemos um simpático nerd chamado Flint Lockwood. Desde suas mais tenras primaveras, ele teve um sonho: tornar-se um cientista e resolver os problemas da sua cidade. Depois de muitas invenções fracassadas, inventa uma máquina que consegue transformar água em alimentos. Pouco depois, não vai chover só hambúrguer, mas macarrão, bife e, numa das cenas mais mágicas do cinema recente, nosso amigo faz nevar sorvete! *_________*
Aí entra o lado ruim da coisa. A história é a mais óbvia possível, no típico esquema Steve Screenwriter (fazia tempo que não falávamos dele por aqui). O negócio é tão óbvio que não dá para imaginar que alguém passou mais de uma hora escrevendo isso. É aquele velho esquema tudo dá certo, depois tudo dá errado, lição de amizade, final mega feliz. E só falo dessa forma para não spoilerar por aqui, mas tenha certeza que você vai adivinhar, passo a passo, todas as confusões do barulho dessa turminha criativa pra cachorro.
“Mas como assim, ó, ditador supremo? Como podes dar tantos Alfredos para uma história tão clichê e sem graça?”, deve estar perguntando meu capcioso leitor. E eu respondo: elementar, caro delfonauta. Existem muitas outras qualidades aqui. E a principal delas é um humor extremamente afiado.
Temos aqui, talvez, o longa mais engraçado do ano. Mesmo nas partezinhas tristes, rolam piadas e a grande maioria delas funciona muito bem. E, em alguns dos melhores momentos, não é exagero dizer que você vai soltar lágrimas de tanto gargalhar.
Além do humor, ainda temos uma deliciosa dose de fofura como não se via desde Wall-e. O design dos personagens é excelente e cheio de charme. Gosto, principalmente, dos dois cujos olhos ficam cobertos (o pai do protagonista e o médico guatemalteco). Boa parte das piadas, inclusive, vai para esse lado do “óun”, o que deixa tudo ainda mais especial. O momento em que a menininha olha para o “sapato” do Flint e exclama sobre a utilidade deles é muito cuti. E você só vai saber o porquê assistindo.
Complementando tudo isso, temos um nerd pride como há muito não se via, não apenas pelo casal de protagonistas, mas pela própria história focada na personalidade nerd deles. Sabe, por exemplo, como nos filmes de adolescentes, sempre tem aquela menina nerd e feia que, ao soltar o cabelo e tirar os óculos, vira uma beldade? Você sempre achou que isso a deixava apenas mais genérica e tirava completamente o charme? Eu também. E, aparentemente, os roteiristas deste desenho também, pois a transformação pela qual a garota Sam passa é exatamente o contrário. Ou seja, ela coloca óculos e prende o cabelo. E, ao aprender a aceitar sua nerda interior, se torna ainda mais bonita.
Com humor afiado e personagens legais e bonitinhos, a história (realmente) fraca não chega a estragar tudo que o filme tem de bom. Se você é nerd, gosta de animações ou passou a infância sonhando em ser um cientista louco (ou, mais provável, os três), não tem nenhuma desculpa para não assistir. Esqueça a história e divirta-se com as piadas. E sonhe com o dia em que vai começar a chover ruivas com bacon. Hum… tá chovendo ruivas…