Muita expectativa se formou em torno deste novo lançamento do Symphony X, já que o último álbum de inéditas, The Odissey, foi lançado no longínquo 2002. Nesse meio tempo, tiveram a oportunidade de excursionar com grandes nomes, como Megadeth e Dream Theater na Gigantour, e se dedicar a projetos paralelos (em especial, o vocalista Russel Allen que lançou seu Atomic Soul em 2005 e também uma bem-sucedida colaboração com Jorn Lande).
Após um longo tempo, começaram a surgir notícias sobre o novo álbum, que seria baseado na obra poética Paraíso Perdido, de John Milton, e portanto teria um direcionamento musical mais sombrio e agressivo. Após um belo atraso nas gravações, finalmente o álbum é lançado. E felizmente a espera valeu a pena.
Em Paradise Lost, o Symphony X entrega aos fãs exatamente o que eles gostariam de ouvir – com alguns aprimoramentos. A introdução Oculus Ex Inferni, por exemplo, remete aos trabalhos anteriores de Romeo, mas percebe-se claramente que suas habilidades como compositor progrediram desde os tempos de V e The Odyssey. Com direito a corais, variações de dinâmica e ambientação, poderia figurar facilmente em algum filme ou no jogo mais recente da série Castelvania.
Quando começa o riff de Set the World on Fire (The Lie of Lies), a sensação de deja-vu permanece. Sim, é o mesmo Michael Romeo de sempre, mesclando as influências neoclássicas a outras mais obscuras, pesadas e “Panterosas”. O mesmo pode ser dito da sessão rítmica formada por Michael LePond e Jason Rullo, e dos teclados de Michael Pinnella. Mas na hora que Russel Allen assume os vocais, vem a surpresa, pois seu timbre está bem mais rasgado e a interpretação, mais agressiva! Mas o bom gosto para melodias ainda permanece, como se pode conferir no refrão. Durante a música, surgem os elementos característicos do conjunto: mudanças de andamento e duelos de teclado e guitarra, com Romeo e Pinnela trocando licks impossíveis. Conta também com um final pontuado pelo coral sombrio, que aparece como um tema recorrente do álbum.
Domination inicia com uma linha de baixo ao melhor estilo Sea of Lies, dando lugar para as guitarras, teclado e bateria “quebrando tudo”, caindo depois num ritmo cadenciado, com mais um show vocal de Russel Allen, mostrando que pode não apenas cantar melodias que grudam na cabeça, como também lançar mão de berros que assustariam o próprio Phil Anselmo. (“GET DOWN ON YOUR KNEES!”)
A próxima música, The Serpent’s Kiss, é a mais diferenciada do álbum. Os vocais graves e ritmos tribais do verso, e as viradas de bateria e guitarra chegam a lembrar Tool, mas não é nada que vá assustar os fãs mais cabeça-dura, pois o refrão é daqueles típicos do Symphony X. Daí para frente, a música toma vários rumos diferentes até o final do solo, para retornar ao “Coral do Paraíso Perdido” e novamente à levada de bateria do verso, com Romeo fazendo uma linha de guitarra bem diferente de seus padrões. Não é à toa que The Serpent’s Kiss foi escolhida para ser o primeiro videoclipe da banda.
Hora de acalmar os ânimos, com a balada que dá nome ao álbum. Paradise Lost segue a tradição das baladas clássicas do conjunto, como The Accolade e Communion and the Oracle, com uma atuação irrepreensível de Pinnella e, mais uma vez, do senhor Allen, numa interpretação mais contida e melancólica, mas explodindo nos momentos certos, como no trecho que vem logo após o solo (“So I’ve cheated and I’ve lied/ Been the victim of foolish pride/ And I’ve begged and I’ve crawled/ And I’ve battle and bled for it all/ So I savor the downfall/ Of paradise”).
Na sequência vem Eve of Seduction, com um riff neoclássico que poderia ter aparecido em Twilight in Olympus, mas que logo muda para uma variação mais pesada, anternando entre momentos calmos e agressivos, terminando num refrão “feliz”. Outra música típica da banda.
A atmosfera de trilha sonora retorna em The Walls of Babylon, iniciando com uma introdução “oriental” até crescer e explodir num Prog violento (com os corais característicos mesclados ao instrumental), com uma demonstração explícita de técnica por parte da banda, em especial do baterista Jason Rullo. Após mais de três minutos de espera, aparecem os vocais de Russel Allen, novamente agressivos, arriscando até alguns agudos. Faz sentido, já que esta faixa é a mais Metal e “épica” do álbum. Ainda assim, é intrincada e repleta de solos.
Seven é outra faixa com um clima neoclássico, tanto pelas referências de teclado e guitarra quanto pela velocidade do baixo e bateria, porém com uma pegada bem mais pesada do que o usual para uma faixa do estilo. Cheia de passagens complicadas, vai se tornar uma das favoritas de quem gosta do que o Symphony X fazia nos primeiros álbuns. Como o esperado, Romeo e Pinnella fazem a festa aqui (mas deixam um breve espaço para LePond executar um solo de baixo).
Mesmo com todo o peso proeminente de Paradise Lost, houve espaço para colocar mais uma balada, Sacrifice, em mais um momento inspirado de Michael Pinnella e Russel Allen. Apesar do início calmo, a faixa logo ganha contornos mais “nervosos”, com uma performance à Broadway do vocalista e arranjos orquestrais, com um belo final acústico de Michael Romeo.
E falando em final, Revelation (Divus Pennae ex Tragoedia) é a canção escolhida para fechar o álbum. Uma escolha acertada, já que ela sintetiza todos os elementos de Paradise Lost: partes pesadas, instrumental elaborado, corais e clima “cinematográfico”. Ela também faz citações à clássica faixa The Divine Wings of Tragedy, do disco homônimo, não apenas no nome em latim, mas também em trechos da música. Um encerramento apropriado, que marca uma fase nova para a banda, mas sem deixar de atualizar o seu legado e apresentá-lo para novas gerações de ouvintes. Que venha o próximo, e que demore bem menos, por favor! Enquanto isso, Compre o álbum aqui.