Desde que Severed saiu para Vita em abril de 2016, eu tenho muita vontade de jogá-lo, e desde então ele saiu em muitas plataformas, mas nenhuma que eu tivesse. Por que tanta vontade de jogá-lo? Ora, trata-se do mais recente jogo da Drinkbox, a desenvolvedora que lançou o tremendão Guacamelee!, um dos melhores metroidvanias já lançados. E ele parecia uma continuação espiritual de Guacamelee!, incluindo a ambientação mexicana e os gráficos em low poly bonitaços. Se liga no estilo!

Severed, Delfos
Bonitão, né?

Quando eu estava nos EUA uns meses atrás, estava namorando um iPhone, e enquanto fuçava na loja, vi que o produto de display tinha Severed instalado. Desde então, eu tinha a ideia de comprá-lo eventualmente. Não era meu ideal, jogar Severed em um telefone, mas parecia ser minha única chance de experimentá-lo. Felizmente, ele acabou saindo de surpresa para Switch, e agora sim eu poderia jogá-lo como gostaria. E melhor ainda, podia fazer este review que você está lendo.

DECEPADO

Foram pouquíssimos os jogos com controle touch que eu considero que ganharam algo com isso. Quando ainda jogava meu DS, sentia que parecia uma obrigação usar a touch screen, mas isso sempre piorava o jogo. Acredito que, tirando NintendogsTrauma Center, não joguei nada no DS que tenha usado bem a possibilidade do toque.

Severed, felizmente, é mais um a entrar nessa seleta lista. No Switch, ele só pode ser jogado no modo portátil. Isso a princípio pode parecer meio chato, mas não demora para ficar bem claro o motivo: ele simplesmente perderia muito se você controlasse um cursor na tela e não tocasse diretamente onde deseja atacar ou mexer.

A história é bem simples. Você controla uma moçoila que teve um braço decepado e cuja família desapareceu. Bora procurar pelos pais e irmão ao longo de uma terra mágica e deveras perigosa.

Severed, Delfos
Por um bom tempo, você só verá sua família neste quadro.

São pouquíssimas cutscenes e muito raramente você encontra com um NPC que vai falar com você. O foco aqui é na exploração e na ação, mais até do que foi em Guacamelee!Severed consegue duas façanhas. A primeira é ser um metroidvania roots em primeira pessoa, o que acredito que nunca tinha visto antes. A segunda é uma que Guacamelee! já tinha conseguido: tudo indica que será um joguinho simples e leve, mas é na verdade um jogaço complexo e de alto envolvimento.

Não que ele seja especialmente difícil de terminar ou de aprender, mas tem sabores e complexidades dignos de um jogo AAA.

SQUISH, SQUASH

Sua movimentação é mais limitada do que o tradicional em um jogo em primeira pessoa. Você basicamente anda em casas, como se fosse um jogo de tabuleiro. Um toque para cima na alavanca faz avançar uma casa, enquanto incliná-la para os lados faz olhar ao redor. As duas alavancas têm a mesma função, tornando o jogo apropriado para destros ou canhotos, e abrindo também a possibilidade dos controles tradicionais de primeira pessoa, com a esquerda movimentando o personagem e a direita girando.

O foco é bem na exploração e nos segredos, mas tem bastante ação também. E o combate é muito legal. Você ataca basicamente riscando a tela. Riscos longos são mais fortes. Com o tempo, você libera também um ataque carregável e algumas magias, mas o forte é mesmo no risca risca.

Severed, Delfos
Risca prum lado, risca pro outro.

Existe uma enorme quantidade de inimigos, e cada um deles exige uma estratégia bem diferente. É claro que eles vão começar a aparecer em quantidades plurais e combinando vários tipos, obrigando você a criar uma estratégia, escolhendo quem atacar primeiro. O hud é muito útil, mostrando em qual direção estão os desafetos e quando eles vão atacar, possibilitando defesa.

O bacana é que seu objetivo não é despachar todo mundo o mais rápido possível. Há uma barrinha de foco que se enche com combos, e é de seu interesse enchê-la antes de matar qualquer monstrinho. Acontece que, com a barra cheia, você ganha a possibilidade de desmembrar a galerinha, e cada membro pode ser usado para comprar upgrades.

Severed, Delfos
Um monstrinho sendo desmembrado.

Assim, a estratégia é atacar primeiro o inimigo que permite combos longos, mas tomar cuidado para não matá-lo antes de encher a barra. Se ele estiver para morrer e a barra não estiver cheia, ataque outro e assim por diante. Dê o golpe final apenas no momento apropriado para maior ganho.

É um combate diferente e muito divertido. Depois de uma luta contra vários inimigos de uma vez, é comum você respirar e pensar “caramba, eu fiz isso?”. Ao mesmo tempo, embora os combates fiquem bem complexos ao longo da campanha, os checkpoints são frequentes, evitando que o jogo fique frustrante.

METROIDVANIA

Obviamente, temos aqui um metroidvania, o que significa que você vai encontrar muitos segredos e itens que não pode pegar ainda. Os upgrades são frequentes e se você quiser passar novamente por cada área sempre que adquirir algo novo, seu tempo de jogo será bem aumentado.

Severed, Delfos
O que diabos ela está comendo?

Os dungeons são bem complexos, e têm um level design excelente, que combinam perfeitamente puzzles e combates. Depois de algumas horas de jogo, você estará controlando o sol, entrando em portais e cegando inimigos. Ou seja, o negócio nunca fica estagnado. E, claro, quando você completa cada uma das fases, vai encontrar um chefe enorme.

Severed, Delfos
Tipo esse.

As batalhas com os chefes são interessantes, exigindo um bom uso de todas as habilidades que você adquiriu até então. Eu só gostaria que elas fossem mais curtas. O amiguinho da foto acima, por exemplo, deve demorar uns 20 minutos para finalmente tombar diante da minha epicidade. Tipo, não foi difícil, eu matei de primeira. Só foi demorado.

SEVERED

Severed não é um jogo extremamente longo, mas tal qual Guacamelee!, é marcante e divertido durante toda sua duração. É ao mesmo tempo bem diferente do trabalho anterior da Drinkbox, mas agradavelmente familiar. Pense em IcoShadow of the Colossus e você vai ter uma ideia do clima de “continuação espiritual” que temos aqui. Se você gostou de Guacamelee!, dê um jeito de jogar Severed. E, se não jogou nenhum dos dois, jogue, pois são dois jogaços!

REVER GERAL
Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
severed-switch-reviewDisponível: Vita, Wii U, 3DS, iOS e Switch. Analisada: Switch<br> Desenvolvedora: Drinkbox<br> Editora: Drinkbox<br> Gênero: Metroidvania em primeira pessoa com touch-screen<br> Lançamento: 26 de abril de 2016 (Vita), 22 de setembro de 2016 (Wii U, iOS), 13 de outubro de 2016 (3DS), Switch (8 de agosto de 2017)<br>