Se você acompanha a página do DELFOS no Facebook, já sabe que esta resenha não chega exatamente nas circunstâncias ideais. Entretanto, não poderíamos permitir o absurdo que seria deixar o DELFOS sem uma resenha do novo Star Wars. Afinal de contas: a força é forte no Alfredo.
Já não bastassem as turbulências políticas e econômicas do ano de 2015, assisti ao Episódio VII na Madrugada do dia 17 no clima pós-apocalíptico causado pelo bloqueio do Whatsapp. Ainda bem que descobri como fazer ligações com o celular no meio do caminho para casa. Assim, consegui garantir o debate de alguns pontos do filme com alguns amigos.
A RECONCILIAÇÃO COM OS FÃS
A ideia de dar sequência à saga original de Star Wars não encontra dificuldades somente no desenvolvimento de uma trama após os acontecimentos do Retorno de Jedi. A necessidade de atender aos anseios dos fãs combinado com a obrigação de respeitar, homenagear e não tripudiar o legado da trilogia original era de longe o maior obstáculo imposto à produção deste novo longa.
O respeito pelos Episódios IV, V e VI se manifesta tanto no tom utilizado pelo filme quanto no status mitológico adquirido por figuras como Luke Skywalker, Han Solo e a General – outrora Princesa – Leia. O Despertar da Força é o exemplo de um filme-homenagem que deu certo. A exaltação ao passado está lá até nos pequenos detalhes.
O Episódio VII é o ponto de reconciliação com os fãs após as frustrações recentes com os Episódios I, II e III. Há a composição na medida certa entre efeitos práticos e o realismo dos cenários com o digital. Apesar disso, ele está longe de ser uma espécie de redenção; é um grande filme e com certeza um dos melhores do ano. Mas o mistério em torno da trama foi o seu maior ativo.
Lembremos: nós sempre soubemos qual seria a conclusão dos Episódios I, II e III e o exagero nos efeitos especiais e atuações questionáveis talvez tenham deixado às coisas mais desinteressantes. Neste contexto, o Despertar da Força responde muito bem às dúvidas e teorias geradas a partir dos trailer/teasers, mas o objetivo é reintroduzir o público a este universo, dar espaço aos novos personagens e até plantar seus próprios mistérios.
Aliás, o ponto forte do filme é justamente o desenvolvimento dos novos personagens Finn e Rey a partir das diferenças na personalidade de ambos. Outro mérito é a correta dosagem no tempo de tela de uma infinidade de personagens icônicos. A sensação de “passagem de bastão” de uma geração antiga para a nova é o que legitima e diferencia o Despertar da Força de uma simples fanfic.
A trama – apesar de todo o mistério – não é inovadora dentro do universo Star Wars, mas constitui as bases para um caminho ousado que poderá ser seguido pelos vindouros Episódios VIII e IX. E qual outra franquia na história do cinema pode se dar ao luxo de resumir tudo em poucos segundos com a mesma abertura?
Em um determinado momento, Maz Kanata (personagem de Lupita Nyong’o) qualifica a batalha contra o lado negro como a única existente. Trata-se de um aviso claro: a franquia não vai abandonar a dualidade que a consagrou.
HOUVE UM DESPERTAR
Os pontos negativos do filme estão em algumas pontas soltas do roteiro relacionados ao Poe Dameron – aliás, um personagem subaproveitado. A sequência do ataque da Primeira Ordem (o correspondente Neonazista do Império) ao vilarejo de Jakku chegou a me incomodar pelo tom caricatural; parecia uma mistura de Dogville com Dragon Ball. Mas não são questões capazes de retirar os cinco Alfredos merecidos.
Senti que houve uma decepção generalizada com o vilão Kylo Ren, os trailers/teasers talvez tenha exacerbado sua figura vilanesca para além do que de fato é. A atuação de Adam Driver até deixa a desejar em certos momentos, mas é recompensada em cenas mais dramáticas. Há uma inversão interessante na forma que o personagem se coloca diante da dinâmica de ambos os lados da força.
O destaque fica para o Finn. Dotado de personalidade cômica e com origem inédita nos filmes, o personagem de John Boyega rouba a cena com suas interações com Rey, o dróide BB-8, Han Solo e Chewbacca. São momentos em que a força é realmente forte no filme. A falta de diversidade na trilogia original recebe a resposta correta com o protagonismo de um personagem negro.
O marketing intenso em torno do Despertar da Força causou a falsa impressão de que ele poderia ser uma espécie de resposta a todas as questões do universo. Entretanto, ele nos alerta corretamente de que se trata de uma introdução e coisas maiores estão por vir.
No balanço geral, fica a sensação de estarmos diante de um verdadeiro filme da saga Star Wars (e a vontade de comprar um BB-8), mesmo após todas as incertezas dos rumos que a franquia poderia tomar com sua mudança para a casa do Mickey. Agora é esperar pelos rumos desta nova fase.
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